Adriana Nogueira: Como agir com uma criança pequena

Por Adriana Tanese Nogueira

pai e filho

A criança pequena não conhece o conceito de “obedecer”. Ela está intensamente conectada aos seus impulsos interiores, que estão se revelando a ela e que a levam ao movimento e às inúmeras descobertas que definem os primeiros anos de vida.

Quantas coisas seu corpo é capaz de fazer e sentir? Quantos sabores, sensações, movimentos? Como cada uma dessas descobertas a faz sentir? Como o mundo se descortina para ela? Ligada nesse mundo mágico sensorial e emocional, a criança pequena não é um ser racional como nós, adultos. Portanto, no lugar de “sermos obedecidos”, vamos pensar em termos de sermos seguidos, como uma ovelhinha segue seu bom pastor. E para isso, precisamos sair do nosso modo racional de operar e nos conectarmos a ela pela linguagem que ela entende e que é emocional, energética, sensorial e sentimental.

As crianças não entendem o porquê do permitido e do proibido. Falta-lhes tanto a experiência como o conhecimento do convívio social e das responsabilidades que somente a idade adulta plenamente dispensa. É através dos pais que a criança vai se ajustar à realidade e se inserir nela de forma (esperamos!) criativa e construtiva.

Como obter este resultado? Estabelecendo uma relação com a criança. Relação é uma coisa muito mais sutil do que parece; não basta conversar e cuidar de suas necessidades físicas, precisa ter vínculo. O vínculo é uma conexão invisível que se estabelece a partir de um centro interior para outro centro interior. Nasce de uma intenção atenta e aberta para se ligar a outra pessoa acolhendo-a e se abrindo a ela. Relação é um vincular-se consciente e amorosamente a outro ser. Uma relação se sente na pele por assim dizer, não precisa de palavras e é palpável entre duas pessoas vinculadas.

Uma vez que esta relação existe, então o conceito de imitação faz todo o sentido. Quando uma criança pequena está tomada pela euforia de uma brincadeira, pela bagunça de grupo num momento de festa e situações do gênero em que está menos “sob controle”, ela só irá se sintonizar com o que o adulto fala se este adulto for muito significativo para ela. O adulto de referência (mãe ou pai, ou ambos) tem que ter um alto valor emocional para a criança para que seja para ela como um farol nos tumultos dos sentidos e das emoções. Somente assim o que o que adulto falar e fizer poderá ser ouvido e imitado.

Uma vez que existir a relação vinculada e vinculante, a fala do adulto deve vir de seu centro sensato e sábio, sendo calma, firme e decidida. Pode-se até gritar de vez em quando – pode acontecer, mas a gritaria histérica tira credibilidade do adulto e enfraquece a relação com a criança. A irritação precisa ser contida e transformada em ação efetiva. O adulto é o líder, não o general.

Como líder ele precisa mostrar como se faz, então, ele faz. É pelo movimento de seu corpo, pela energia que transmite, pelas emoções que passa que o adulto vai se tornar o líder seguido pela criança. Falando sua linguagem, ele ganha seu respeito. Ele interfere com a realidade de forma física e energética (não enérgica) – assim como é física e energética a criança. Significa que, às vezes, é preciso tirar um brinquedo (o um celular!) da mão e pronto, calma e firmemente, sorrindo. Significa criar mudanças no campo material e das emoções introduzindo ordem (catando os brinquedos, por exemplo) e calma (mostrando-se calmo e contido, mas sério e decidido).

Crianças precisam de líderes. E, como diz a sabedoria chinesa (I Ching), um líder precisa antes saber seguir para depois ser seguido.