A "novela” do petróleo está de volta - Editorial

Por Carlos Borges

gasolina

O leitor já deve estar sentindo no bolso a alta do preço da gasolina. Difícil em tempos de crise encarar um galão de combustível acima de $4 dólares e, quasecom certeza chegando a $5 ou até $6 dólares, quando julho vier. Mas espere. Tem coisa muito pior para acontecer.

O “efeito cascata” nos preços das passagens aéreas e de uma forma substancial, dos alimentos. Afinal, neste nosso magnífico Estados Unidos, a indústria automobilística usou e abusou do lobby para destruir a malha ferroviária e impor à população o transporte por caminhões, não é mesmo?

Não é a direita nem a esquerda que tem pautado a vida dos norte-americanos. “Esquerda e direita” na política de nossos tempos atuais, não passa de um antagonismo de araque, produzido artificialmente pelo sistema.

Tudo é, cada vez mais um “show de tv”, onde republicanos e democratas armam o circo para saber de quem será o controle da Casa Branca. E todos nós fingimos que estamos numa genuína democracia. Vamos em frente.

É o petróleo, controlado por meia dúzia de mamutes imperiais do Oriente Médio - os tais “sheiks” ou seus correlatos “de esquerda”, como o lunático presidente do Irã – que dita todas as normas numa sociedade consumista, superficial e manipulada, que é condicionada ao uso da gasolina como combustível de suas existência e estranho “teorema” que define sua “liberdade”.

Os telejornais, todos eles, estão gritando por conta do aumento da gasolina e de tudo o que decorre daí. A aliança dos sheiks e ditadores que manipulam a produção de petróleo não tem a menor preocupação com os efeitos devastadores que as altas do produto possam representar. O que seria uma atitude burríssima, mas não é, e a razão disso somos nós mesmos. A tal “sociedade viciada em petróleo”.

Como está em todos os almanaques do capitalismo de mercado, a alta dos preços de qualquer produto deveria, logicamente, gerar uma queda no consumo. No caso de produto tão vital quanto a gasolina e os subprodutos do petróleo, como os plásticos, o impacto seria uma redução até drástica da atividade econômica, em “cadeia”.

Assim: pessoas compram menos coisas nos supermercados, que faturam menos, contratam menos pessoas. Com isso, menos pessoas são contratadas e ganham salários. As fábricas, diante de uma redução no consumo, fabricam menos, contratam menos e pagam menos salários. A população assalariada encolhe, compra menos, etc. O círculo vicioso seria esse.

Mas é isso o que acontece? Claro que não. O mundo viciado em petróleo faz o diabo para seguir consumindo, sem alterar, um mínimo que seja, seus hábitos. Não digo alterar as atividades que sejam essenciais, como dirigir para o trabalho se não houver uma alternativa coletiva, ou deixar de cozinhar para economizar gás. A rejeição da população a qualquer “mudança de hábitos”com relação ao consumo de combustível e tudo o que deriva disso, é patética.

Chego a acreditar que nós merecemos mesmos ser tratados como animais irracionais, ao constantar que nas profundas crises econômicas, o consumo de artigos de luxo e supérfluos cresce de forma bizarra. Dá para entender? Os sheiks do petróleo estão se contorcendo de tanto rir...

E sabe por que a questão do petróleo não está no centro dos debates atuais entre os pré-candidatos republicanos à sucessão e Obama? E sabe porque o próprio Obama tem evitado tocar nesse assunto, preferindo ressuscitar suas mentirosas promessas de reforma imigratória? Porque todos eles, republicanos e democratas têm o rabo mais preso do mundo com a indústria petrolífera.

Nenhum político norte-americano de primeira linha, aqueles que realmente mandam nos Estados Unidos e, por tabela, no mundo, tem “ficha limpa” com relação a suas ligações, financiamentos e “lobismo” com a indústria petrolífera. Mas, na TV, tudo é pré-produzido e empacotado de tal forma a transformar questões como “casamento gay” e “direito dos muçulmanos existirem” em “importantes questões nacionais”, quando não são o que realmente interessa a população.

O que realmente importa para o cidadão que, mesmo a contra-gosto, paga seus impostos e acorda de manhã para trabalhar, é o seu dinheirinho escorrendo entre os dedos quando vai por gasolina. É a ausência de um sistema de transporte público como o de Nova Iorque, Londres ou Tokyo. É se sentir abandonado, avacalhado e humilhado pelos políticos ‘ególatras’ e insensatos que ele mesmo elege. Mas como esse cidadão recebe “lavagem cerebral” todo dia, vai acabar achando que a culpa é dos radicais islâmicos.

Será que há luz no fim do túnel?