A culpa que nos persegue

Por Adriana Tanese Nogueira

caught-1013896_1920
Você é o tipo de pessoa que pede desculpas o tempo todo? Que agradece quando deveria ser agradecido? Que fala baixo quando deveria se fazer ouvir? Que questiona seu direito a qualquer coisa por medo de “incomodar” os outros? Se você é esse tipo de pessoa, saiba que seu problema é culpa. Você está se sentindo culpado. Pelo quê? Você mesmo pode não saber. É muito provável que não haja nenhum motivo aparente, que nada tenha acontecido recentemente ou nada com aquela pessoa e naquela situação. Entretanto, você se comporta como se você estivesse carregando uma culpa que te tolhe o direito de ser, de ter, de conseguir, de querer, de obter, de poder. Esta culpa vem de algum lugar do qual você perdeu a memória. Você tem objetivos e vontades, seus desejos são fortes e determinados e, entretanto.... algo te bloqueia. Sem querer, sem perceber você se sabota, falha o compromisso, perde tempo, dinheiro, energia, foco. Você briga com você mesmo, mas não resolve nada. Algo te segura, na última hora, algo indefinível e sutil, mas terrivelmente efetivo! O que é? É culpa. Carregar uma culpa significa que se pecou, que estamos manchados por um pecado que cometemos e, portanto, precisamos penar, nos purificar, pagar. Carregar uma culpa significa não merecer. Não merecer dinheiro, felicidade, amor, realização, paz de espírito. A doutrina cristã é uma das fontes mais antigas e consolidada que fala e explica a culpa. A culpa de ter desobedecido a Deus. Mas na vida individual de cada um, onde está essa culpa? Pagar por algo que nem sabemos o que é não faz sentido. Ninguém quer isso. A vida passa e nos atrasamos o tempo todo. A psicologia traz algumas explicações. Em primeiro lugar, a culpa pode vir de não nos sentirmos merecedores de viver porque nossa mãe não nos quis, ou ela estava ocupada e distraída demais para cuidar de nós, porque fomos um fardo... Em segundo lugar, a culpa pode vir de um pai que não prestou atenção na gente e nos fez sentir invisíveis. Não merecíamos fazer parte da família. Também tem a culpa que vem do ser diferente, desde a família. Diferentes com relação àquilo que a família queria de nós, até mesmo, por exemplo, que não incomodássemos. E nós “incomodamos”... porque precisávamos deles – como toda criança. Depois tem a culpa que vem do ser diferente dos amigos, do grupo social: ter uma outra forma de ser, de pensar, de sentir, de passar o tempo. O social exercita um profundo efeito nivelador, massificador e, portanto, castrador. Tudo o que não cabe dele é desvalorizado e negado (é a amplificação do que começou em família). Quando se possui alguma característica que não se enquadra no nosso ambiente social e que não conseguimos reprimir sem custos altíssimos para nós, eis que somos culpados por rompermos a harmonia do grupo, o “barato” dos outros. Mais fundo ainda há culpas que vêm de outras vidas, tanto porque carregamos essas mesmas culpas acima mencionadas que viraram uma bola de neve, tanto porque podemos ter acabado fazendo algo que nos custou a vida, ou custou a vida a outras pessoas. Numa análise histórica objetiva poderíamos descobrir que não necessariamente o que fizemos ou deixamos de fazer seria considerado um pecado, uma falha, uma irresponsabilidade. Talvez não houvesse alternativas... ou talvez sim. Fato está que do ponto de vista subjetivo, individual e íntimo de cada um o que aconteceu é percebido como culpa. Nada é mais doloroso e tirano do que nosso dedo acusador contra nós mesmos. A culpa permanece pela eternidade afora até que... Até que não tenhamos a coragem de enfrentar esse “monstro” interior – talvez para descobrir que por trás das aparências assustadoras tem um gatinho precisando de colo. Mas enquanto isso, irá agir como um trickster que atropela tudo de melhor que queremos alcançar.