Ainda de luto pela morte de irmã, brasileira luta pela guarda do sobrinho

Por Marisa Arruda Barbosa

Viviane (esquerda) ainda sofre com a perda de sua irmã, Jorgete Acarie (direita), na região de Orlando.

Seis meses depois do assassinato de Jorgete Acarie, sua irmã, Viviane Acarie e a avó paterna estão entrando em uma disputa pela guarda do filho da vítima. O pai do menino de quase três anos, está preso e é o principal suspeito do assassinato.

Segundo Viviane, a mãe de Kristofer Gould, de 33 anos, que está preso acusado de assassinar Jorgete a tiros em frente ao filho deles, está utilizando o estatuto da Flórida 63.082 (6) (a), que diz que na ausência de um dos pais, o outro tem o direito de determinar com quem fica a criança.

“Haverá uma audiência em fevereiro para decidir se o neném fica comigo ou com a avó”, disse Viviane. “Essa audiência, no entanto, será antes do julgamento dele no assassinato de minha irmã, e até lá ele não perde os direitos como pai e pode lutar para que a criança fique com a avó”. Segundo Viviane, Diann Allen contratou três advogados para tentar adotar a criança.

Vivane conta que o menino, que ficou traumatizado desde o crime em 26 de agosto do ano passado, está feliz com ela e já a chama de mãe. “O menino dizia que viu o pai ‘fazer dodói na cabeça da mamãe’ e não podia ouvir nem um barulho por muito tempo, pois ficou traumatizado”, disse Viviane. “Agora, a avó quer tirá-lo de mim e só me pergunto o por quê, pois ela viu essa criança só quatro vezes e ele nem a conhece”.

O pai de Kristofer e ex-marido de Diann, Philip Gould, apoia Viviane. Ele redigiu uma carta direcionada ao governador da Flórida, Rick Scott, ao senador Kelli Stargel e ao representante do estado, Stephem Precourt, pedindo que o estatuto não seja considerado nesse caso.

Segundo a carta, o bebê dormia na mesma cama em que Jorgete quando ela levou 14 tiros. “Meu neto agora está sob os cuidados de sua tia, Viviane, com quem ele está se recuperando muito bem. Essa é a única família que ele conhece”, disse a carta. “Por causa dos resultados positivos (da criança sob os cuidados de Viviane) o DCF (Department of Children and Families) recomenda que ele fique permanentemente com Viviane e seu noivo. Eu concordo 100% com a recomendação do DCF porque eu testemunhei sua felicidade lá. Além disso, Jorgete Acarie deixou claro que se qualquer coisa acontecesse com ela, ela queria que sua irmã, Viviane, criasse seu filho”.

Na carta, Philip conta ainda que quando ele se divorciou de Diann, em 1986, ela não pediu a custódia de seus dois filhos com ele, então com nove e sete anos. Em 1992, depois da pressão de sua mãe, Kristofer, então com 12 anos, foi viver com ela. Segundo a carta, foi a partir daí que sua vida começou a ir de mal a pior. “Tenho certeza de que a vida de nosso neto será igual a de seu pai, caso seja criado pela avó”.

O crime Jorgete Acarie foi morta a tiros no dia 26 de agosto e seu corpo foi encontrado pela polícia

local na cama de um dos quartos de sua residência, em Orlando. O filho do casal, de apenas dois anos, estava em casa e não tinha nenhum ferimento.

O principal suspeito, o ex-namorado de Jorgete, Kristofer Gould, foi abordado por policiais no dia 29 de agosto por estar dormindo na praia de Daytona, FL. Ele foi, então, preso por motivos não relacionados ao homicídio, mas portava uma arma que mais tarde foi identificada como a mesma usada no crime, segundo Viviane. Em setembro, ele acabou sendo formalmente acusado pelo homicídio.

Dono de um longo histórico de violência doméstica contra Jorgete, Kristofer chegou a ser preso por perseguir a brasileira. Um relatório sobre o caso mostra que a polícia foi chamada à casa dela 56 vezes em dois anos, por causa de ameaças e agressões, disse o “Orlando Sentinel”.

Jorgete já havia pedido duas liminares contra Kristofer, que no entanto foram negadas ou rejeitadas. No dia 24, dias antes de ser morta, ela tentou registrar outra liminar, mas foi informada por funcionários judiciais que ela perdeu o prazo por cinco minutos e teria que voltar na segunda-feira, dia 27.

Em uma ordem de restrição contra ele, Acarie descrevia com suas próprias palavras que tinha medo dele, que segundo ela a ameaçava de morte e cometia atos de violência doméstica.

Em dezembro, Kristofer, que está preso desde agosto, compareceu em corte no condado de Orange pela acusação de homicídio. Ele pediu que o Estado lhe concedesse um advogado, já que ele não tinha condições de contratar um para lhe representar.