A comunidade que não retorna - Opinião

Por Carlos Borges

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A cada renovado contato com os brasileiros que vivem fora do Brasil, especialmente quando ainda se discute muito os movimentos recentes de retorno ao país, a conclusão que chegamos é que, esse movimento sensível à melhoria das condições de vida e trabalho em nosso país, existirá sempre.

Da mesma forma que, independente de quais sejam essas novas condições de vida no Brasil, há uma parcela cada vez maior de brasileiros no mundo que, ou permanecerão vivendo nos países onde já residem ou, se mudarem, irão para outros países.

Muitos fatores contribuíram para que, entre 2009 e 2011, parcelas significativas de imigrantes brasileiros retornassem ao Brasil. O impacto da propalada melhoria de condições e qualidade de vida em nosso país, encantou a milhares que, por sua vez, enfrentaram situações problemáticas, extremas até, nos países em que residiam.

Três das maiores comunidades brasileiras no exterior foram mais afetadas.

No Japão, onde chegaram a estar residindo legalmente mais de 320 mil brasileiros, a redução dessa população chegou a até 30%. O ponto mais baixo desse declínio foi o início de 2011.

No Reino Unido, onde, segundo estimativas oficiais, vivem 180 mil brasileiros legalizados e outros 200 mil imigrantes ilegais, o declínio teria sido de quase 40%.

Aqui nos Estados Unidos, onde até 2008 as estimativa oficiais apontavam para a existência de 1,5 milhão de brasileiros, dos quais uma grande maioria ainda indocumentada, o movimento de retorno variou de acordo com as características econômicas e socioculturais de cada região.

Foi muito grande em estados como Connecticut, Nova Jersey e Massachusetts, maior ainda em regiões como São Francisco (Califórnia) e Atlanta (Geórgia), mas teve impacto menor em regiões como o Sul da Flórida, Nova York, Los Angeles e Utah, onde o perfil da imigração brasileira tem especificidades bem distintas.

Houve até casos de comunidades brasileiras que cresceram vertiginosamente nesse mesmo período, como em Orlando e Las Vegas. Aí, a necessidade de uma plataforma voltada para o turista brasileiro gerou, nao só o ressurgimento de padrões já vistos em décadas passadas, como até uma ampliação desse quadro.

O ano de 2012 tem sido um ano de reversão - lenta, gradua e segura - dessa tendência, e os fatores nada tem de emocionais. Pelo contrário. São de um pragmatismo total.

Que o Brasil melhorou, economicamente, isso não há dúvida. Mas é também inegável que a melhoria da economia brasileira se refletiu em áreas importantes e específicas, como a dramática ascensão das classes mais pobres para a, hoje chamada, “nova classe C”, acrescentando 38 milhões de novos consumidores e revolucionando o comércio, a indústria e os serviços.

Esse impacto, entretanto, não resultou em possibilidades concretas para os brasileiros que retornam ao país depositem anos tentando uma vida melhor no exterior. Muito pelo contrário. Os depoimentos de uma esmagadora maioria dão conta de uma enorme frustração, explicada por inúmeros fatores.

O que o mercado de trabalho brasileiro quer, no momento, são profissionais qualificados, em áreas que os imigrantes brasileiros “retornados” nao podem preencher.

Significa que o “novo Brasil” é uma falácia? De forma alguma. O “novo Brasil” existe para milhões e, aos trancos e barrancos, vai mesmo se firmando como uma potência relevante - ainda que marotamente relutante em seu papel e responsabilidades globais - mas não é o “Nirvana para repatriados”, como tantos desejariam que fosse.

Sempre apostamos e provamos que o “vai e vem” do imigrante brasileiro é cíclico e difícil e sempre ficou patente que, nem mesmo um longo período de estabilidade da economia brasileira fez com que o processo de saída de milhares de brasileiros rumo ao exterior, seria relevantemente interrompido.

Vou mais longe: as comunidades brasileiras no exterior não só seguirão existindo, como crescerão e se multiplicarão, saindo dos nichos atuais para se fazerem presentes em dezenas de países. Este é um inequívoco efeito do novo papel do Brasil no mundo, das novas possibilidades e de um novo quadro.

Alguém tem dúvida do que vai acontecer quando os Estados Unidos passarem a não exigirem vistos de entrega para brasileiros? Quem viver e sobreviver, verá.