Abuso de drogas "legais": epidemia na saúde pública que também afeta brasileiros

Por Gazeta Admininstrator

Marisa Arruda Barbosa

Enquanto os números relacionados ao abuso de drogas ilegais diminuíram na última década, o abuso de drogas adquiridas por prescrição médica tem aumentado a ponto de autoridades falarem de uma epidemia na saúde pública nacional. Isso tem afetado diferentes áreas de todo o país, incluindo comunidades inteiras e famílias do condado de Broward.

Uma cidade no estado de Ohio está ficando conhecida por ter o maior número de overdoses do estado e com um número crescente de vítimas jovens. Em janeiro, a polícia pegou diversos estudantes de high school, incluindo um da sétima série, com medicamentos para dor, diz um artigo no New York Times de 19 de abril. Overdoses fatais mais que quadruplicaram na última década no estado, e em 2007 ultrapassou o número de acidentes automotivos como a principal causa de mortes por acidente, de acordo com o Departamento de Saúde do estado.

A psicóloga Karina Lapa, da South Florida Counseling, atende com frequência pais desesperados que foram notificados pela escola de que seus filhos estavam abusando de alguma substância. Essas substâncias não são apenas medicamentos, o que admira Lapa a que ponto pode chegar a criatividade.

Lapa conta que alunos abusam do álcool dentro das escolas e encontram formas criativas para não serem pegos, tanto na escola como quando estão dirigindo – quando completam 16 anos ou mais. “Para não serem pegos com cheiro de álcool, jovens têm mergulhado um absorvente interno na substância alcoólica e colocado como um supositório”, conta Lapa. “Isso porque o intestino grosso absorve o álcool mais rapidamente e o usuário não fica com o mau hálito”.

“Jovens compram uma espécie de incenso nessas lojas indianas e fumam, eu não sei ainda qual é o nome do tal incenso, mas tem um cheiro muito forte, pois uma vez uma mãe trouxe para me mostrar”, conta Lapa. “Outra novidade, é que jovens compram limpador de CD líquido e inalam como se fosse um lança-perfume”. Lapa conta também de uma droga chamada “cheese”, que é feita com o “lixo do craque”. Há também a cola de sapateiro, cera de carro, e assim vai a criatividade dos jovens.

Entre os medicamentos abusados, o methadone – usado contra dor - é o pior, segundo Lapa. “Em 6 meses a pessoa que abusa do medicamento envelhece 30 anos”, explica.

O acesso fácil às drogas “legais” por jovens se dá à independência, que eles adquirem cedo. “Com 16 anos o jovem já dirige, já trabalha ou faz algum trabalho social que lhe tráz certa independência financeira para adquirirem o que quiserem, longe dos olhos dos pais”.

Lapa explica que a mistura de medicamentos para dor, os “painkillers”, quando misturados com álcool são uma bomba relógio. Ela diz que há cerca de três semanas, um paciente dela recebeu um telefonema informando que seu filho, que vivia em Tallahassee por causa da faculdade, havia passado mal e foi levado a um hospital. Mal deu tempo do pai chegar e seu filho, de 19 anos, morreu de overdose.

“Eu digo que a pessoa não toma a droga, mas é a droga que toma ela”, diz Lapa. “Tem que ter tolerância zero com esse tipo de droga pois algumas delas basta experimentar uma vez para se viciar”.

O aumento do número de pessoas viciadas fez com que autoridades locais criassem contínuas operações preventivas para educar a comunidade.
O Broward Sheriff’s Office criou o Operation Medicine Cabinet (OMC) que é um programa multifacetado envolvendo educação e eventos para recolher medicamentos que não estejam sendo usados nas residências ou que tenham o prazo de validade vencidos. Ao se desfazer dos medicamentos, residentes do condado reduzem o risco de que os mesmos cheguem nas mãos de crianças, adolescentes, ou que sejam vendidos nas ruas.

“O sucesso do OMC tem tido cada vez mais popularidade. Até agora, nós coletamos e destruímos aproximadamente 215 mil unidades de medicamentos controlados e não controlados e tivemos quase 2 mil participantes”, disse Sara Oren, Prescription Drug Prevention Specialist do BSO. “Todos os medicamentos recolhidos são incinerados no nosso laboratório, a forma mais ecologicamente correta de destruir drogas”.

O vício
Segundo Lapa, existem vários fatores que levam ao vício. Pode ser genético, e muitas vezes é causado pelo ambiente em que o jovem vive.

No caso de pais imigrantes, que geralmente trabalham muito e não conseguem se fazer presentes, o filho às vezes busca um conforto que só encontra nos amigos. Daí, se o filho cair em um grupo que o induza ao uso de drogas, os pais só irão perceber, quando for tarde demais.

Lapa alerta também que estar em um meio de drogas, é estar também no meio da marginalidade e do crime.

“Ter os pais presentes também não é uma garantia de que o filho não irá abusar das drogas, mas pode ajudar muito, principalmente com o incentivo aos esportes, por exemplo”, conclui Lapa.

Operation Medicine Cabinet – Eventos para recolher medicamentos que não estão em uso

O BSO faz frequentes eventos para recolher medicamentos que não estejam em uso. Quem quiser participar pode levar os medicamentos aos pontos de recolhimento sem terem que responder a nenhuma pergunta, e ganham um gift card de $5 para uma loja local. Para obter informações a respeito do evento mais próximo de sua área, acesse: www.sheriff.org/OMC.

Como saber se seu filho está viciado em drogas sob prescrição?
Um em cinco adolescentes já abusou de um medicamento para dor, e na Flórida, esses tipos de drogas já mataram 300% mais pessoas que drogas ilícitas, de acordo com o BSO.

Jovens conseguem medicamentos com mais facilidade do que as ilícitas – tanto em casa, quanto na casa dos amigos ou farmácias online.

Alguns sinais que mostram que seu filho possa estar abusando de
substâncias:

- mudanças na personalidade
- má comunicação
- fraco rendimento escolar
- mudanças na aparência
- comportamento estranho

O que os pais podem fazer:
- Monitorar os medicamentos em casa. Conte quantos comprimidos você tem e coloque a data de quando deve comprar mais. Restrinja a disponibilidade dessas suas substâncias em sua casa.
- Fale com seus filhos abertamente. Explique sobre os riscos do abuso de
medicamentos e dos perigos de misturá-los a outras substâncias. Quando misturadas com álcool, o uso dessas drogas pode ser fatal. “Se não falar com realismo, ele estará exposto à realidade de qualquer forma quando estiver na rua”, diz Karina Lapa. Uma boa dica é participar dos eventos que recolhem medicamentos.

Administração Obama quer leis duras contra abuso de “painkillers”

A administração Obama disse no dia 19 que pretende criar leis mais duras que requeiram que médicos recebam treinamento antes de terem permissão para prescrever medicamentos poderosos contra dor como o OxyContin. Este é o passo mais agressivo dado por oficiais federais para controlar o uso e o abuso das drogas. Por anos acontecem debates se médicos devem ou não passar por um treinamento específico como uma condição para prescrever esses medicamentos.

Quem apoia o treinamento argumenta que isso ajudaria médicos a identificarem facilmente pacientes que seriam beneficiados por tratamentos usando esses narcóticos, e os ajudaria também a desmascarar pacientes que estejam abusando. Oponentes dizem que a obrigação do treinamento irá reduzir o número de médicos prescrevendo essas drogas, prejudicando assim os cuidados aos pacientes.

Tal medida iria requerer que o Congresso aprovasse uma emenda à Lei de Substâncias Controladas para exigir uma formação dos médicos como condição para a renovação dos certificados emitidos pela Drug Enforcement Administration para a prescrição de narcóticos. A lei dá agora a D.E.A. a autoridade para aprovar as licenças de prescrição se o médico apenas mostra uma licença ativa para a prática da medicina. Autoridades federais anunciaram a iniciativa legislativa junto com outras medidas que esperam reduzir o abuso de medicamentos.

Entre as drogas que provavelmente estariam na lista estão o OxyContin, fentanyl, hydromorphone e methadone. Elas são consideradas críticas no tratamento contra dores, e também estão associadas com uma epidemia nacional de abuso de drogas, vício e milhares de mortes relacionadas a overdose. OxyContin é a marca de uma droga chamada oxycodone. Dilaudid é a marca que vende hydromorphone.

Cerca de 600 mil médicos, dentistas e assistentes têm licença da DEA para prescrever substâncias controladas, mas eles não têm informação suficiente durante seus treinamentos sobre vício, tolerância e dependência.

Autoridades oferecem custear banco de dados de pílulas

Frente ao problema de saúde pública nacional, chefes de polícia de toda a Flórida ofereceram pagar, no dia 25, por um controverso banco de dados para controlar prescrições de remédios de controle de dor (painkillers), um projeto do estado que legisladores se recusaram a custear por enquanto.

A falta e indefinição de fundos tem sido uma das maiores preocupações frente a um banco de dados que custa $500 mil por ano, o que autoridades policiais dizem que será sua principal arma contra o abuso de painkillers.

Os chefes de polícia Al Lamberti, do condado de Broward, Ric Bradshaw, do Palm Beach County Sheriff, Brett Railey de Winter Park, Steve Bracknell de Lake Mary e Jeffrey Chudnow, de Oviedo, estão entre os 29 que se comprometeram a contribuir com dinheiro apreendido durante operações criminais. Isso veio com a insistência do procurador-geral, Pam Bondi, um apoiante do banco de dados.

“Ele está usando os ganhos ilícitos dos bandidos para nos ajudar a pegar mais criminosos”, disse Lamberti.

O banco de dados aprovado pelo Legislativo em 2009 havia sido adiado por um protesto, mas o Departamento de Saúde espera agora conseguir, através de um contrato operacional que pode ser decidido dentro de uma semana, e iniciar o processo até o final do verão.

Toda prescrição de analgésicos por dependência deverá ser registrada no banco de dados, então os médicos, farmacêuticos e policiais poderão verificar se o paciente estava “doctor shopping” - acumulando quantidades de comprimidos ilegais mediante a obtenção de prescrições múltiplas.

Nenhum imposto pode ser usado para pagar o banco de dados. O estado tem bastante recursos federais e privados para executá-lo por cerca de 18 meses. Os organismos policiais garantiram contribuir com o restante, caso o estado não consiga arrecadar o dinheiro necessário para manter o banco de dados.

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