Adriana Nogueira: Genitores ativos e conscientes

Por Adriana Tanese Nogueira

Mixed race father and son playing on sofa
[caption id="attachment_129145" align="alignleft" width="300"] Mixed race father and son playing on sofa[/caption]

Em nosso mundo de adultos enrolados em preocupações, compromissos, contas para pagar, prazos, tensões e ansiedades, é muito fácil nos esquecermos que as crianças vivem uma realidade diferente, aliás, estão mergulhadas em outra dimensão – a da infância. Precisamos tomar cuidado para não violentá-las, forçando-as precocemente a se conformar a um estilo de vida que irá lhe cortar as asas.

O processo de “aterrisagem” na realidade como a conhecemos é lento e precisa ser assim. As crianças necessitam ter tempo para ir se adaptando, se encontrando, se entendendo e entendendo o mundo a sua volta. A realização dessa alquimia interna entre o que elas trazem consigo, em sua realidade psíquica profunda, e o que encontram na realidade que seus pais lhes oferece, necessita de tempo e respeito.

Está provado cientificamente (vejam as pesquisas de Leboyer e depois de Michel Odent) que os bebês precisam de nascimentos respeitados. Isso equivale a sensibilidade, delicadeza e atenção na hora de recebê-los. Um parto natural e amoroso promove a capacidade de amar de uma criança. Para conseguirmos esta experiência, é preciso compreender a realidade intraútero do bebê e proporcionar-lhe uma transição para a realidade fora do útero o mais suave possível: no tempo dele, na penumbra, no silêncio, no aconchego do ventre materno (só que do lado de cima, agora) e sem interferências médicas desnecessárias.

Da mesma forma, respeitar as crianças é compreender o mundo delas (o mundo de dentro) e oferecer-lhes as condições para entrar no nosso mundo no tempo delas, permitindo-lhes que processem essa transição sem violentá-la com responsabilidades e problemas que não lhes pertencem.

Crianças precisam de paz para criar raízes nesse mundo, em nossa realidade e estilo de vida para, em seguida, construir sua própria identidade e definir seu lugar no mundo. Crianças que cedo demais foram jogadas no mundo adulto ou mesmo naquele de crianças mais velhas, com seu ritmo e lógica, irão pagar o pacto por isso, que irá se manifestar em “hiperatividade”, “déficit de atenção”, “mimo e manha”, “rebeldia” e “depressão”.

Ser pais hoje, mais do que nunca, significa muito mais do que dar casa, comida e escola para os filhos. Cuidado também com a diversões, fruto geralmente do desejo reprimido do adulto carente e da manipulação da mídia e da indústria da diversão, que usa o desejo infantil para produzir lucro – lucro para adultos.

Crianças precisam da quantidade certa de estímulos, demais ou de menos produzem resultados semelhantes. Uma vez recebidos os estímulos, elas precisam de tempo para digeri-los, tempo de solidão, quietude, tempo para estar consigo mesmas. É triste ver quantas crianças são incapazes de estar consigo, viciadas como estão no excesso de estímulo. É como se tivesse crescido na base de Cheetos e não conseguem apreciar o sabor de uma maçã.

Daí a importância de sermos genitores ativos e conscientes, pessoas que escolhem com base em conhecimento e não no impulso cego manobrado por hábitos ou conveniências. O investimento que fazemos sobre nossos filhos vale mais do que qualquer outro porque se reproduz geometricamente no resto de nossas vidas.

A maior parte dos problemas que adolescentes e pais enfrentam hoje poderiam ter sido evitados se, no começo de sua trajetória, juntos, esses jovens tivessem tido condições mais propícias para o desenvolvimento de suas personalidades, o que significa pais mais disponíveis para compreender o mundo deles no lugar de forçá-los a entrar no seu antes do tempo, vesti-los com camisas que não são deles ou simplesmente omitir-se em educá-los.