15 de agosto de 2012, um dia histórico - Editorial

Por Marisa Arruda Barbosa

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Depois de anos de frustrações em relação à imigração, podemos chamar o dia 15 de agosto como um dia histórico.

Mesmo que a ordem executiva de Barack Obama, para parar deportações de jovens menores de 30 anos e que estejam nos Estados Unidos desde antes dos 16 anos, seja um alívio temporário e não uma solução permanente para esses jovens, os dois próximos anos poderão ser decisivos para pelo menos 1,7 milhões de jovens indocumentados.

Esses jovens, que receberão permissão de trabalho e, com isso, terão mais chances de estudar em universidades, poderão sentir o prazer de viver sem medo de deportação e poderão ser tratados com igualdade. Ao mesmo tempo, como citamos um sociólogo na matéria sobre o assunto, na página 28 desta edição, para os Estados Unidos, isso dará uma solução parcial ao “desperdício de talentos”.

Para exemplificar isso, nada como falar das Olimpíadas de Londres que terminaram no último final de semana. De acordo com o American Immigration Council, 38 dos atletas americanos já dependeram das leis de imigração desse país e, hoje, representam os Estados Unidos em um dos símbolos mais patrióticos para uma nação, ao receberem medalhas. Esse é o caso da corredora jamaicana, Sanya Richards-Ross, que conquistou ouro, e de muitos outros, sem contar os treinadores imigrantes, o que aumentaria esta lista ainda mais. Veja matéria na página 15.

O que seria dos jovens atletas olímpicos se não tivessem tido a oportunidade de imigrar para os Estados Unidos? Ou melhor, o que seria dos Estados Unidos se não tivessem dado esta oportunidade a eles? A imigração é uma via de mão dupla.

Outro estudo divulgado nesta edição, na página 29, demonstra o significado desse momento histórico. O Center for Immigration Studies concluiu, em um estudo detalhado, que os imigrantes contribuem para o aumento da população de baixa renda nos EUA. Isso se explica pelo fato de que o imigrante vem para os Estados Unidos para trabalhar e, geralmente, para oferecer uma vida melhor para sua família. Isso não se dá pela falta de esforço no trabalho, mas sim pela falta no sucesso escolar. Já os filhos desses imigrantes, estão frequentando universidades, o que está fazendo com que esses números mudem gradualmente.

Claro que, por ser um “alívio temporário”, a medida iniciada no dia 15 está mais do que longe da perfeição. Milhares de jovens, que acreditam ser elegíveis à medida, estão dizendo ter medo. Ao fim de uma administração marcada por recorde em deportações, que foi o caso da presidida por Obama, nada mais natural do que o receio. Esses jovens se perguntam se realmente é uma boa ideia sair da sombra e enviar informações à imigração. Outros, sugerem que o real Dream Act, o projeto de lei, não pode mais esperar.

Nessa edição, também apresentamos aos brasileiros um mineiro que vive em Key Largo e é candidato ao Congresso americano (veja matéria na página 26). Esta será a primeira vez que um brasileiro terá a chance de representar seus compatriotas, especialmente os indocumentados. Entre suas propostas, José Peixoto diz ficar feliz com o primeiro passo dado, com essa medida de Obama. Mas, se um jovem tem 15 anos, por exemplo, e sua família está em deportação, será que ele conseguirá desfrutar dessas oportunidades caso seus pais sejam deportados? Pais deveriam também se beneficiar através dos filhos, segundo o candidato.

Mas, isso é para o futuro, e o importante é que mais de um milhão de jovens indocumentados terão grandes oportunidades nos EUA nos próximos dois anos.