Adriana Nogueira: Saber aguentar o tranco

Por Adriana Tanese Nogueira

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[caption id="attachment_126375" align="alignleft" width="200"] martha[/caption]

Há várias maneiras de ser fortes. Se tivessem que representar a força, muitos imaginariam um homem musculoso, alterofilista dedicado. Um cara assim poderia derrubar uma parede, quebrar obstáculos, avançar intrépido... É o que em psicanálise se chama de atitude fálica. Fálico é o sujeito que atua, fala, toma iniciativa, age, intervém. Atitude muitas vezes necessária, mas nem sempre. Quando se fica só nela, a pessoa se torna chata, obsessiva, impositiva e dominadora.

Ainda por cima, esta força pode ser inútil em várias situações da vida. Para começar, o poder de ação pode não ter nada a ver com a força moral. Ter músculos não quer dizer ser forte por dentro, e deste tipo de força é o que mais precisamos.

A prova de força é quando é preciso aguentar o tranco. O poder que é exigido nesse momento não vem do físico, mas do poder interior. Sacou? Ter verdadeira força é ter bolas. O que se manifesta em conseguir aguentar a tensão. Essa, que vou chamar de força moral, é o verdadeiro suporte para toda ação de sucesso.

Precisamos desse tipo de poder interior quando há uma tensão que é preciso aguentar, cujo resultado final depende de nossa capacidade de suportar, não como bois mudos que levam a carga, e sim como pessoas atentas que não se deixam anestesiar.

É indispensável permanecer alertas e vivos, pois pode haver a qualquer momento uma brecha, uma chance das coisas mudarem e é preciso colher as oportunidades na hora. Aqui está a grande diferença entre o tipo que aguenta a barra, mas acaba adormecendo sua sensibilidade a fim de sobreviver e tomando medicamentos e drogas para levar a vida, e aquele que de fato tem aquela força moral para suportar a situação enquanto a transforma. Deixar-se estupidificar pelo estresse da vida não é a solução.

É do forte tirar as conclusões inevitáveis e aceitar as consequências, reconhecer a cruz e viver com ela, ou jogá-la fora e mudar de rumo. É da pessoa que sabe aguentar o tranco fazer o que é preciso mesmo que não é o que desejaria fazer. E, às vezes, não é falando e agindo que se mostra força, mas justamante o contrário, calando e continuando a andar, custe o que custar e doa a quem doer (inclusive a nós mesmos). É essa uma das mais nobres qualidades do masculino positivo.

Aguentar o tranco é uma forma de ser um guerreiro da luz. Essa postura é indispensável quando, por exemplo, se está rompendo uma relação que dá trabalho, produz escândalos e sofrimento. Ou, simplesmente, dor. Mas a consciência do que é justo é maior do que o “coitadinho de mim, ou dele, ou dela”. É preciso dessa força moral quando se denunciam situações nocivas a si próprios e a outrem e se sofre represália por causa disso, ou quando se é chantageados por tomar caminhos diferentes dos que os outros esperam de nós. Enfim, é absolutamente indispensável saber aguentar o tranco quando se aposta em si mesmos.