Adriana Nogueira: Vidas passadas bloqueando seu presente

Por Adriana Tanese Nogueira

Quando, durante o processo terapêutico, encontramos obstáculos resistentes que não se consegue superar apesar da concordância do ‘eu’ da pessoa, é preciso averiguar se o que está segurando não é uma questão que transcende os recursos da teoria psicológica que está sendo usada.

Conceitos são instrumentos de compreensão, se não tiver resultado com eles é porque não são os certos para o que se quer entender (e resolver). Eis a importância das teorias. Ir a um psicólogo não é suficiente, é preciso saber de qual ponto de vista ele atua. O ponto de vista inclui a direção. Para onde a terapia vai? Qual tipo de progresso quer realizar?

Resgatar experiências de vidas passadas fornece um incrível estímulo na direção das mudanças procuradas. Abre o horizonte do eu e de sua identidade, e, portanto, de suas possibilidades de evolução. Os esquemas de compreensão que cada um possui, geralmente adquiridos de sua família e ambiente sociocultural, precisam ser rompidos para que novas formas de entendimento de sua realidade possam lhe regalar o ímpeto e o entusiasmo perdidos.

Nesse sentido, a recuperação de problemáticas que transcendem a história do eu atual são de grande ajuda. Não nos interessa enxergá-las como verdades históricas concretas. A própria história, como todo historiador sabe, é o conto do passado a partir de um ponto de vista. Recordamos conforme faz sentido para nós. Assim, as vidas passadas que se encontram no processo terapêutico são as que promovem o crescimento do ‘eu’ e a superação dos males presentes.

Dizia Jung que “real é o que tem efeito”. Nesse sentido, um sonho pode ser mais real do que um fato relatado no telejornal. O real está sempre vinculado a alguém. A história é feita de pequenos centros de interpretação e vivência, ou seja, cada um de nós.

Em minha experiência clínica, a descoberta de eventos passados tem provocado saltos inesperados e o progresso desejado. Naturalmente, não se chega às vidas passadas sem antes ter analisado a vida presente, inclusive porque qualquer imagem que aflorar à mente tem relação com o presente da pessoa. Logo, este presente precisa ser conhecido. O trabalho com as vidas passadas não é diversão, é terapia. É parte do caminho de empoderamento pessoal e de libertação de padrões repetitivos de comportamento, de sentimento e de pensamento.

Por isso, a análise pessoal é o cenário central da regressão. É para dar mais espessura e ganhar mais recursos que, às vezes, é preciso voltar ao longínquo passado e sondar o que aconteceu.

As teorias do trauma confirmam que, não só os efeitos dos traumas permanecem silenciosos por anos e anos, como que não os se resolvem somente no plano cognitivo. Os traumas amarram a energia emocional da pessoa de formas que transcendem sua racionalidade e limitam tanto suas escolhas como o entendimento de si e dos outros.

Muitas limitações que as pessoas apresentam são enraizadas em outras vidas. Tanto é que apesar de haver ocorrido algo nesta vida, mesmo quando analisado, compreendido, chorado e aparentemente superado, parece que há algo que segura, que prende, que não faz de fato ir adiante. É nessa hora que precisa olhar para trás. Buscar origens ocultas. Aprofundar o olhar e ir curar feridas antigas.

O trabalho de regressão pelo método de Roger Woolger (Deep Memory Process) é uma verdadeira terapia e não simplesmente uma catarse. Cura o passado, integrando-o à consciência presente, ampliando a identidade do ‘eu’ e promovendo o equilíbrio e a serenidade interiores procurados.