Adriana Nogueira: A perfeita simbiose mãe-bebê

Por Adriana Tanese Nogueira

O bebê humano nasce num estado de total vulnerabilidade. Por causa do maior tamanho de seu cérebro e do fato de o tecido nervoso necessitar, mais do que qualquer outro, de mais calorias para se manter, grande parte do alimento ingerido é gasto para prover nutrição e calor para as células nervosas.

Fortemente significativo é o fato de que nós, humanos, precisamos nascer antes de nosso cérebro estar totalmente desenvolvido, porque se esperássemos pelo seu desenvolvimento completo do sistema nervoso, não teríamos condição de passar pela pelve materna no momento do parto.

Não só, ao contrário de outros mamíferos, como girafas e cavalos, o recém-nascido humano é incapaz de andar por um longo período após o nascimento, porque lhe falta o aparato neurológico maduro para isso.

O custo primal de ter um cérebro grande é que nossos filhotes nascem extremamente dependentes e em necessidade constante de cuidado.

Fala-se, portanto, em “exterogestação”. Este é o tempo, geralmente no mínimo 9 meses, de vida fora do útero durante o qual o bebê humano amadurece neurologicamente e se prepara a dar o salto evolutivo para a fase na qual consegue se alimentar e andar sozinho.

Durante este período - aliás, pelos primeiros 12 meses de vida -, o crescimento do cérebro é gigantesco. O primeiro ano humano é o mais complexo, inovador, rico e desafiador na inteira existência individual.

E quem está com o bebê nesse período de tempo? A mãe. A mãe que será lembrada pelo resto da vida como o berço suave, o amparo, a acolhedora, a segurança e proteção. E quando não o for na realidade, se sonhará com este arquétipo materno que todos conhecemos no fundo de nossos corações. Sem essa mãe, não teríamos sobrevivido...

A natureza dessa relação mãe-bebê está baseada na simbiose: dois seres que vivem um pelo outro.

Queira-se ou não, este é o cerne da maternidade nos primeiros tempos de vida do bebê.

Simbiose é uma condição de dependência mútua entre dois seres vivos. É profunda e radical, não tem a ver com o ego da mãe, nem com o seu querer.

A mãe precisa, quase por um ditado biológico, depender do bebê porque é por este sentimento que ela volta a ele, o acude, o alimenta, o protege.

Não critiquem as recém-mães que não querem deixar seus filhos em creches, com parentes e babás. Não reprovem as mães que choram após a volta ao trabalho. Não desabonem uma mulher por preferir seu bebê ao trabalho e à carreira. A natureza manda. A natureza exige. O futuro da humanidade também, pois “a prevenção à violência não está em aumentar o policiamento nas ruas, mas em trabalhar na primeira infância onde começa a delinquência (...) A personalidade se forma da concepção aos seis anos de idade...” (Laurista, 2006). “(...) A falta de mãe ou o vínculo ruim com a figura materna ou a ausência do pai são fatores determinantes nos distúrbios da personalidade e, consequentemente, no aumento da violência” (Lisboa, 2006).

É por este laço poderoso de simbiose que a mãe, uma mulher adulta que já desenvolveu outros códigos e hábitos, consegue se sintonizar com o mundo de seu filho e decodificá-lo. Lenta, mas inexoravelmente, uma mãe irá entender seu bebê, decifrar as mínimas nuanças, atender, acudir, ajudar.

Mães precisam ser dependentes de seus bebês como estes precisam sê-los de suas mães. Falhar esta etapa da relação mãe-filho deixa nas mulheres um profundo vazio e sentimento de culpa, que não poderão ser aplacados facilmente.

Somos mamíferos humanos: precisamos uns dos outros. Bebês e mães são feitos para estarem juntos até a natureza apontar para uma nova etapa da vida.