A VIDA DO IMIGRANTE ILEGAL SEM O ROMANTISMO DA TV

Por Gazeta Admininstrator

Por Letícia Kfuri

A fronteira entre o sonho americano e a realidade brasileira para muitos não tem o mesmo final feliz da personagem vivida por Débora Secco na novela América de Glória Perez.
O destino de brasileiros humildes e sonhadores que abandonam a família, assumem dívidas e entregam suas vidas nas mãos dos chamados coiotes, inúmeras vezes é bem mais sombrio.
“A Fronteira”, filme dirigido por Roberto Carminati, com fotografia de Alec Chvany foi escolhido o melhor filme Festival Latino Americano de 2003, em New York, e agora chega em DVD ao mercado da Flórida.
O filme mostra a realidade de brasileiros como nós que comeram feijão com arroz, soltaram pipa na rua de subúrbio e conhecem bem o significado da palavra “jeitinho”, mas que por falta de alternativa ou de noção do perigo, escolheram o caminho mais arriscado para realizar o sonho de viver uma vida mais digna.
No estilo cinema-realidade, que tem sido a marca da boa safra das produções nacionais, o filme produzido por Jaci Carminati, pai do diretor, surgiu como um trabalho de mestrado desenvolvido por Roberto para o curso de Cinema e TV do Emerson College, em Boston. Foram dois meses de gravação em HD (High Defintion), que é o que existe de mais avançado em matéria de vídeo no mercado mundial. A remasterização do som foi feita toda no Brasil.

Para quem pensa que o filme chega na carona da novela “América”, o produtor Jaci Carminati lembra que durante 10 dias a nove-lista Glória Perez esteve em Boston realizando pesquisas para elaboração do roteiro da novela e, ao saber do filme, ligou para o diretor e pediu que fosse feita uma sessão para todo o elenco da novela para que entendessem melhor a tônica do tema. “Roberto trabalhou durante dois meses assessorando o diretor da TV Globo Jaime Monjardim na fronteira e em Miami”, conta Jaci.
Rodado em El Paso, na fronteira do México com os Estados Unidos, o filme foi resultado de oito meses de pesquisa e entrevistas com brasileiros que viveram a experiência de arriscar a vida pelo sonho americano. Baseado em histórias verdadeiras, ele mistura a criatividade do cinema com a dureza da realidade.
Maurício é um profissional de marketing que, desempregado, decide aventurar-se nos Estados Unidos arriscando-se pela fronteira com o México, na intenção de encontrar a mulher e filha que já vivem nos EUA.
Submetendo-se a um esquema sub-humano de um grupo organizado especializado em tráfico de imigrantes, ele acaba vendo sua vida cruzar-se com a de outros brasileiros, Paulo e sua família que desiludidos com o Brasil, tentam a travessia em busca de melhores oportunidades de vida.
Depois de passarem por privações, violências e cons-
trangimentos, Maurício e um grupo de brasileiros conse-guem, finalmente, chegar do outro lado. E o outro lado revela-se muito diferente do sonho. O pano de fundo da história é a máfia que anualmente movimenta milhões de dólares no tráfico e exploração ilegal de imigrantes. “O filme é um drama e deixa o alerta de que o caminho é cada vez mais difícil para o imigrante. Os riscos na fronteira são muito grandes”, diz Jaci Carminati.
Com uma hora e meia de duração “A Fronteira” teve um custo total de produção de U$ 250 mil, sendo U$ 70 mil patrocinados pela Eletrobras. Conta com elenco principal totalmente brasileiro:Gilberto Torres, Débora Balardini, Cesar Cabrera, Fábio Nassar, Bete Correia e Sebastian Zancanaro estão no elenco principal. Participam também estudantes de teatro de New York, Cinema e TV do Emerson College, que integraram o filme como parte do currículo de formação.
Agora, a distribuição, conta Jaci, é um “trabalho de formiguinha”. “Saímos de Boston há dois meses e estamos rodando cidades. Temos quatro distribuidores”, conta o produtor. Em apenas dois meses “A Fronteira” já vendeu 12 mil cópias nos Estados Unidos, e outras 5 mil estão chegando ao mercado.
Roberto Carminati já começou a gravação do segundo filme que vai chamar-se “Segurança Nacional”. Rodado no Brasil, o novo filme está orçado em R$ 4 milhões e já tem financiamento de R$ 600 mil garantidos pela Agência Nacional de Cinema (Ancine). “Segurança Nacional” é um filme que volta os olhos para a discussão sobre terrorismo. “A nossa idéia é fazer filmes atuais. Em Ciudad del Leste, na fronteira com o Brasil há informações de infiltração de membros da Al Qaeda”, explica Jaci, lembrando que com a aprovação da chamada Lei do Abate, que prevê a derrubada, após o terceiro aviso, de aviões que invadam o espaço aéreo brasileiro, o governo brasileiro está simpático a esse tipo de tema.
No filme o ator Milton Gonçalves vai desempenhar o papel de presidente da república e receberá a informação de que terroristas pretendem detonar uma bomba atômica na Amazônia. As imagens no Amazonas já começaram a ser gravadas.