Adriana Nogueira: Medo dos filhos

Por Adriana Tanese Nogueira

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Sabe quando você tem que lidar com um animal selvagem ou uma máquina potencialmente perigosa cujo funcionamento desconhece? Você pega com cautela ou temor que quebre ou tenha alguma reação inesperada e incompreensível.

Tem medo de desencadear uma reação catastrófica que não saberá como resolver. Então vai devagar e se contenta em conseguir o mínimo.

Quantas máquinas superpoderosas têm em mãos, até mesmo nossos próprios celulares, que são usadas ao mínimo de seu potencial? O importante, muitos pensam, é que funcione o suficiente para fazer uma ligação, tirar uma foto, mandar um whatsapp.

Conseguir tirar muito mais do que isso requer tempo e dedicação para aprender, às vezes, mudar nosso sistema de pensamento para fazer lugar para uma lógica nova e novos conhecimentos. E, como estamos geralmente cansados e estressados, simplesmente não temos vontade de mais um esforço, e nos contentamos com o mínimo. Algo parecido acontece na criação dos filhos. Essas criaturas que saíram de nossos ventres, que pertencem ao nosso DNA, que têm nosso nariz, os olhos do pai, a boca da vovó e o cabelo do tio, apesar do amor que se sente por elas, são com mais frequência do que parece percebidas e tratadas como animaizinhos selvagens e exóticos, cuja “modalidade de funcionamento” nos são desconhecidos.

Em nossa pressa cotidiana e falta de energia para parar para pensar, realmente pensar e olhar para esse ser que temos em casa, nessa correria forçamos nossos filhos dentro de algum comportamento mínimo aceitável e pronto. Na falta de compreensão do que realmente acontece com eles, nos contentamos com exigir o mínimo, sendo “o mínimo” que incomodem o mínimo!

O método principal para conseguir esse mínimo é dar eletrônicos. Hoje em dia um ipad substitui o que antes era a chupeta, que não a caso se chama em inglês “pacifier”, “pacificador”: estabelece-se a “paz” calando a boca da criança ou distraindo-a de si mesma.

Os eletrônicos entram em cena porque o adulto tem medo do choro da criança, choro que surge quando esta é contrariada. Opa, seu filho não pode ser contrariado! O que diria seu avô ou bisavô sobre isso?

Os pais de hoje parecem ter abdicado de serem os líderes do bando, ou seja da família. Cabe a eles e não à criança dar as regras, regras sensatas e sábias que ensinem a disciplina e o respeito necessários para se ter uma vida positiva e construtiva. Abdicaram porque o choro os inibe, a vontade da criança vence e vence porque eles não entendem de fato o que está acontecendo com ela e não querendo ser violentos ou não querendo ir fundo, acatam o que ela quer e acham que “resolveram”.

Assim. Se chega a justificar os erros do filho, com frases como “crianças são assim mesmo”, ou “faz parte da idade”. Isso é cobrir o sol com a peneira.

Por que os pais fazem isso? Porque os pais temem algo “terrível” com o filho, os pais se identificam com o filho e no fundo o endossam (os filhos fazem o que eles, adultos, já não podem fazer mais); os pais não têm “tempo” para se dedicar ao filho. É uma escolha míope, porque a bola de neve só vai crescer com o tempo.

Não enfrentar a prepotência de uma criança de dois, cinco, dez anos hoje só vai gerar um jovem problemático que vai nos dar muitos problemas. E vai chegar o dia em que os pais vão se queixar do filho estar sempre em joguinhos no lugar de lidar com livros, trabalho e projetos de vida. E tudo começou porque se esperou o mínimo dos filhos por medo de lidar com eles.