Adriana Nogueira: O que é inteligência

Por Adriana Tanese Nogueira

inteligencia

A partir de sua raiz latim, entendemos que inteligência significa “ler entre as linhas”. O verbo “intelligere” (de onde vem “inteligência) é formado por “inter” (tra) e “legere” (ler, captar, “sacar” e também “ligar”). Então, inteligência é a capacidade de ler as entrelinhas e de interligar ideias não explicitamente relacionadas. A pessoa inteligente colhe os pensamentos, é capaz de raciocínios abstratos, sabe planejar e criar estratégias.

Por este motivo, inteligência não equivale a saber muitas coisas. Para isso, basta ter uma boa memória. Ter ido à faculdade não é sinônimo de ter inteligência. O conhecimento adquirido pode aguçar a inteligência, fazê-la trabalhar e desenvolver, mas não é suficiente. Ingurgitar texto não torna ninguém inteligente. Com inteligência se nasce e é possível desenvolver o que mãe natureza nos deu. É preciso de exercício.

Nascemos todos com um corpo belo e saudável, pronto para o uso. Se, ao invés de exercitá-lo, o deixarmos mofando na frente de uma TV ou jogando joguinhos, aquela agradável forma inicial irá se deformando, e logo temos crianças obesas e preguiçosas. Com a inteligência acontece o mesmo. O potencial está lá, bonito e lustro, precisa ser exercitado e treinado para obtermos aquela maravilhosa coisa que se chama inteligência. As piruetas e acrobacias que vemos uma habilidosa ginasta executar são frutos de anos de treinamento feito com dedicação e seriedade. O mesmo vale para a inteligência.

O exercício para fortalecer a inteligência é o estudo crítico e o pensamento reflexivo. O estudo crítico é aquela forma de estudar que não se limita a engolir informações, mas que as religa, elabora, aprofunda e pergunta. Pensamento reflexivo é a capacidade de reconsiderar o já pensado, isto é, de questionar o que pensamos por hábito, as crenças, as tradições, as repetições que afogam o espírito. Significa se entreter com as ideias sem assumi-las ou aceitá-las de imediato. O pensamento reflexivo é dialético, está animado pela vontade de enteder “de verdade”, de penetrar sempre mais fundo nas coisas e dar um sentido ao todo (a vida, um episódio, um drama familiar, um desafio profissional, um projeto social, uma vontade inexplicável).

A inteligência necessita de leituras variadas. Assim como é preciso variar o cardápio alimentar, o intelecto também precisa de diversidade para se desenvolver. A inteligência tem espírito investigador, curiosidade, interesse. Faz perguntas. Gosta de saber das coisas e é honesta, não dobra os pensamentos aos seus interesses. A inteligência percebe o preconceito e o desconstrói. Cada novo texto ou nova situação de vida coloca a pessoa inteligente à frente de onde estava antes.

Conforme as análises feitas por Jung em “Tipos Psicológicos”, a função Pensamento (da qual deriva a inteligência da qual estamos falando) pode estar em sua forma desenvolvida ou primitiva, dependendo da personalidade da pessoa e do treino que ela tem. Para reconhecer em que estágio ela está, basta observar seus frutos. Se seus raciocínios terminam sempre no mesmo ponto, se vira e mexe o que a pessoa ler ou supostamente aprende “confirma” o que ela já “sabia” seu pensamento é subdesenvolvido. É como uma pessoa que em qualquer coisa coma encontre sempre o antigo e familiar sabor do arroz com feijão.

A inteligência é criativa, de tudo sabe extrair novo conhecimento. Assim como da análise das fezes se produz informações importantes sobre o paciente, a inteligência verdadeira não olha nada com desdém. Pensamento que se preze é um dialogo infinito seja com o real fora de nós que com aquele dentro de nós.