A passagem de Patriota: estresse e passo à frente

Por Gazeta Admininstrator

Bom senso, infelizmente, não é um atributo dos mais comuns nos tempos em que vivemos. Na via oposta, estresse e desconhecimento de causa, são fatores cada vez mais presentes e influentes nas relações humanas. Especialmente quando essas relações são estabelecidas numa longa e tenebrosa história de mútuo desconhecimento e incompreensões de parte a parte.
A recente passagem do novo Embaixador do Brasil em Washington, Antônio Patriota, pelo Sul da Flórida, deve ser saudada como mais um passo importante e consistente dentro do novo design de relação entre o Itamaraty e a comunidade imigrante brasileira no exterior.
Reunidos pelo líder Silair de Almeida num dos amplos salões da Primeira Igreja Batista Brasileira, em Pompano, cerca de 80 expressivas lideranças da comunidade brasileira da Flórida (não só do Sul, mas do Centro e da região do Golfo do México) puderam se apresentar e ser apresentados ao novo Embaixador.
Tanto Antônio Patriota teve oportunidade de dizer a que veio e que novos ventos de atuação consular e diplomática ele representa, como essas lideranças puderam levar ao novo representante do nosso país em Washington, uma mensagem importante de que estamos mais unidos (uns preferem “menos desunidos”) do que nunca.
Curioso momento esse que vive a comunidade imigrante brasileira nos Estados Unidos. A parcela imensa dos que para aqui vieram única e exclusivamente para ganhar dinheiro visando um futuro menos difícil no Brasil, sofre terrivelmente com o “cerco anti-imigrante”, com as limitações em todos os sentidos. Seja do simples ato de dirigir um veículo à obtenção de uma esperança concreta de permanência legal.
Outra parcela, menor em quantidade de pessoas, mas econômicamente expressiva e determinante, grande parte sem sofrer diretamente o impacto das restrições imigratórias, busca um formato mais claramente delineado de permanência e representatividade.
A transitoriedade “em paz” é o que os brasileiros indocumentados sonham.
A permanência “relevante” é o que os brasileiros que já optaram por ficar, desejam.
Os dois grupos e seus diversos sub-grupos se fizeram representar claramente no encontro promovido pelo Embaixador João Almino, Cônsul-Geral do Brasil em Miami e, sem medo de errar, um dos mais hábeis construtores dessa “nova realidade” na relação do Itamaraty com as comunidades imigrantes brasileiras.
Somos um povo que, historicamente, confunde o governo com o pai. Dele esperamos as soluções para nossos problemas pessoais, de toda ordem. Dessa entidade convenientemente abstrata - já que na verdade somos um povo que odeia confrontações e “passar vergonha” – se espera o efeito “varinha de condão”.
Somos também um povo totalmente sem educação cívica. A consciência dos papéis do Estado, das limitações éticas e estatutárias do funcionalismo público, da inegociável questão da soberania, enfim, de uma série de fatos concretos que impedem que o governo aja como “pai” de quem quer que seja.
Mas a cobrança apareceu nesse encontro com Patriota, nos mais diversos matizes.
De nossa parte clamamos por educação e cultura. Porque essa nos parece ser uma questão central da própria representatividade brasileira dentro da América.
Outros pleiteiam uma facilitação maior da entrada de turistas e negociantes norte-americanos no Brasil, “assumindo” uma condição de desigualdade que, certamente traduz uma incrível falta de bom senso. Ou melhor, um senso claramente de que apenas o dinheiro importa.
Muitos clamam por mais e melhores informações sobre serviços consulares, que efetivamente ainda são dor de cabeça para os dois lados: quem precisa desses serviços e quem tem a missão de provê-los.
A cada uma dessas reinvindicações, foram dadas respostas. Cada uma das críticas, mesmo as mais apaixonadas e destituídas de conhecimento de causa, foi ouvida e respondida sem receio.
Palmas para Patriota, Almino e todo o grupo do Consulado Geral do Brasil em Miami que, sem medo, vem encarando as reinvindicações e críticas e respondendo às mesmas com uma inegável melhoria dos serviços.
A grande maioria dos imigrantes brasileiros representados pelas ditas lideranças, estão aqui há menos de 10, 5 anos. Não têm o menor conhecimento, em primeiro lugar, da brutal diferança que existe entre o atendimento consular dado aos brasileiros em 2007 do que era dado, por exemplo, em 1997. Isso sem falar que nesse período, a população imigrante brasileira nos Estados Unidos, multiplicou dez vezes.
Essa mesma população imigrante também desconhece que a realidade de atendimento consular para imigrantes de outros países, perde de goleada se comparadas aos serviços que nossos consulados prestam.
Enfim, a reunião promovida em torno da passagem de Antônio Patriota foi um reflexo do notável avanço nas relações instituicionais da comunidade imigrante brasileira nos Estados Unidos. Não é por acaso que no ano passado celebramos sem receio das críticas oportunísticas, a visão e o excelente trabalho do Itamaraty.
Mudar o curso e a “cultura” da diplomacia brasileira talvez seja um dos mais árduos desafios do Presidente Lula. E nós, que sempre fomos e seguimos sendo rigorosos na análise de sua condução política, aplaudimos o êxito inquestionável da performance de seu governo numa área antes relegada ao limbo absoluto da política brasileira.
Estamos longe do que pretendemos, merecemos e vamos conquistar.
Mas se foi o tempo em que imigrante brasileiro era um ítem inexistente nas pautas de Brasília.