Adriana Nogueira: Depressão do corpo e da alma

Por Adriana Tanese Nogueira

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Há dois tipos de depressão, aquela do corpo e aquela da alma. Quando combinadas, o que infelizmente é comum, se potencializam num coquetel de difícil digestão.

Disse Alexander Lowen, fundador da Bioenergética, que o corpo tem suas alegrias e tristezas. Nosso corpo mamífero está sujeito às mesmas leis dos outros mamíferos. Assim, a alegria sem motivo dos filhotes é a mesma daquela do bebê: é a alegria da vida, do estar vivo. E como a vida é movimento, então a alegria vem do livre e espontâneo movimento do ser vivo. Basta observar a alegria de animal solto após muito tempo preso para entender que a alegria da vida é a alegria do movimento livre.

O movimento livre é aquele espontâneo e harmonioso, produz leveza de espírito e faz a todos sorrir agradecidos. É o corpo se regojizando de si mesmo, a vida celebrando a si própria, bebendo de sua propria energia vital, orgasmicamente renovadora. A vida celebrando a si própria, numa autorevelação constante. Alegria de Ser. Alegria do Ser.

Desde cedo, porém, sofremos inúmeras coerções que inibem nossa espontaneadade. Que a criança seja disciplinada excessivamente ou que seja mimada conforme o gosto do adulto, o resultado é o mesmo. E então surge a depressão do corpo: corpo tolhido em sua expressão espontânea e natural, aprisionado em espaços e ritmos que não o respeitam. Corpo pesado, cansado por falta de descanso, de tempo livre, de comida saudável, de movimento, movimento livre. Burro de carga de uma mente tirânica, de um coração amarrado e ao mesmo tempo alienado de seus próprios instintos que, como uma guia, iriam lhe dizer do que precisa. Corpo esquecido.

A depressão da alma surge pelos mesmos motivos e pode ser potencializada pela depressão do corpo. A mesma liberdade que o corpo demanda para sua felicidade, a alma também precisa. O que é a liberdade da alma? É aquela de sentir: ter a liberdade de sentir. Sentir o que? Sentir a vida. O que cada experiência lhe diz, lhe propõe, lhe oferece. Liberdade de seguir as próprias inclinações, as próprias tendências interiores.

Mas, para que essa liberdade possa acontecer é preciso que seja possibilitada: pelos pais e pela sociedade na qual a pessoa vive. Cada um de nós é único e por isso é pioneiro de sua própria realidade. Isso significa que o mundo não tem um lugar pronto para nós: o precisamos criar.

Sem orientação e apoio, a pessoa, no lugar de criar, tenta se encaixar num lugar, numa forma pré-constituída. O efeito é duplo: por um lado, se encaixar parece tornar a vida mais fácil; por outro se paga ao preço de silenciar a própria verdadeira individualidade. Calando quem realmente somos, perdemos a espontaneidade real, e com ela o contato com o que sentimos profundamente. E nasce a alienação de si, o que significa que não sabemos mais o que realmente queremos. Aprendemos assim a viver conforme o que querem de nós. Pode-se ser feliz? Tão feliz quanto um leão numa jaula.

Depressão é o nome disso. Depressão por ter desistido de si e perdido contato consigo muito tempo atrás. Depressão por não poder desenvolver a própria natureza. Depressão por ter perdido contato com essa natureza. Depressão por viver sem viver, por perder aquela vida preciosa que lá no comecç foi celebreda com pulinhos de alegria e riso...