40 anos depois, Flórida pode reviver chegada em massa de indocumentados

Por Arlaine Castro

Entre abril e outubro de 1980, 125 mil cubanos chegaram ao sul da Flórida com as roupas nas costas, amontoados a bordo de qualquer coisa que pudesse flutuar para fora do porto de Mariel. A maioria estava disposta a fugir da tirania de Fidel Castro, aproveitando sua súbita oferta para deixá-los partir. Um pequeno número era de emigrantes involuntários - criminosos (incluindo dissidentes políticos) e doentes mentais que Castro pretendia que fossem problemas para os Estados Unidos. Washington e Tallahassee não foram avisados e lutaram para lidar com o problema. A ajuda demorou a chegar. O governador da época, Bob Graham, declarou uma emergência. O presidente Jimmy Carter designou quatro bases militares para abrigar alguns dos “Marielitos”, como vieram a ser conhecidos, mas longos atrasos no processamento levaram à desordem em dois deles: a Base Aérea Eglin, em Panhandle, e o Forte Chaffee, no Arkansas. Mariel mudou profundamente a demografia e a característica do sul da Flórida, onde entre 60.000 e 80.000 dos “Marielitos” se estabeleceram permanentemente, de acordo com a Florida Memory, um site do governo estadual. Em seis anos, a maioria encontrou emprego e prosperava. Por terem fugido de uma ditadura comunista, os EUA permitiram que eles ficassem. Bem. Passados os quase 40 anos na história, a Flórida pode reviver essa chegada em massa de imigrantes. Isso porque, na semana passada, um aviso da U.S Custom and Border Protection (CBP) aos condados de Broward e Palm Beach de que iriam receber, sem nenhuma preparação, centenas de imigrantes que aguardam detidos na fronteira com o México o pedido de asilo nos EUA, pegou até republicanos do estado de surpresa. Embora não tenha sido confirmado pelo próprio presidente Trump, o governo está pensando sim, num plano para aliviar as condições na fronteira do Texas, e que este poderia incluir o envio de cerca de 1.000 imigrantes por mês para os condados do sul da Flórida. Mas, os três principais republicanos da Flórida: o governador Ron DeSantis e os senadores Marco Rubio e Rick Scott, não gostaram muito da surpresa. “Não podemos acomodar na Flórida o despejo de migrantes ilegais em nosso estado”, disse DeSantis. “Eu acho que isso vai sobrecarregar nossos recursos, nossas escolas, a saúde, a polícia, as agências estaduais”. Do outro lado da mesa se posicionou Mary Bauer, vice-diretora jurídica da Southern Poverty Law Action Center, que aponta a realidade da Flórida como estado acolhedor. “(...) podemos mostrar ao resto do país e ao mundo que somos melhores do que a atual administração presidencial, estendendo a mão de boas-vindas a esses recém-chegados e ajudando-os de uma forma que o governo Trump se recusa a fazer”, disse. Ou seja, se Trump está “fazendo disso um jogo” pensando na reeleição em 2020, isso pode lhe custar muitos votos da Flórida. *Texto adaptado do Editorial “Using migrants as pawns, Trump poses a challenge to our humanity”, publicado no dia 19 de maio pelo jornal Sun Sentinel.