Adriana Nogueira: Adolescência e autoridade dos pais

Por Adriana Tanese Nogueira

boy-1042683_1280 - Copy

Uma das características da contemporaneidade é o questionamento do princípio de autoridade, começando com aquela dos pais. Os critérios do passado não funcionam mais para manter uma relação respeitosa com a nova geração. Muita coisa mudou, muita coisa que não se encaixa nos padrões antigos.

Assim, é sempre mais difícil exercitar a autoridade sobre os filhos adolescentes, o que, entretanto, é de enorme importância para o desenvolvimento adequado, equilibrado e saudável dos mesmos. Por outro lado, é justamente nessa fase que os pais se sentem cansados. Já fizeram muito, já trabalharam muito, já lutaram muito para manter a família unida, ou para prover por ela, superar os desafios de cada dia e as mil e uma demanda dos filhos em suas diversas etapas de desenvolvimento. Após 15 anos, estão precisando de umas “férias” do trabalho de ser pais e eis que as coisas voltam a ficar complicadas, tão complicadas quanto aqueles primeiros meses de vida daquele bebê lindo, mas que também colocou suas vidas de ponta cabeça.

O que fazer? Analisemos o conceito de autoridade: há a autoridade e o autoritarismo. Este último é a imposição da autoridade pela simples força: o mais forte manda, ponto, fim de discussão. Quando a criança é pequena, quantas vezes não a pegamos pelo braço e a arrastamos para fora da cama ou para ficar de pé e parar de se jogar no chão, ou a mandamos pro quarto “pensar”? Atos baseados no fato que você é mais forte e ela tem medo de você. A criança tem perfeita noção, apesar de forma inconsciente, de que ela depende de você para sua sobrevivência. E você também sabe disso e, às vezes ,se aproveita porque não sabe o que fazer, né?

Isso cria ressentimento interno que, mesmo quando não for projetado diretamente sobre os pais (porque as crianças os amam), se reflete no desconforto delas diante dessa dependência e vulnerabilidade que todos conhecemos, porque todos fomos crianças.

Aí chega a adolescência e, com ela, a vontade de quebrar todas as correntes e de ser donos de si. Essa vontade tem raízes biológicas: o ser está caminhando na direção da maior idade, que consiste justamente em “ser dono de si”. Mas o jovem continua sentindo suas limitações, enormes e reais. E isso dói – e dá raiva. Ele quer ser e fazer, mas não é objetivamente “ninguém” no mundo. Muitas vezes, seus pais continuam tratando-o como uma criança, e ele se ressente disso, não podendo perceber que a criança ainda está nele; enquanto seus pais nem sempre conseguem enxergar o homem ou a mulher querendo desabrochar naquela criança que conhecem desde bebê...

É um processo dolorido e conseguirmos manter a autoridade nos permite ajudá-los, e eles precisam mais do que nunca de nossa ajuda.

É necessário então desenvolver a autoridade, aquela coisa que nasce por causa do respeito e não do medo. O medo afasta, o respeito apromixa. Pais devem ser guias discretos e generosos, mas firmes e perspicazes. Saber reconhecer o antigo e o novo no filho, permitir-lhe suas experiências e seus erros segurando o timão para que não sejam demais e derralhem a carruagem. Cada caso é um caso, por isso é preciso olhar de perto cada realidade para desatar nós e permitir o fluxo do desenvolvimento.

Também, ter autoridade e respeito não é ser amigos dos filhos: a relação não é igual àquela entre pares. Pais são líderes. O estilo da liderança pode e deve ser amoroso, disponível e generoso, mas sobretudo honesto, incluindo reconhecer erros. Entretanto, sua voz precisa ser ouvida por fazer sentido, por fazer diferença em prol do bem maior.