Adriana Nogueira: Ansiedade somatizada, ansiedade cristalizada

Por Adriana Tanese Nogueira

Dizemos que um distúrbio físico é uma somatização quando está vinculado à falta de uma causa orgânica ou a uma reação mais intensa do que a esperada diante do distúrbio. Chama-se orgânico o sintoma que pode ser referido a algo visível (mesmo que microscopicamente) e mensurável (por exemplo, num exame de sangue). Chama-se “psicógeno” o sintoma que não é determinado por causas orgânicas ou que a pessoa sente de forma amplificada e mais intensa.

Na “somatização”, as sensações são autênticas e mesmo intensas, mas o mecanismo nasce no sistema nervoso central e se associa, frequentemente, à ansiedade ou depressão.

Estamos acostumados a considerar a ansiedade como um fenômeno exclusivamente psíquico, mas a prática clínica mostra que, frequentemente, o mal-estar não se manifesta no plano mental, na forma de pensamento ou de sensação psicológica, mas toma o caminho do corpo, o qual “entra em ansiedade”, produzindo desconfortos e sofrimentos sem qualquer patologia física que justifique sua existência ou intensidade. Nesse caso, dizemos que a ansiedade não é consciente, mas inconsciente. Permaneceu por baixo da nível da consciência. Pode acontecer tanto que a pessoa não se deu conta de estar ansiosa, ou se acostumou de tal maneira que não percebe a ansiedade como um problema, mas como algo “normal” e, assim, empurrou para fora do campo da consciência essa percepção.

Entretanto, que estejamos conscientes ou não da ansiedade, ela continua agindo e se manifesta como sintoma físico. Em ambos os casos, ela representa uma campainha de alarme que denuncia que algo está mantendo o organismo da pessoa (mente e corpo) em situação de estresse e de desconforto. É muito comum que a origem das somatizações da ansiedade se encontre nas situações da vida relacional ou profissional, mas também no mundo interior da pessoa e suas vivências mais íntimas.

Toda função e órgão podem ser afetados pela ansiedade. Há muita variedade subjetiva nas manifestações, cada um de nós é único e reage de forma única às situações, entretanto, a ansiedade acomete a todos e cuidar dela é indispensável para uma vida saudável e harmoniosa.

Eis algums dos sintomas mais frequentes associados à ansiedade:

- Neuromuscular: formigamento, rigidez e dores musculares; parálise; fraqueza; tremores; tonturas e vertigens; dores de cabeça e sensação de cabeça confusa ou ter um círculo em volta da cabeça.

- Respiratórios: falta de ar e respiração curta; sensação de sufocamento; sensação de peso no tórax.

- Dermatológicos: suor excessivo; erupções cutâneas e avermelhamento tipo hurticária.

- Cardiovasculares: palpitações e taquicardia; hipertensão; peso no peito; sensação de desmaio.

- Gastrointestinais: dores viscerais difusas; gastrite e refluxo; náusea; falta de apetite; digestão difícil e lenta; diarreia; cólon irritável.

- Urogenitais: vontade frequente de urinar ou urgência de urinar (bexiga nervosa); dores pélvicas difusas ou localizada nos genitais.

Quando não tratados, os distúrbios da ansiedade são acompanhados com frequências por sintomas depressivos; a ansiedade se torna mais um elemento de estresse, promovendo a sensação geral de desânimo e desesperança.

Qualquer terapia médica que aborde a ansiedade deve ser acompanhada por uma terapia psicológica adequada que esteja voltada a resolver o sintoma da dor enquanto promove uma nova forma de considerar e perceber as mensagens do corpo, ajudando a pessoa e interpretar, reconnhecer e enfrentar as situções emocionais que mais provocam sua ansiedade.

Passar a uma nova concepção da relação mente-corpo significa abrir-se para o nosso ser mais profundo e suas mensagens, as quais estão sempre todas voltadas a criar mais harmonia e bem-estar para o organismo inteiro (a pessoa como um todo). A ansiedade bloqueia o movimento, quando somatizada nos paraliza em sintomas de todo tipo. Aprendendo a lidar com ela, “fludificamos” essas cristalizações e ganhamos energia.