Adriana Nogueira: Como funcionam as emoções

Por Adriana Tanese Nogueira

Para entender como funcionam as emoções, pense no sistema hidráulico de sua casa. Para funcionar, precisa que os canos estejam vazios para que a água passe, certo? Se houver um entupimento, há congestação e eventualmente o cano poderá rachar, quebrar ou até explodir. Agora, não importa se o que entupiu o cano é lixo ou ouro. Se está entupido, o sistema inteiro não funcionará. A água, com todo seu peso, irá gravitar na direção do ponto fraco do sistema para vazar. Porque vazar é preciso. Ou explodirá.

A água são suas emoções, o sistema hidráulico sua psique. Observe se não é assim mesmo que acontece em você: ocorre algo, você armazena tensão, positiva ou negativa, ansiedade, medo, raiva, um impulso de qualquer natureza e, no lugar de expressá-lo, o reprime. Se cala, se distrai com outra coisa, muitas vezes nega o que sente sem nem perceber. E vive assim um dia atrás do outro, engolindo muito mais daquilo que percebe até nem mais perceber...

Esses conteúdos “energéticos” não sumiram, estão em algum lugar de seu sistema e, exatamente como a água parada, vão criar problemas. Com a água, o segredo é: nunca deixá-la parada, certo? Com as emoções é a mesmíssima coisa. Mais paradas, mais problemas. Problemas que vão vazar por toda brecha possível, em sintomas, atos falhos, sonhos, momentos de “fraqueza”, quando se está desavisado... Certeza maior não tem: uma hora a coisa vai vir à tona e exatamente no lugar onde existe uma brecha – a brecha sendo o ponto mais vulnerável. Afinal, ninguém pode manter a guarda alta o tempo todo, certo?

E aí, um dia, se sente uma tensão enorme dentro do peito... (e pressão alta, ansiedade, depressão...). É preciso aliviar, fazer vazar, mas... e se do outro lado for uma represa? O risco é ser arrastado por um tsunami assustador... que se teme. Então, no lugar disso, se toma remédios. Mas remédios não vão resolver.

O que fazer então? Ampliamos (num trabalho terapêutico qualificado) o aquário um pouco de cada vez. Melhoramos a comunicação interna, ajudamos o ‘eu’ a reconhecer, aceitar e aprender a lidar com o oceano dentro dele. Nem todo o mar vai entrar ou mesmo precisa entrar em seu pequeno aquário, mas compreenda que um aquário minúsculo irá perceber uma pocinha de água como um oceano. Tudo depende da perspectiva! Qualquer que seja o caso, precisamos ampliar as fronteiras e a mente. Alternativas não conheço.

Por que isso é tão difícil? Por que as pessoas estão geralmente tão reprimidas?

1) Porque vivemos numa cultura repressora do ‘eu’ interior, o que significa que é preciso engolir muita coisa para fazer parte, ser aceito, fingir ter autoestima alta e levar a vida adiante na selva social.

2) Porque vivemos numa cultura cartesiana que valoriza a razão em detrimento das emoções, não se dando conta que todas as razões do mundo são destronadas por emoções irracionais, baixas e violentas. A história é testemunha, o presente é testemunha.

3) Porque, consequentemente, não se ensina a lidar com as emoções. Não existe o processo de ouvi-las, entendê-las, processá-las. No lugar disso, racionaliza-se, que é um tiro no pé. Colocar um durex para tapar uma brecha aqui não vai frear a água de encontrar outra saída lá, outro sintoma.

4) Porque ouvir nossas emoções significa se disponibilizar para as mudanças. Emoções não são neutras. Elas têm conteúdo, nos comunicam alguma coisa. 5) Enfim: unificar holisticamente razão e emoções é tarefa humana do século XXI. Não se trata de culpar os pais ou a sociedade, mas, reconhecendo os limites passados e presentes, aceitar que estamos aqui para sermos transformadores, e não clones.