Adriana Nogueira: A transição do bebê nas creches

Por Adriana Tanese Nogueira

fofoca

É normal um bebê de 12 meses chorar o dia inteiro no processo de adaptação na escola? Seria normal você chorar o dia inteiro? Não, claro. O mesmo vale para os bebês, eles não são uma espécie diferente. São humanos como nós, só que “em miniatura”.

O que não está, porém “em miniatura” neles é o grau de sensibilidade. Neles, a sensibilidade está à flor da pele, sem mediações, sem proteção. O bebê reage ao que sente, e sente visceralmente. Ele ainda não tem racionalidade, não pensa como o adulto, mas sente e reage. E se ele berra é porque alguma coisa de sério está acontecendo.

Para o adulto pode não parecer nada de sério, mas para o bebê é. Se jogarmos uma pessoa que não sabe nadar numa piscina, ela vai ficar apavorada. Se Michael Phelps passar e rir dela porque para ele a água não representa perigo algum, o que vamos achar do caráter dele?

Portanto, cada problema, para ser comprendido, deve ser encarado do ponto de vista de quem o tem. Por isso, o que para o adulto é uma brincadeira, para o bebê pode ser um problema sério. Ambos têm razão, mas o adulto não tem razão em desvalorizar a reação do bebê só porque ele não a entende. Para o bebê faz. Se eu não entendo a física quântica não é porque ela não vale nada, mas porque eu tenho um limite, certo? Então, para começarmos a construir um mundo mais solidário e justo, precisamos reconhecer que há vários pontos de vista, um deles é o do bebê.

E para o bebê, sua mãe é o mundo. É Deusa, é casa, é comida, é proteção, é segurança, é Tudo. Para ele não existe vizinho, colega, amigo, política, religião, planeta, férias, carro, livro, escola, diversão. Existe a Mãe e tudo o que ela carrega consigo. O mundo (emocional) da mãe é seu mundo.

Se na casa do bebê houver um pai, ele também fará parte do mundo do bebê, mas a mãe por um bom tempo continuará sendo A Deusa Toda Poderosa do bebê. Na medida em que o pai for presente e ativo, o ajudará a ampliar seu mundo, e assim a ganhar mais autonomia.

A mãe do bebê é o manda-chuva, dela depende a maior parte das emoções do bebê, a outra depende de suas necessidades fisiológicas. Bebês são pessoas que sentem, rastreiam, percebem tudo o que está em volta deles e sobretudo dentro das pessoas que deles cuidam.

Portanto, a Deusa Toda Poderosa, sua mãe, pode estar se sentindo sozinha, abandonada, cansada, assustada, preocupada... e cuidar bem de seu bebê – do ponto de vista físico. Mas seu bebê poderá ter cólicas, ser chorão, não conseguir ficar longe dela e se desesperar e ela se perguntará por que...

Uma adaptação para a escola que faça sentido precisa ser feita levando em consideração: a relação que a mãe tem com seu bebê; a realidade da mãe (solteira, casada, feliz, profissional, realizada, depressiva, sozinha, ansiosa...); e a personalidade do bebê.

Com base nisso, criar um plano de adaptação: meia hora, uma hora, duas horas, três horas... Para cada bebê pode ser um pouco diferente, mas todos precisarão de uma adaptação gradual. G R A D U A L.

Nisso, é preciso atentar para como a mãe se sente nesse processo, no sentido do que realmente vive dentro, por trás da racionalidade. Ela pode se ajudar e ajudar seu bebê trabalhando seus sentimentos reais, encarando-os e processando-os. O bebê é como se fosse um pequeno pedaço dela. Se eles estão passando mal, precisamos olhar para ela para encontrar a solução.