Adaptar-se ou não adaptar-se: eis o problema!

Por Adriana Tanese Nogueira

human-2944064_960_720
Para estarmos no mundo e para realizarmos algo nele precisamos estar adaptados a ele. “Adaptados” significa conhecer os modos do mundo (leia-se sociedade na qual estamos, grupo, ambiente social), ter familiaridade com o estilo de vida, a linguagem, os valores e objetivos do coletivo no qual estamos inseridos e saber navegar nele como um peixe no mar. Se não soubermos nadar nessas águas não poderemos ter sucesso nelas. Portanto, estar adaptado significa estar bem encaixado numa família, num grupo, no sistema social, na empresa, na escola. Para conseguir isso é preciso se aproximar o mais possível do mínimo denominador do grupo (os valores e objetivos de fundo nos quais todos se reconhecem) e minimizar aquelas características que criam a diferença e que pertencem à unicidade individual. Assim, por exemplo, os grêmios de futebol tem como mínimo denominador a torcida por determinado time, que é inclusive a razão pela qual existe. Todos que pretencem a ele estão juntos por isso e se únem em nome disso. Daí, quanto mais um indivíduo se adaptar ao estereótipo de torcedor daquele time, mais adaptado ao grupo ele será. Será mais facilmente reconhecido, será menos problemático aos outros e provavelmente terá mais amigos. Mas ele será também mais estereotipado. Outro exemplo: peguemos uma família na qual comer (ou ter eletrônicos) é o mínimo denominador: partilhar mais refeições possíveis e, portanto, comer muito do tipo de comida daquela família, faz com que você seja aceito e se sinta parte integrante dela. E tem as atitudes sociais, posturas de status, raciais, de classe e ideológicas: quanto mais uma pessoa abraçar valores comuns sem perplexidade e sem questionamento mais próxima do centro do grupo será e, portanto, obterá as vantagens do apoio do grupo. Mas também será mais estereotipada e, assim, menos si mesma. Se olharmos para a sociedade como um todo, vemos que os mais adaptados são os que assumem como próprio o ideal de felicidade e de bem-estar que está vinculado “aos modelos e regras da cultura vencedora”. Agora, pergunte-se qual é a cultura “vencedora”, ou seja, a dominante, de seu contexto familiar, social e nacional? Pode ser que você não consiga responder a esta pergunta porque você está tão bem adaptado ao seu meio que sequer percebe como ele é, porque para você é a “normalidade”, é “como as coisas são”. Então, pense em alguém que conhece do qual o seu grupo não gosta, alguém que crie “problemas”, que está insatisfeito... Essa pessoa, não está bem adaptada, está sofrendo no lugar onde está. Certamente não está se sentindo compreendida, talvez brigue ou está irritadiça, incomodada, triste, inconformada, talvez você mesmo se sinta assim sob a fachada de alegria e paz... A pessoa bem adaptada é aquela que se conformou e se identificou ao modelo social que uma coletividade assume como referência e padrão – mas que não necessariamente a fará feliz porque não necessariamente é o que ela precisa. É sempre importante, portanto, quando falarmos em “adaptação” que nos perguntemos: “adaptação ao quê?” Charles Darwin, o descobridor da evolução das espécies, deve ser entendido criticamente quando o queremos aplicar à realidade humana. Todas as sociedades tem modelos do que é ser cidadão, um homem, uma mulher, uma criança, uma pessoa de sucesso e, consequentemente, em pessoa fracassada. Abraçar e encarnar esses padrões sem pensar duas vezes é o que se chama de adesão a- crítica ao modelo. Se por um lado isso nos garante a adaptação, por outro nos achata a um estereótipo, o que significa reprime nossa unicidade e originalidade. E daí para que serve sermos adaptados se não podemos expressar nossa verdadeira identidade?