Adriana Nogueira: Crianças mimadas e pais histéricos

Por Adriana Tanese Nogueira

Esta reflexão está inspirada num trecho do livro “Vamos acabar com isso!” (“Facciamola finita!”, 2011), do pediatra e professor italiano Paolo Sarti, consultor da região da Toscana para a educação e capacitador das professoras das creches públicas da cidade de Firenze.

Segundo ele, as próprias crianças com sua inquietação, nervosismo incontrolável, sono perturbado, falta de apetite ou gula histérica clamam por uma mudança radical na abordagem de seus pais.

Temos, hoje, crianças que crescem com uma raiva e arrogância relacional injustificadas e insustentáveis, capazes de desmoronar por causa de um insucesso escolar ou, o oposto, histericamente agressivas, desafiadoras e ameaçadoras, gesticulando exageradamente mesmo quando festejam um sucesso esportivo, geralmente obtido com tenácia obsessiva, muitas vezes sem regras ou respeito.

Tudo sem regras, limites e imposições, conforme uma pedagogia permissiva e liberal: tudo combinado, avaliado e decidido por elas, e a elas subordinado. Tudo define-se e estrutura-se à medida da criança, uma medida necessariamente estreita e míope sem a organização madura e a perspectiva do adulto. Um mundo-criança mimado, carregado de individualismo e de barulhento protagonismo exibido. Um mundo estático, todo baseado no hoje, onde ao adulto é concedido somente o lugar de espectador e, naturalmente, de servidor.

Vamos acabar com esta absurda e fracassasda pedagogia do mimo e do excesso de justificativas, que visa preservar a criança de todo esforço, empenho, luta ou frustração. Conseguimos fazer de nossos filhos crianças não somente incapazes, mas também insuportáveis e antipáticas.

Por outro lado, temos pais aniquilados numa pseudodemocracia decisória, que vê as crianças decidirem por eles, crianças obrigadas a assumirem responsabilidades que seriam e deveriam ser do adulto. Nessa falsa democracia, descarregamos sobre a criança obrigações que são nossas, de adultos com conhecimento e visão. E o fazemos não porque respeitamos a criança, mas porque temos medo de não saber sustentar a reação dela se a contrariarmos.

E é assim que são as crianças tomam decisões que, porém, só sabem tomar com base no oportunismo e no presente (porque é assim que funciona o pensamento infantil). Portanto, inevitavelmente, pagarão no futuro por aquilo que não lhes foi possível prever hoje. “Quer ir na vovó?”, “Quer esta roupinha?”, “Quer ir para a cama?”. Pobres crianças, esmagadas pela carga decisória!

Os pais se tornaram tão frágeis e emotivos até serem incapazes de darem regras, de estabelecer com autoridade limites que permitam a criança se orientar na vida: tudo é logo, garantido, grátis, obsesssivamente simplificado.

Vamos acabar com essa história de não ser pais. Temos, hoje, uma geração de crianças em crise.

Ter abandonado seu papel educacional não tornou os pais mais livres e descansados, muito pelo contrário! Com frequência, além de termos crianças estressadas e desobedientes, temos pais sempre mais histéticos, exaustos, arrependidos de ter tido filhos. Insatisfeitos e atormentados, têm como objetivo fazer o tempo passar o mais rapidamente possível para que chegue logo o momento em que a criança terá superado sua “criancice” e terá chegado finalmente à fase adulta, acasalada e com um bom trabalho.

Mas, o que acontece são filhos que, apesar de crescidos, prolongam o tempo da dependência, não se sentindo nunca prontos para abandonar seu status de filho, e continuam assim a se apoiar nos pais além de qualquer limite histórico conhecido.

Por seu lado, os pais assumem uma atitude dissociada: se, quando os filhos eram pequenos, desejavam que eles crescessem rapidamente (evitando administrar as difíceis e complexas questões relacionais daquelas fases), quando crescidos, fazem tudo para mantê-los ligados, vinculando-os com relações confortáveis, fáceis e superficiais, nas quais estes são sempre “as crianças”, adultos que não cresceram, eternamente crianças, todo papai e (sobretudo) mamãe!