A temporada da beleza brasileira em Miami

Por Gazeta Admininstrator

Você já imaginou ganhar U$50 mil por dia? Ou chegar ao final do ano com um rendimento superior a U$12,5 milhões? Pensando um pouco mais a longo prazo, quem sabe reunir em 10 anos um patrimônio de U$70 milhões? Gostou da idéia? É simples. Basta ser linda, ter as medidas perfeitas, talento, simpatia, persistência, um pouco de sorte, é claro, e chamar-se Gisele Bündchen.

Apontada pela mídia brasileira como a modelo mais rica do mundo, Gisele trilhou o caminho que há décadas é trilhado por inúmeras jovens ao redor do planeta, e que pode perfeitamente ser repetido por muitas delas. O ideal de ter a beleza reconhecida internacionalmente e posar para as mais conceituadas grifes do mundo continua movendo os sonhos de incontáveis jovens que desde muito cedo começam a conhecer o peso da responsabilidade de uma carreira repleta de glamour e de dificuldades.

Uma das primeiras e maiores dificuldades, curiosamente aparece quando a aspirante a modelo começa a ser aceita e requisitada pelo mercado. É aí que começa a pesar a distância de casa, da família e dos amigos. Isso porque nesta profissão a expressão “ganhar o mundo”, significa literalmente viajar pelo mundo para cumprir contratos.

Embora não seja a “meca” da moda nos Estados Unidos, como New York, por exemplo, Miami é também um dos pontos concentradores de modelos que chegam para a chamada temporada de trabalho, em geral entre setembro e abril, período no qual os grandes anunciantes vêm de outras regiões, fugidos do frio, e acabam criando um mercado sazonal para as modelos. De várias regiões do Brasil chegam anualmente dezenas de modelos que durante a temporada são requisitadas pelas agências para participar desde catálogos até campanhas publicitárias inteiras.

Hoje com 22 anos, Tatiane Carvalho trabalha como modelo desde os 17. Nascida em Porto Alegre, no Sul do Brasil, ela quase desistiu da carreira por causa da falta de oportunidades em sua cidade. A chance oferecida por uma agência em São Paulo acabou fazendo com que ela deixasse a casa dos pais e arriscasse. Depois de cinco meses trabalhando para a agência paulistana surgiu a oportunidade de fotografar nos EUA. “O mais difícil na vida de uma modelo é a saudade de casa, principalmente da família. A gente acaba aprendendo a superar, a controlar a saudade, mas nunca deixa de sentir”, diz Tatiane que mora no Brasil com um casal de irmãos e a mãe, e veio para Miami apenas pela temporada.

Tatiane já desfilou e participou de catálogo da Vitoria Secrets em Miami, posou para revistas de moda e beleza na África, fez campanhas para a loja de departamentos Renner no Brasil, e fotografou para a indústria de cosméticos Wella, na Argentina.

Nascida em Goiânia, Tallyta Moura de 20 anos, iniciou carreira aos 13. Um ano depois teve que mudar para São Paulo, onde viveu um ano. Parou de estudar para dedicar-se integralmente ao trabalho, e há quatro anos mudou-se para os EUA. Aqui enfrentou a barreira do idioma. Decidiu voltar a estudar, terminou a High School, e está de volta na luta por “um lugar ao sol”. Ela é um exemplo de que somente com força de vontade, persistência e juízo na cabeça é possível chegar lá. “Não é fácil conciliar trabalho e estudo porque agência não tem hora para ligar. Temos que estar prontas a qualquer hora para fotografar”, explica Tallyta.

Ela lembra ainda que uma das armadilhas da profissão é a tentação de aceitar todos os convites para sair à noite. “No início aprendi a sair muito à noite. Queira só aproveitar, era muito nova. Hoje sei que você tem que fazer por onde para chegar em algum lugar, e tentar não se entregar tanto à balada porque ela é a perdição”, lembra a jovem que é modelo da agência Mega.

Com 22 anos, Ana Gequelin há três anos vem à Miami para a temporada de trabalho. Ela começou a posar aos 14 anos, inscreveu-se em concursos, apresentou-se em agências de São Paulo. Depois de um ano Ana teve que fazer as malas, deixar a casa dos pais na cidade de Campo Largo, no Paraná, Sul do país, e mudar para São Paulo, onde viveu durante seis meses. Foi o tempo suficiente para que fosse convidada para trabalhar e morar no Japão, depois no Chile, na França, Alemanha e Estados Unidos. “Pra mim era um sonho e um desafio. Eu não dizia para os meus pais que sentia saudades, porque achava que era necessário passar por isso, e não queria que eles sofressem. As maiores dificuldades passei sozinha”, lembra Ana que já foi capa da revista Novaestrela da campanha de celulares Vivo e da linha de lingeries Valisére, fez o catálogo da linha de biquines Água Doce, todos no Brasil. Em sua carreira internacional há cinco anos é modelo exclusiva na Europa da linha de lingeries Triumph, para a qual participa de desfiles, campanhas publicitárias e programas de televisão. Foi também capa das revistas Trip e VIP.

A jovem tenta aproveitar ao máximo o tempo livre durante as viagens para aprender sobre a história, cultura, hábitos e idioma do país em que está vivendo. “Vou às igrejas, museus, procuro aprender. Cada lugar tem sua história e algo para ensinar. Isso é que me segura um pouco quando estou fora de casa. Além disso as amizades que faço acabam sendo a minha família em cada lugar que vou. É uma experiência gostosa, que me amadureceu muito. Tenho 22 anos mas me sinto com 40 porque consegui passar por muita coisa que uma pessoa de 40 não passaria”, explica Ana, que hoje em dia diz não ter mais problemas em morar sozinha.

Apesar das inúmeras vantagens a carreira de modelo é, geral, curta e exige da profissional consciência e equilíbrio no aspecto financeiro a fim de garantir o futuro. Tatiane Carvalho diz já ter tudo planejado. Ela acredita que em dois ou três anos já tenha alcançado o objetivo de ter o reconhecimento profissional que deseja, e a estabilidade financeira suficiente para poder voltar para casa e levar uma vida confortável. “Nunca imaginei ser uma top model. Quero apenas alcançar os meus objetivos, chegar num bom lugar”, explica a modelo que diz hoje encarar o trabalho de forma mais realista. “Foi um sonho, mas acho que acabou perdendo o encanto. Hoje é apenas uma profissão”, explica.

Ela conta ainda que a mãe deu a ela um prazo de dois anos para continuar na carreira porque já não agüenta mais a distância da flha. “Toda vez que conversamos, ela diz que não agüenta mais e quer que eu volte, mas eu trabalho proque preciso, mais por causa do dinheiro do que qualquer outra coisa”, diz Tatiane.

Encarar com equilíbrio os desafios da vida de modelo é, na avaliação de profissionais de agências um fator fundamental para quem está iniciando e para quem já engrenou na carreira. O que oferecem as modelos aos clientes é a aparência que, muitas vezes, mesmo sendo perfeita, não se encaixa às exigências ou características do produto a ser promovido. Nestes casos, saber ouvir um “não” sem ter o ego abalado, é um aprendizado doloroso, mas muito importante. “Se for só pelo lado financeiro a modelo não dura muito na carreira porque recebe-se muito não. Eu já estou acostumada, mas muitas não se acostumam. Acham que é pessoal, e na verdade não é. Muita gente vai gostar de você, e muita gente não. É preciso aprender a lidar com isso, e acaba sendo uma brinceira de sim e não”, ironiza Tallyta.

Ela observa ainda que é preciso ficar atenta ao perfil de biotipo exigido por cada determinado mercado. Tallyta cita como exemplo a Flórida, onde é valorizado o bronzeado, o cabelo claro e a aparência natural. Já em New York por exemplo, diz a modelo, o estílo é mais “fashion”. “Mas às vezes se está no mercado errado e os resultados são bons porque você é diferente. Mas é importante saber observar essas diferenças”, frisa a modelo.

Quem imagina que as modelos passam todo o tempo controlando a boca, e malhando não está muito longe da verdade. Mas nem sempre é tão difícil quanto parece. “Se eu não fosse modelo, me cuidaria igual. Não faço dieta, mas só como coisas que não são calóricas, no jantar tomo sopa ou como salada, são coisas simples. Isso só me faz bem, nunca foi uma escravidão”, explica Ana Gequelin.

Mas as histórias que todos nós já ouvimos um dia sobre dietas de modelos também não estão muito longe da verdade. Tallyta Moura explica que sua magreza é natural, e que nunca precisou fazer muito esforço para perder peso, mas confirma que entre as colegas de profissão as dietas exóticas são comuns. “Tenho amigas que fazem as dietas mais loucas de só comer frutas, ou só comer carne, já vi até dieta de só comer alface todos os dias. Houve o caso de uma modelo em São Paulo que fez a dieta de abacaxi com melancia. Chegou no trabalho magérrima, mas desmaiou de fome, claro, porque o organismo precisa de nutrientes”, comenta.

Tatiane Carvalho acredita que para quem pretende entrar na carreira, é preciso saber aproveitar as oportunidades que surgem e escolher uma boa agência. “Uma boa oportunidade nem sempre aparece mais de uma vez. É importante também escolher uma boa agência, não necessariamente uma agência de nome, mas que seja conceituada e séria”, avalia.

Tallyta Moura lembra que para as jovens que viajam para o exterior pela primeira vez, é fundamental ficar atenta a todos os gastos. Ela explica que um composite, que é o “cartão de visitas”da modelo, custa em torno de $150 dólares. Em geral, as agências adiantam um valor fixo semanalmente para a modelo, no mínimo de $100 para cobrir gastos pessoais, uma vez que ela está fora de seu país. Além disso muitas modelos são acomodadas pelas agências em um apartamento dividido por um número determinado de jovens, com aluguel pago pela agência. Tudo isso, explica, é descontado do cachê da modelo. “A modelo para a agência através de seu trabalho, e já começa com dívida pelo menos do aluguel. É preciso se dar conta do que está acontecendo, porque a agência distribui trabalhos para as modelos. Se ela pega muito dinheiro de adiantamento e não é aprovada em muitos trabalhos, fica endividada”, explica.

Para as principiantes Ana Gequelin diz que a fórmula é simplicidade, fé e persistência. “Tem que ter muita persistência, acreditar em Deus porque quando se está sozinha em viagem, que não se tem pai e mãe perto, a única coisa que se tem para se apegar é Deus que está sempre junto, e acreditar em si, projetar porque assim acontece. E além disso, ser simpática e simples”, acredita.

Para quem está pensando em apostar na carreira de modelo, vale conferir abaixo algumas das principais dicas de profissionais do setor para um início bem sucedido:

Produto
Conforme-se, você será avaliada como se fosse um produto. A primeira, e provavelmente a mais valiosa das lições a aprender é a seguinte: você será vista exatamente igual à calça jeans exposta em uma loja. Será observada, avaliada, julgada e, talvez, escolhida. Uma vez entendido o conceito, você terá dado um gigantesco passo em direção ao sucesso.

Rejeição
A primeira coisa que um booker responsável dirá a uma garota que pode vir a ser contratada, é que ela vai ouvir muito mais "não" do que "sim". Porque é muito importante deixar claro, muito claro, que se ela não quiser muito ser modelo, talvez desista quando começar a ser rejeitada. A pressão psicológica é grande. Esta é a profissão que, muito provavelmente, mais fere a auto-estima da mulher. Contradição? Nem tanto. Porque se por um lado a modelo representa o ideal feminino - alta, magra, formosa - por outro é, dia após dia, avaliada pelo cliente que, sem se importar se vai ou não ferir seus sentimentos, coloca na mesa exatamente o que pensa de seus dotes físicos.

Zen
Pode parecer exercício budista, mas você vai ter de prestar atenção sem espernear, fazer bico ou cruzar os braços ao ouvir alguém que você nunca viu na vida tecer comentários, muitas vezes espinhosos, a seu respeito. Lembra daquela calça jeans que você tirou da arara, olhou de cima a baixo, comparou com outras e decidiu não levar? Mais uma vez, é hora de fingir que é uma calça jeans e se preparar para ser analisada como tal. O modo como você vai absorver o que aquele profissional está dizendo a respeito de suas características é a prova inaugural de que está se profissionalizando como modelo. Até porque, ser rejeitada não significa que você não tem jeito para a coisa, significa apenas que não era a melhor peça para aquela ocasião.

Persistência
"Acho que a modelo tem que ter persistência", aconselha Luiza Brunet. "Faz parte da profissão visitar o mesmo cliente várias vezes até que ele preste atenção em você. Por isso a modelo tem que ter certeza do que quer, e ser paciente!". Estas são as palavras sábias de um verdadeiro fenômeno que é Luiza, que continua sendo sucesso em todas as atividades a que se dedica. Palavras estas que servirão como orientação para uma carreira de modelo ou simplesmente para a vida.