A Cura De Dois Mil Anos Atrás Para A Ansiedade

Por Adriana Tanese Nogueira

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Sêneca (4 a.C. ca. – 65 d.C.), um grande filósofo estoico da Roma Antiga, dois mil anos analisava essa nossa tendência humana a nos concentrar nos aspectos negativos das situações e a nos preocupar excessivamente com as coisas. “Os animais selvagens – escreveu ele – fogem aos perigos que encontram na realidade e, uma vez salvos, não se preocupam mais com eles. Nós, ao contrário, nos atormentamos tanto com o passado como com o que está por vir. A nossa ‘benção’ acaba se tornando um prejuízo, pois a memória nos devolve a agonia do medo, e a nossa capacidade de previsão a provoca prematuramente.” Com a presença maçante da internet em nossas vidas, estamos constantemente informados sobre tudo. E, infelizmente, as notícias ruins são as que mais chegam. Nosso pensamento é dicotômico, pois tudo se resume em “bom” ou “ruim” e assim catalogamos os eventos em duas grandes pilhas, sendo a segunda a mais alta e assustadora. O negativo, de fato, chega de todo lado e abarca sobre inúmeros assuntos que trinta anos atrás estariam completamente fora do horizonte de nossos pensamentos e emoções. Sabendo do que acontece nos quatro cantos do mundo acabamos por desenvolver uma ansiedade difícil de administrar, porque muita absolutamente vaga e imprecisa, porque relacionada a situações e lugares que nada têm a ver conosco. Acabamos por sermos atropelados por informação demais, tendo já cada um de nós seus próprios problemas para resolver. Nosso estar atualizados acaba por significar estarmos cientes de inúmeras catástrofes acontecendo por todo lado – o que só aumenta a angústia diante do futuro e de possíveis perigosos para o nosso presente. E assim o nosso cotidiano é poluído por mais preocupações que não têm bases reais em nossa vida concreta, nos tirando energia e ânimo. Sêneca, tendo observado os hábitos humanos muito antes da internet, nota que eles são frequentemente autodestrutivos e que estamos constantemente na expectativa de algum desastre. Ele dizia que “algumas coisas nos atormentam mais do que deveriam; outras nos atormentam antes de acontecer; e outras ainda não deveriam nos atormentar nunca. Temos o costume de exagerar a tristeza, imaginá-la ou antecipá-la tristeza.” A sugestão dele era: “Não seja infeliz antes que chegue a crise, pois é possível que os perigosos pelos quais sofre por antecipação nunca aconteçam.” É interessante que naquela época não existia social media, nem internet, nem TV ou jornais, mais certas características humanas eram as mesmas. Precisamos, dizia ele, saber distinguir entre preocupações razoáveis e preocupações insensatas, e aprendermos a não desperdiçar nossa preciosa energia mental e emocional com as últimas. É provável que algum problema aconteça de verdade (pois sempre há alguma coisa, não é mesmo?), mas não é um fato presente. E além disso, reflete, Sêneca, “Quantas vezes não ocorreram imprevistos? Quantas vezes você esperou por algo que não aconteceu? Apesar de poder acontecer, para que serve gastar nossos recursos mentais num sofrimento antes do tempo? Soframos quando os eventos ocorrem, enquanto isso vamos olhar para frente buscando melhorar as coisas. O que se ganha com isso? Tempo. Muitas outras coisas poderão acontecer, coisas que podem atrasar ou mesmo eliminar o problema. Inclusive, a sorte é volúvel, às vezes acontece, outras não. Enquanto isso, se concentre nas coisas boas.” Conclui o filósofo, “a verdadeira felicidade é aproveitar o presente sem os condicionamentos ansiosos do futuro. Não nos distrairmos com esperanças ou medos, mas permanecemos tranquilos, como quem não deseja nada. As maiores benções da humanidade estão dentro de nós, e são perfeitamente alcançáveis. Uma pessoa sabia está contente com a sua sorte, qualquer que seja, sem desejar o que não tem.”