A tecnologia móvel está nos fazendo trabalhar demais?

Por Marisa Arruda Barbosa

diogo oliveira

A tecnologia contida em acessórios como os smartphones ou tablets serve pessoas para infinitas funções, para estarem conectadas 24 horas por dia, sete dias da semana. Tem gente que diz que o iPhone serve como substituto da memória, gravador, vídeo. Ao mesmo tempo, fica difícil desligar e a possibilidade de estar o tempo todo com acesso aos e-mails do trabalho faz com que se trabalhe muito mais, dizem alguns. Para os “workaholics”, por exemplo, o excesso de tecnologia pode ser um prato cheio para o estresse.

“Existem os dois lados: o positivo, como a facilidade de receber as notícias e informações em tempo quase que real, a otimização de tempo e outras coisas mais, por outro lado, nas relações humanas estamos perdendo conteúdo de diálogo e conversando menos”, diz Maria Fulfaro, gerente de marketing e vendas do Broward Center for Performing Arts.

Floriana Martinez, gerente de vendas da American Airlines em Miami, tem um smartphone e laptop para o trabalho e um smartphone e laptop para uso pessoal. “Estou sempre conectada com meus clientes e com a empresa. Sempre consigo um tempinho para responder a e-mails e mensagens de textos. Mesmo durante viagens a trabalho e até mesmo durante as férias”, disse Martinez.

Para os “freelancers”, a tecnologia móvel é essencial. Eles dizem estar sempre conectados e prontos para qualquer trabalho. Esse é o caso da diretora de arte, Evelyn Esperança, para quem o uso da tecnologia móvel é essencial. “Cada vez mais a tecnologia facilita a mobilidade e isso me permite estar disponível aos meus clientes 24/7, ter rápido acesso a projetos e muitas vezes providenciar soluções imediatas a problemas que surgem no dia a dia”, conta. “Como uma “interactive designer”, os smartphones e os tablets completamente revolucionaram a minha rotina e hoje seria impossível produzir e executar os projetos que desenvolvo sem essa tecnologia”.

O músico Diogo Oliveira (ao lado), que também é freelancer, concorda. “Vivemos em um mundo onde a velocidade das informações voa”, analisa o carioca que vive em Miami. “Eu, por exemplo, como músico, que trabalha com agenda, estou sempre em contato com as pessoas na mesma velocidade que as coisas andam”.

Oliveira tem todas as informações de seus shows em seu iPhone, responde e envia e-mails, como se estivesse na frente do computador, não importando se está em Miami, no Rio de Janeiro ou em qualquer outro lugar. “Até transferência bancária dá para fazer pelo i-phone”, afirma. “Na minha profissão, não daria para viver sem um iPhone”.

Limites e administração do tempo

Teoricamente, todos os instrumentos de tecnologia móvel devem ajudar as pessoas a executar tarefas mais rapidamente e com menor esforço. Mas, quando usada incorretamente, a tecnologia deixa de ser uma aliada e se torna inimiga. A ideia de que é possível manter-se o tempo todo em contato com o ambiente de trabalho, por meio de computadores pessoais ou de celulares, aumenta a ansiedade e a carga de tarefas realizadas fora do escritório — tarefas essas que, muitas vezes, poderiam ter sido eliminadas durante o expediente. Para usar a tecnologia a seu favor e não se tornar um escravo dela, o ideal é estabelecer horários (e locais) para acessar a caixa postal do trabalho e atender a chamados do escritório.

No entanto, muitas pessoas usam a sites de mídia social para fins profissionais e pessoais e são facilmente transportadas para o ambiente de trabalho em um pleno domingo de sol, quando usam o telefone para acessar o Facebook, por exemplo.

Vanessa Mendes é assessora de imprensa e trabalha, atualmente, com aproximadamente 12 clientes, mais a organização de eventos, em Santa Catarina. Ela gosta tanto do que faz que o seu grande erro é não encarar como trabalho. “Muitas vezes eu passo dos limites, sim, mas hoje estou revendo algumas atitudes. Na vida é preciso fazer escolhas”, diz.

Silvana Mandelli, coordenadora de Marketing da TAM, em Miami, usa a tecnologia móvel para entretenimento e para executar funções do trabalho. “Atualmente, acho que tudo está dentro de um equilíbrio”, analisa.

Martinez acha que quem mais se estressa é a pessoa ao seu lado, pois tenta sempre dar prioridade às coisas importantes. “O mudo moderno de prestação de serviços não tem hora de almoço ou fecha pra o fim de semana”. Martinez diz que a American Airlines oferece dicas e até mesmo seminários de como usar Facebook, Twitter, etc, sem comprometer a empresa em que trabalham.

O professor do Departamento de Comunicação da Universidade do Sul da Flórida (USF), Tony Silvia, diz que a tecnologia móvel mudou sua forma de ver o papel da educação. “Minhas aulas não são mais eventos de uma ou duas vezes por semana, mas um acesso constante tanto do professor aos estudantes, como dos estudantes ao professor. Meus alunos estão sempre me enviando mensagens, enquanto eu estou sempre publicando em blogs e pedindo que eles leiam e comentem”, disse.

“É difícil encontrar um equilíbrio. Eu acredito que seja possível, mas através da decisão de se ‘desconectar’”, analisa Silvia.

Evelyn Esperança diz que já está acostumada com a tecnologia móvel. “Sempre trabalhei com ela e o uso diário não me estressa ou incomoda”, disse. “De vez em quando é importante desligar - como numa aula de yoga, no cinema ou em um jantar com amigos”.

Tony Silvia diz que tenta estabelecer limites para si próprio, como desconectar depois de uma certa hora, ou durante um dia do final de semana. “Mas é difícil se firmar nessa decisão quando as coisas têm que ser concluídas e alunos precisam de orientação”, conclui.

Etiqueta Em muitos momentos o “antenado” está fora dos “padrões da etiqueta móvel”.

Uma pesquisa da Intel, divulgada em novembro do ano passado, revelou que 92% dos entrevistados pedem que pessoas tenham mais educação ao usar os aparelhos portáteis em lugares como restaurantes, teatros, cinemas, congressos e até nas ruas. Ao mesmo tempo, um em cada cinco adultos confessou que poderia ter uma postura melhor em relação ao uso de smartphones e tablets, mas continua cometendo as “gafes móveis” porque vê mais gente fazendo igual.

Para Esperança, não há nada pior que pessoas que desconhecem as regras de etiqueta mobile. “Não existe coisa mais desagradável do que uma pessoa que está participando de uma reunião social e constantemente checando o smartphone, completamente imersa no tablet ou mandando text message”, diz a diretora de arte. “O objetivo da tecnologia é melhorar nossa qualidade de vida e produtividade no trabalho, mas jamais deverá substituir o relacionamento humano direto. Sem ele a gente vira robô”.