A importância da arte e cultura na formação humana

Por Carmem Gusmao

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[caption id="attachment_99853" align="alignleft" width="300"] Guernica, de Picasso, representa o sofrimento do povo espanhol durante a Guerra Civil.[/caption]

Esta semana me deparei com uma notícia que me deixou muito triste e extremamente reflexiva. Numa pesquisa da federação do Comércio do Rio de Janeiro (Fecomercio/RJ) foram coletados os seguintes dados: • 92,5% dos brasileiros não costumam ir a exposições de arte; • 91,2% não vão a espetáculo de dança; • 88,6% não frequentam o teatro; • 80,6% não vão a shows; • 73,71% não vão ao cinema; • 70,1% não leem livros. Bom, deu para perceber que a vida cultural da grande maioria da população é quase nula. Nesse caso, muita gente irá comentar que, obviamente, o país passa por uma crise econômica cruel e cultura é um supérfluo que deveria e foi cortado. Eu discordo, porque não é só no momento de crise. Nós sempre fomos órfãos da fomentação da cultura, das informações e dos incentivos. A informação, o desejo e a consciência de mudança nascem com a estimulação do pensar, e o pensamento só é estimulado com as valiosas entrelinhas da arte e cultura. Claro que deveria e poderia haver um incentivo maior por parte dos governantes nos movimentos culturais, mas sabemos que uma população cheia de conhecimentos não é o ideal para muitas pessoas que detêm e querem continuar com o poder. Quando existe um desejo interno de acessar esses bens intelectuais, eles se fazem possíveis, mesmo com carências de recursos. Existem inúmeros espetáculos e eventos com acesso gratuito, exposições de arte, em geral, têm entrada franca, e alguns cantores já conseguem incentivos que permitem diminuir significativamente o acesso para o público em geral. Semana passada vi a entrevista de uma famosa cantora brasileira, que conseguiu um incentivo bacana e as pessoas pagam apenas 1 real para ter acesso ao show.

Fiquei feliz com a mudança política na Argentina, sei que ainda é cedo para dizer alguma coisa, mas coincidentemente o primeiro país da América Latina que votou pela mudança, nesse novo ciclo,  é também aquele que mais preza por cultura e arte, se comparado com Venezuela, Colômbia e Brasil.

Cultura não é necessariamente ter uma graduação ou cursos superiores, é a formação que começa na infância, é aprender a enxergar as entrelinhas e mensagens e, assim, ver a obra Guernica de Picasso, por exemplo, e entender que foi um protesto contra a guerra, ver que “os comedores de batata” de Van Gogh foi a forma de expressar a tristeza pela miséria dos trabalhadores explorados. Conseguir ver uma instalação com 209 ovos no piso e, não fazer aquela cara de: quem compraria essa loucura? Na verdade, o artista pesquisou e encontrou uma maneira de dizer que vivemos num labirinto evitando pisar em ovos. Na minha experiência pessoal, pintei um quadro “Germinal” baseado na obra do francês Emile Zola, retratando num vermelho vibrante a vida insegura e sem esperança dos trabalhadores de uma mina de carvão. A obra foi vendida recentemente em Los Angeles para uma pianista francesa, que chorou em frente ao quadro! Esse momento já pagou meus 54 anos de arte!

A coluna de hoje é um alerta, principalmente para nós, que amamos o Brasil: se quisermos mudar essa panorama de corrupção, precisamos formar pessoas pensantes e isto serve para qualquer país! Se você tem filhos, pense nisso e aproveite a semana do Art Basel para mergulhar no universo cultural e ensinar a seus filhos a importância do pensar! Muitas feiras têm ingressos que custam o equivalente a um lanche, mais o resultado vai muito além de carboidratos. As minhas duas colunas anteriores trazem um guia detalhado, vale a pena conferir!

Tenha uma semana pensante maravilhosa! Beijos e much love!