Ajuste flexível pode ser opção - Negócios & Empresas

Por BBG

crise-europa-euro

A Europa afunda numa crise que parece interminável, ameaçando contaminar todos seus membros ou mesmo obrigar os países a desistir da experiência com o euro – a moeda que deveria servir como referência de um continente rico, saudável e integrado.

Entretanto, a teoria na prática é a outra, como diria Joelmir Betting. Os países mais pobres da Europa enfrentam uma crise financeira muito dura que está castigando seus cidadãos de maneira dramática, enquanto a Alemanha – que é, sem dúvida, a vaca leiteira do continente – cobra medidas de contenção para os governos da Espanha, Itália, Portugal, Irlanda e, sobretudo, Grécia.

Em recente viagem à Grécia, a primeira-ministra alemã, Angela Merkel, teve de enfrentar manifestações nada simpáticas à sua política irredutível de apertar o cinto para se atingir o equilíbrio fiscal do país que se caracteriza por ilhas paradisíacas. Não faltaram sequer cartazes simbolizando Merkel com a reincarnação de Adolf Hitler.

Mas foi outra mulher quem surgiu como uma proposta, digamos assim, mais palatável. A francesa Christine Lagarde, diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), está sugerindo que sejam adotados ajustes fiscais mais flexíveis e calibrados, porque o receituário do FMI pode não servir igualmente para todas as economias do mundo.

Lagarde destacou que o Comitê do FMI, encarregado de delinear as políticas do organismo, expressou em sua reunião um compromisso “muito forte” com a implementação das políticas destinadas a melhorar o cenário global. Conforme publicado no jornal “O Globo”, no dia 13 de outubro, está sendo defendida uma “calibragem” do ajuste fiscal, ou seja, um ritmo menos radical de implantação de cortes orçamentários para permitir o crescimento das economias. Algo que o ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schaeuble, discorda.

Aparentemente, Lagarde e o Comitê do FMI estão certos. É preciso dar fôlego para que as economias se recuperem, uma vez que o remédio forte – arrocho orçamentário – pode matar os doentes, e as consequências seriam ainda mais desastrosas do que estão sendo atualmente.

Nos países europeus, os analistas estão chamando a atual geração de uma “geração perdida”, porque os jovens não têm onde trabalhar e, muitas vezes, não lhes resta outra opção a não ser emigrar para outros países que ofereçam melhores oportunidades profissionais. E, por incrível que pareça, o Brasil vem despontando como um dos principais destinos escolhidos pelos europeus, caracterizando-se, assim, uma nova onda de imigração vinda do Velho Continente.

A tal “calibragem” é anunciada como um paliativo até que sejam implantados e comecem a funcionar efetivamente instrumentos mais eficazes para conter a crise do euro, como o Mecanismo de Estabilidade Europeu (MEE).

Neste redemoinho financeiro, o Brasil vem conseguindo escapar sem grandes traumas, e inclusive conseguiu manter sua competitividade na economia global, apesar da desvalorização do dólar em relação ao real, segundo declarou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, na recente reunião do FMI em Tóquio.

Apesar da crise, ninguém gosta de perder poder. Portanto, a reforma do sistema de cotas do FMI avançou um pouco, mas nada que significasse a mudança da fórmula de distribuição das cotas, adotando o PIB como parâmetro. Os países europeus não querem esta reforma para não perderem peso no FMI, revelou Mantega.

Faz sentido. Mais importante do que perder o dinheiro é perder a majestade. E isto pode fazer toda a diferença no cenário internacional do futuro.

Coluna do BBG - Brazilian Businness Group Luigi Pardalese President, Pardalese Institute - Florida