A suspensão do “Visto de Entrada” - Editorial

Por Carlos Borges

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A recente viagem da comitiva liderada pelo Governador da Flórida, o controverso Rick Scott, tinha na bagagem uma reivindicação antiga e igualmente controversa. A suspensão da necessidade de visto de entrada para brasileiros nos Estados Unidos e vice-versa, para norte-americanos no Brasil.

A instituição dos “vistos de entrada” está em franca decadência. Os Estados Unidos seguem sendo o país mais conservador do mundo nessa área, impondo mais restrições do gênero, que qualquer outra das chamadas “nações desenvolvidas” do mundo.

Acontece que, o mundo dá voltas e hoje os ambiciosos olhos dos negociantes norte-americanos estão literalmente “esbugalhados” diante do crescimento econômico e oportunidades representadas por um Brasil que, há 20 anos atrás, era desdenhado solenemente por Washington.

Sempre adoradores das atrações norte-americanas, os 1,4 milhão de brasileiros que, terão visitado os EUA em 2011 (600 mil dos quais, unicamente na Flórida, entre Orlando e Miami), deixarão cerca de 1,3 bilhão de dólares nas caixas registradoras norte-americanas. Sem falar do outro 1,7 bilhão em passagens aéreas que, apesar de pagas no Brasil, se dividem atualmente entre as 5 empresas norte-americanas (American, Delta, United, Continental e U.S. Airways), contra apenas uma brasileira, TAM.

Enquanto o aborrecimento eterno que é, para os brasileiros, pedir visto de entrada nos EUA, já está “incorporado” a qualquer processo de viagem aos EUA, para nossos amigos gringos, esse “aborrecimento” é intolerável. E olha que a eficiência na concessão de vistos brasileiros a norte-americanos é infinitamente maior do que a dos agentes dos consulados americanos no Brasil.

Via de regra rudes, despreparados, arrogantes e presunçosos, muito dos funcionários responsáveis pelo processo de concessão de vistos em São Paulo, Rio, Brasília e Recife usam e abusam do mau tratamento, como se estivessem fazendo um “favor” aos brasileiros que querem vir aqui gastar muito, mas muito dinheiro mesmo!

Pois bem, essa legião de homens de negócio norte-americanos é a maior aliada do governador da Flórida para eliminar todo esse processo. Há quem sentencie “chance zero” para essa proposta de Rick Scott, mas há cada vez mais gente em Washington (onde se decidem essas “paradas”) consciente de que ou os EUA abrem de vez os olhos para o Brasil que emerge, ou vai seguir perdendo mais e mais oportunidades. Quem mais se beneficia com a “lerdeza” dos norte-americanos? A Europa. A Associação Brasileira de Agentes de Viagem, em estudo recente, apesar de registrar um aumento de quase 300% na demanda de passages e viagens de brasileiros para os Estados Unidos, detectou também que quase 40% dos brasileiros que viajam para a Europa só não o fizeram para os EUA para não ter que enfrentar o ridículo e medieval processo de pedido de vistos no Brasil. Um processo, inclusive cada vez mais suspeito de corrupção. Afinal, não é privilégio de país nenhum a existência e aceitação de “propina” para eliminar rejeições e esperas nas quilométricas filas.

Certamente há argumentos, ainda que enfraquecidos, contrários a supressão da necessidade de visas. O maior de todos vem do “temor” de que muitos brasileiros imigrem ilegalmente. Nao é exatamente o que a realidade de agora nos diz. Nesse momento, o que é fato é a inversão do fluxo, com muito mais brasileiros retornando ao Brasil do que tentando o “sonho americano” .

Outro argumento, o de que a receita gerada pela concessão de centenas de milhares de novos vistos ao ano, seria muito importante para os Estados Unidos, é um argumento tolo. Essa receita é ínfima se comparada a economia de despesas para manter esse sistema funcionando.

A força maior a favor da eliminação da necessidade de vistos é mesmo de ordem econômica. Com Brasil e Estados Unidos ampliando de forma considerável suas parcerias comerciais (a explosão no número de norte-americanos viajando ao Brasil desde 2008 é extraordinariamente notável), a necessidade de dar mais velocidade e dinamismo ao fluxo de pessoas, livremente, entre os dois países, deve se impor.

Na verdade, essa experiência foi feita nos anos 90, e incluiu, por breves meses, também os argentinos. Mas a a necessidade de vistos retornou logo após os ataques de 11 de setembro, por conta de alegadas conexões dos gupos terroristas islâmicos no Brasil. Nada foi provado, mas a exigência de vistos permaneceu.

É importante ressaltar que o fim da exigência de vistos pode ser muito positivo para o Brasil no sentido de receber um número muito maior de turistas e negociantes norte-americanos.

Os Estados Unidos perderam muito território na arena de negócios com o Brasil, na última decada.

Preocupados com o terrorismo e “batendo cabeça” nas incertezas de uma economia seriamente atingida pela globalização que eles mesmos inventaram, os norte-americanos viram a China se tornar megaparceiro do Brasil. A simples remoção da exigência de vistos será um fator incentivador a um fluxo importante de norte-americanos no Brasil.

A demanda é mais do que óbvia. O Brasil é hoje um destino primordial para as companhias aéreas norte-americanas que, em 2011, oferecem 800% mais voos partindo de aeroportos norte-americanos para aeroportos brasileiros, do que ofereciam em 2001. É um crescimento espetacular, só superado no mundo, mais uma vez, pelo estratosférico crescimento das viagens para a China.

O fim da exigência de vistos é, portanto, um importante desejo para os negócios norte-americanos. Portanto, tem chance de acontecer.