Adriana Nogueira: Ser complexado - o que significa e como funciona

Por Adriana Tanese Nogueira

Imagine São Paulo, Rio de Janeiro ou muitas outras cidades brasileiras. Mas, vamos falar do Rio. Todos sabemos que a cidade está construída entre o oceano e os montes, o que a torna particularmente charmosa. Sabemos também que ela está pontuada por favelas nos lugares menos esperados, entremeando a cidade “normal”. Um turista inocente, passeando admirado e desprevenido, pode, de repente, deparar-se com um lugar pouco seguro ou até mesmo muito perigoso. Quem não conhece bem a cidade, não tem nunca certeza do que vai encontrar. Há áreas seguras, onde se pode razoavelmente ter uma certa expectativa positiva, há áreas incertas, onde é preciso andar com cuidado e manter os olhos bem abertos, e há lugares em que decididamente não deveríamos pisar.

Essa acima é a realidade física e social da cidade, mas é também uma metáfora da realidade psíquica interior da subjetividade humana. Uma pessoa psicologicamente saudável é como uma cidade limpa pela qual podemos passear à vontade sem medo de sermos agredidos de repente, virando a esquina errada ou ao entardecer. Ou seja: uma pessoa confiável é aquela com a qual se pode discutir uma série de assuntos e situações sem sermos esbofeteados por reações incoerentes que nos deixam perplexos ou mesmo assustados.

Reações assim todos nós já temos vivido com uns e outros e até mesmo exibido nós mesmos (quem é suficientemente honesto para se enxergar saberá reconhecer). Elas correspondem a acabar, de repente, numa área urbana perigosa e sentir-se vulnerável e em perigo. Quantas vezes já não aconteceu de estarmos conversando ou mesmo discutindo um assunto com tal pessoa e ela explodir numa reação insensata e agressiva? Quantas vezes já não vimos pessoas reagirem de forma exagerada, sem que elas mesmas o percebam, a situações ou tópicos que nos parecem simples e inócuos?

Lidar com uma pessoa complexada é como caminhar num terreno minado. Você não sabe onde está a bomba, só saberá quando explodir. Quantas bombas há depende de quanto a pessoa é complexada. Quanto mais complexada a pessoa, mais vulneráveis somos nós. Mais complexada, mais insegura ela é. Mais complexada, mais agressiva e/ou ilógica ela será.

Os complexos são como uma área psíquica interditada: a pessoa não quer ir lá e todos os conteúdos que lá estão ou que se relacionam à área são evitados, rejeitados, negados.

Complexos possuem um núcleo: a rejeição, por exemplo. Complexos têm sempre raízes no passado e até mesmo em vidas passadas – mas não se pode pular para elas sem antes ter resolvido o problema dessa. Complexos nascem porque a pessoa não aguentou enfrentar determinada situação e dela fugiu, no sentido mesmo de enfiar a cabeça na areia. Se apavorou e reprimiu, gerando no tempo o complexo, camada após camada de negação, repressão e camuflagem.

Quanto maior o alvoroço causado pela situação/reação, mais forte o complexo, o que significa maior sua área de atuação porque complexos são como imãs. Tudo o que têm alguma ligação com eles os ativam. Uma pessoa com um complexo de rejeição vai ter reações desproporcionadas todas as vezes em que o sentimento de rejeição for ativado até chegar a situações ridículas. Os eventos serão interpretados nessa ótica: querem me rejeitar, estou sendo rejeitado.

O problema com os complexos é que a pessoa não quer se tornar consciente deles, logo você não será ouvido quando tentar dizer: Olha, não é bem assim... Complexos são inconscientes. A pessoa complexada tem pavor de enxergá-los e, exatamente por isso, se tornam sempre mais invadentes. Isso leva a pessoa ao limite da paranóia sem, entretanto, querer acordar do pesadelo, criando um círculo vicioso. Resolver um complexo requer afinado autoconhecimento e estratégia psicológica.