Acusada de queimar ônibus no Rio é inocentada

Por Gazeta Admininstrator

Um mês depois de prender Sabrina Aparecida Marques Mendes, de 21 anos, e de apresentá-la como integrante do grupo de incendiou o ônibus 350 e matou cinco pessoas, a polícia pediu à Justiça sua libertação. A menor de 13 anos que confessou participação no crime e a havia reconhecido como cúmplice afirmou ter feito confusão entre Sabrina e a verdadeira criminosa - segundo ela, Brenda Lizer Santos da Silva, de 19 anos, que agora está sendo procurada.

A 2ª Vara Criminal decidiu soltá-la e a previsão é de que Sabrina deixe a carceragem feminina da Polinter, em Mesquita, na Baixada Fluminense, no início da noite de amanhã. A advogada da jovem, Eliane Rodrigues, disse que sua cliente já decidiu que irá processar o Estado pelo constrangimento que passou. "Foi uma injustiça muito grande, um mal irreparável", afirmou Eliane.

A inspetora Marina Maggessi, da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), que apresentou Sabrina à imprensa na sede da unidade, horas depois de sua prisão, no dia 8 de dezembro, explicou hoje o que houve. Segundo ela, o depoimento de L., a menor, foi suficiente para pedir a prisão de Sabrina porque se tratava de uma ré-confessa. A adolescente, que relatou como se deu toda a ação, foi reconhecida pelo motorista do ônibus.

A versão da garota foi tão convincente que Sabrina foi mantida presa mesmo sem ter sido reconhecida por dois sobreviventes que foram à DRE naquele dia (segundo Marina, é comum que pessoas traumatizadas por sofrer atos violentos não consigam reconhecer seus agressores). Ao ver uma fotografia de Sabrina, há um mês, L. afirmou categoricamente que ela havia atacado o coletivo. Ontem, mudou de idéia. Ao ver uma foto de Brenda, disse que era ela a mulher que havia entrado no 350 e obrigado os passageiros a ficarem na parte de trás do veículo, para que não pudessem escapar do incêndio.

A polícia voltou a inquirir L. porque, na semana passada, havia recebido uma informação dando conta do engano. Outra pessoa reconheceu a verdadeira criminosa: um líder comunitário da região da Penha, onde o ônibus foi queimado, que prestou depoimento na DRE há alguns dias.

Sabrina e Brenda são ambas morenas, têm cabelos cacheados e tiveram relacionamento com o traficante Anderson Gonçalves dos Santos, o Lorde, acusado de ter ordenado o atentado - daí o motivo da confusão da menor. Sabrina, que foi presa em casa e negou o crime, apesar de não ter apresentado um álibi, contou que havia rompido o relacionamento com o traficante, de quatro anos, em agosto. Brenda teria se envolvido com ele nesta época.

Para Marina Maggessi, quem errou foi L., e não a polícia. "Houve injustiça, mas por parte da menina, e é ela quem tem de pedir desculpas. Foi um grande equívoco", acredita.

Ela quis revelar o erro mesmo antes de Sabrina ser libertada pois a moça corre risco de vida, já que os criminosos que queimaram o ônibus estão jurados de morte por bandidos de todas as facções, além de serem procurados pela polícia. "Se não fizéssemos nada, ela seria colocada na rua e seria morta. Temos um compromisso com a justiça", destacou a inspetora.

A polícia procura Brenda, Lorde e outro membro da quadrilha, também em liberdade. A mãe, a irmã e uma prima da moça, que moram no bairro de Madureira, na zona norte do Rio, já prestaram depoimento e contaram que não têm notícias suas desde novembro - o crime foi no dia 29 daquele mês. Disseram que ela freqüenta favelas e gosta de bailes funk. A polícia acredita que Brenda e Lorde estejam juntos e espera que a população os denuncie.