A proletarização da América

Por Gazeta Admininstrator

Quando você, leitor do Gazeta, estiver pegando esta edição que chega às suas mãos nesta histórica semana de 3 a 9 de novembro, poderá estar acompanhado o desenrolar da votação ou já saberá quem venceu a “corrida” entre Obama e McCain. Ouso afirmar que mais uma vez as atenções da América estarão voltadas para a Flórida. Depois, a gente saberá porque...
Mas o assunto deste editorial não é nem Obama nem McCain. Nem mesmo as mais extravagantes, bombásticas e milionárias eleições já vistas na história do país que ainda carrega o título de mais rico e mais poderoso do planeta.

Algo me chama a atenção, e já há bastante tempo. Sou um observador nato e ainda, com o tempo, tratei de apurar o gosto pela observação sociológica, o ambiente, a atmosfera, o “andar da carruagem”.
Estando aqui há 20 anos, somos, eu e minha família, testemunhas de uma ine-quívoca degeneração da realidade norte-americana, seja ela moral, ética, social ou econômica. Sim, porque apesar dos 8 anos de fartura e prosperidade sob o batuta de Bill Clinton, o que vemos é uma América muitas vezes mais “proletária” e “homeless” do que imaginávamos que veríamos um dia.

Quais as razões dessa “proletarização”? Porque se vê muito mais gente ganhando menos, se acomodando a perspectivas de consumo mais modestas, aceitando salários menores, reclamando que não há nenhuma possibilidade de avanço econômico-social?
Não sou cientista social. Sou um jornalista e um ser humano profundamente preocupado com a qualidade de vida, minha e de todos em minha volta. Porque estamos inevitavelmente juntos em qualquer que seja o “resultado” desse atual processo de “proletarização”.

Há os que imediatamente me contestam, mostrando dados, indicadores, que revelam o crescimento absurdo da “riqueza” norte-americana nas últimas 3 décadas. Verdade? Talvez...

Não há dúvida que no contexto mundial, os Estados Unidos, mesmo assistindo (e fomentando) o explosivo crescimento da China, se tornaram muito mais ricos e poderosos nos anos 90 e neste novo século, do que já eram antes. Mas nem é preciso ser um observador privilegiado para ver que, em termos de qualidade de vida em geral e acesso da população a uma vida mais confortável e segura, os indicadores são realmente desastrosos.

Nós, imigrantes, por exemplo, que hoje somos escorraçados pela mesma sociedade que nos atraiu com o “canto da sereia” que é o “American Dream”, sabemos que o “preço” desse sonho, em 2008, é pelo menos, dez vezes maior do que há 20 anos atrás.
O próprio sentimento anti-imigrante, hoje escancarado em boa parte da população americana, se tornou muito mais forte e aberto numa proporção direta à piora das condições de sobrevivência econômica e social no país.

Se antes, com muito suor e empenho, se conseguia viver e até poupar algo para construir um futuro melhor e mais seguro, hoje, figurativamente, trabalha-se neste dia para pagar a comida do dia seguinte.

A “proletarização” se reflete em todos os níveis e lugares. Na mídia, no escandaloso empobrecimento da qualidade de tudo o que se produz e consome. Na qualidade dos serviços públicos e privados. Na quase destruição do conceito de “costumer satisfaction”, antes um paradigma do capitalismo norte-americano e do “american way-of-life”.

Esse sim, é um baita desafio para quem quer que tenha sido eleito presidente esta semana.