Afinal, existe ou não uma crise nos EUA?
Por Atilano Muradas
Apesar das pessoas, quase todos os dias, estarem falando em crise, ainda é possível se ouvir de alguém a pergunta: “Qual crise?”. Isto é verdade. Nem todos estão enfrentando a crise. Aliás, a crise de uns pode ser lucro para outros.
Inclusive, até mesmo aquele que não estava em crise pode, de repente, ficar em crise, ao saber que todos estão. É um efeito dominó que pode gerar na sociedade um clima de instabilidade e insegurança. Muitos dos brasileiros que aqui vivem tendem a ter essa reação em cadeia justamente porque boa parte veio “fugida” da instabilidade financeira do Brasil.
Charles Lewandowski, que tem uma empresa em Washington DC, a Corporate Benefit Services, é conhecedor profundo do mundo americano onde atua como assessor e consultor financeiro há mais de 30 anos. Sobre a “crise” ele tem uma opinião que parece bater de frente com muitas outras. “Neste momento a tão chamada ‘crise hipotecária’ é algo acionado com o exa-gero da mídia. De acordo com a Associação de Hipotecas, apenas 14% dos 44 milhões de hipotecas nos EUA, e, somente 13% destes sub-devedores hipotecários estão atrasados com os seus pagamentos. A maioria desses mutuários são famílias honestas que traba-lham duro e que estão dispostas a fazer tudo o que puderem para manterem as suas casas. Além disso, a taxa global de atraso de pagamentos nestes 44 milhões de hipotecas é apenas metade de 1%. Uma pessoa não pode chamar isto de crise”.
O contador Marcos Rezende, da CSG Capital Services Group corrobora essa idéia afirmando que “O que temos hoje é uma crise no setor imobiliário que está gerando uma crise de trabalho, principalmente para os imigrantes. Existe uma crise em 13% da economia. Nos outros 87% está tudo em ordem. O que não se pode esquecer é que o mercado financeiro é movido também por fofocas. Existe uma crise aqui na Flórida haja vista o grande número de imigrantes. Em New York, por exemplo, existe um boom de crescimento. Alguns clientes nossos se mudaram para lá e estão com trabalho para os próximos dois, três anos. E nesses lugares existe a vantagem de haver transporte urbano bem centralizado que favorece o imigrante com carteira de motorista vencida.”
Marcos Rezende lembra ainda que houve crises localizadas como esta em outras regiões dos EUA e ninguém ficou sabendo por aqui. “Não existe uma crise no País inteiro como se diz por aí. Existe uma região no Texas onde as pessoas estão vivendo uma fase de crescimento da ordem de 4% a 5% ao ano nessa área. Há alguns anos atrás eles estavam numa crise semelhante a que está vivendo a Flórida; e ninguém por aqui sabia disso”, completa.
Outro que enxerga a existência de uma crise é Howard Mallek, da Transworld Systems, mas é otimista quanto ao tempo de duração dela. “Existe, sem sombra de dúvidas, uma ‘bolha’, no mercado imobiliário, que explodiu. O mesmo que aconteceu com a Bolsa em 2001 e 2002. Essa crise passa, creio, entre um e dois anos”, disse.
O economista Carlo Barbieri, presidente do Brazilian Business Group, o BBG, confirma que a crise é setorial, e esbanja tranquilidade e confiança. “A economia americana está bem e deve crescer 3% este ano, o que é bastante para uma economia de 12 trilhões de dólares. O setor comercial e industrial da construção continua crescendo. Quem criou a bolha e está sofrendo é o setor residencial. Nem se deve falar que se trata de uma crise gene-ralizada. Falar isso é pura especulação”, afirma Carlo.
Como driblar a crise
Independente dessa realidade, todos, em algum tempo da vida, enfrentam crises financeiras e precisam estar preparados para enfrentá-las. Aliás, o representante da empresa MetLife, que trabalha com seguros e investimentos, Sestilio Paciotti, diz que a crise sempre existiu e sempre existirá. Segundo ele, crises são vividas durante a vida de qualquer pessoa ou empresa. “Se você tiver um planejamento adequado você vai superar a crise de uma forma mais suave que as pessoas que não fazem planejamento. Quem abre uma empresa tem que planejar todos os passos dela: como implantar, como sobreviver, e como será a transferência dessa empresa, quer seja por venda, ou para seus filhos. Existem certas crises futuras que podem ser prevenidas com planejamento. A palavra-chave é planejamento”, explica.
Por causa disso, seguem abaixo algumas informações úteis, que podem ajudar empresas e pessoas físicas a se manterem estabilizadas nessa crise temporária.
O empresário Nelson Chaves, que possui uma empresa de instalação e venda de shutters, a Valverde Shutters, tem um planejamento claro. “Para driblar a crise tenho trabalhado duro e não feito dívida. Todas os carros da minha empresa são carros usados e quitados. Somente o meu carro pessoal é que está financiado. Outro segredo foi guardar dinheiro quando havia muito trabalho. Hoje, pago regularmente todos os meus funcionários e consigo manter a empresa funcionando. Creio que até o final deste ano, início do outro, as coisas estarão melhores.”
“O momento é de ajuste na economia” é o que afirma o proprietário do Brazilian Food Market, Hebert da Rocha. “A ordem no meu negócio agora é enxugar ao máximo as despesas pessoais e as da empresa. Fiz um ajuste de salários com os funcionários sem precisar despedir ninguém. Se esse período vai demorar ou não, eu não sei, pois não está em nossas mãos o controle dessa situação. Mas, espero que passe logo. Meu maior conselho é que quem tem capital não gaste todo ele”, completa.
Além de iniciativas de cada empresa para o seu próprio negócio, existem empresas especializadas em ensinar outras empresas, e também pessoas físicas, os segredos de como driblar a crise tendo criatividade nos negócios. É o caso da Abreu e Associates que promoveu, no dia 20 de agosto, um curso de Criatividade e Finanças na Câmara de Comércio de Deerfield Beach. Havia 30 vagas disponíveis que foram todas preenchidas por empresas que levaram seus funcionários para participarem dos cursos intitulados: “Como desenvolver sua mente e ser mais criativo nos negócios” (Prof. Paulo Abreu) e “Como desenvolver um fluxo de caixa para acumular riquezas” (Prof. Aurélio de Bortoli). “Na seqüência desta palestra, estaremos implantando o Curso de Habilidades Empresariais que funcionará uma vez por semana com o objetivo de treinar empresários”, conta o professor Paulo Abreu, que é Especialista em Marketing pela Fundação Getúlio Vargas.
Outra iniciativa interessante para driblar a crise está sendo desenvolvida por um brasileiro que preferiu não se identificar, por enquanto. A idéia é levantar 4.000 sócios, brasileiros e americanos, numa espécie de cooperativa. A pessoa se cadastra, paga uma única taxa de adesão, e tem acesso a todos os produtos de que necessita para a sua vida diária a preços bem abaixo dos praticados no mercado. “Nós vamos ter uma lista de produtos que os associados escolhem e a gerência compra no atacado. Por exemplo, se três mil associados quiserem comprar, cada um, uma lata de óleo que custa em torno de 2 dólares, nós compramos as três mil latas com 50% de desconto diretamente do atacadista. E isso é com todos os produtos de supermercado, roupas, calçados, etc. É a cooperativa”, conta H. S., que está liderando a iniciativa. Essa é uma atividade totalmente legal nos EUA.
O Pastor Silair Almeida, idealizador da Brasil Fair, uma feira que reúne empresários, revela quatro segredos que uma pessoa precisa saber para evitar falência nas finanças: “A pessoa precisa saber o que tem, o que deve, o que ganha, o que gasta, e controlar cada uma dessas coisas detalhadamente. Creio que aí está o segredo.”
