Controle de armas: não há momento melhor para politizar o tema do que durante campanha presidencial - Editorial

Por Marisa Arruda Barbosa

[caption id="attachment_94708" align="alignleft" width="300"] Grupos locais e nacionais de igrejas e membros da comunidade se reuniram no dia 4 para rezar em um memorial criado no local em que ocorreu o massacre no Umpqua Community College, no Oregon. Foto: Marcos Yam/Los Angeles Times/TNS[/caption]

Mais um massacre na última semana reacendeu o debate sobre a violência com armas de fogo nos Estados Unidos. Em muitos programas de TV e rádio após o massacre, foi possível ver, assim como nos outros casos parecidos, o quanto esse assunto divide opiniões no país.

Enquanto ativistas pedem por maior controle para que um indivíduo tenha uma arma, outros falam em mais armas para nos deixar mais seguros.

A cada momento em que se fala em mudanças nas leis que governam as armas nos Estados Unidos, a indústria apresenta índices de aumento em vendas.

Desacreditados, ativistas e mesmo o presidente Barack Obama passam a implorar por mudanças na lei. Quando 20 crianças foram mortas em Sandy Hook, nada foi feito, assim como nenhuma atitude foi tomada depois de tiroteios em bases militares, cinemas e mesmo uma igreja. Como disse Obama, de certa forma isso está virando rotina no cotidiano dos americanos.

Desde o ataque em uma escola no Colorado, no dia 1º, que deixou nove mortos mais o atirador, vários pontos têm sido levantados. Entre eles está, é claro, conforme o próprio presidente Obama pediu, a “politização” da tragédia, ou seja, que volte em pauta a discussão pela mudança das leis das armas.

Em um programa de rádio, uma psiquiatra deixou claro que o que diminuiu o número de acidentes de carro no país não foi somente o cinto de segurança ou a melhoria das estradas, mas um conjunto de fatores. Em relação às armas, o mesmo deve ser feito.

Em casos de perturbações mentais, por exemplo, foram citadas leis existentes na Califórnia que permitem que familiares façam “ordens de restrição” de uma pessoa com um problema e armas. Ou seja, um familiar pode ir à corte e pedir que seja proibida a venda de arma para uma pessoa que sofre de depressão, por exemplo. Pede-se também maior verificação de antecedentes criminais, principalmente em vendas online e em “gun shows”; limitação na capacidade das armas vendidas, assim como munição.

Estamos no mês da conscientização do câncer de mama, quando instituições, médicos e pacientes lutam pela cura da doença, que mata aproximadamente o mesmo número de pessoas que em incidentes envolvendo armas de fogo nos EUA. O caminho para a mudança começa na consciência de cada um.

Muito poderá ser feito, a começar com a criação de uma data para a conscientização sobre a violência das armas de fogo. Em uma década, de 2004 a 2013, 93.502 pessoas foram mortas por armas de fogo.

Um convidado do programa de rádio fez uma interessante comparação do fetiche das armas no país com o cigarro. Até pouco tempo, assim como em relação às armas de fogo, a ideia de fumar cigarro tinha a ver com liberdade pessoal, até descobrirmos que a pessoa fumando perto das outras não só estava se matando, como matando as pessoas ao seu redor, assim como o risco das armas de fogo. É uma cultura que precisa ser mudada para que haja interesse político.

Claro que, como sempre, o que mais move montanhas no mundo é o interesse político. Será que já não é chegada a hora de aproveitar, nessa corrida eleitoral, e realmente “politizar” o tema, cobrando dos candidatos um posicionamento sério sobre o assunto?