Alemanha: Temor de deportação "prejudica saúde" de imigrantes ilegais.

Por Gazeta Admininstrator

Consultórios especiais tratam da saúde de refugiados e imigrantes ilegais, que, com temor de serem encontrados e delatados, não buscam a assistência de saúde do governo.

Eles não existem oficialmente, porém estão por toda a parte. Os "ilegais" lavam a roupa dos alemães, limpam sua residência, colocam o piso em seus apartamentos, pintam as paredes.

Porém eles sempre estão se escondendo, o preço a ser pago em caso de serem descoberto é a viagem de volta para o país de origem.

A cifra de imigrantes sem visto apropriado de permanência na Alemanha é estimado entre 500 mil e 1,5 milhão.

É uma parcela da sociedade que vive sem direitos e sem seguro de saúde , consequentemente, "fica menos doente do que o resto". Quando as circunstâncias se agravam e a doença parece não ir embora, eles acabam aparecendo, mais cedo ou mais tarde, nos hospitais de ajuda médica a refugiados. Na maior parte das vezes, tarde demais.

Um tratamento diferente

Mais de cem imigrantes ilegais são tratados todo mês no consultório médico montado nos fundos de uma residência no bairro Kreuzberg, em Berlim. Os atendimentos são realizados dois dias da semana, quando 30 voluntários se alternam na tarefa. Para casos sem gravidade, como dores de dente, doenças dermatológicas e gravidez, os doentes podem recorrer ainda a uma rede de 120 consultórios médicos localizados na cidade.

Hospitais são obrigados a repassar dados sobre a situação do paciente. "Só temos problemas com tratamentos mais longos, porque são poucos os hospitais com os quais podemos trabalhar", analisa Burkhard Bartholomae, médico atuante há vários anos em um consultório que trata refugiados, que é patrocinado por meio de doações.

A experiência de trabalhar com ilegais evidencia que eles são tratados de forma diferente na maior parte das instituições médicas, diz Bartholomae.

"Há pouco tempo, chegou ao consultório um homem que tinha quebrado a perna trabalhando na construção civil. O osso fraturado não calcificou da forma correta e os médicos o recomendaram que usasse uma palmilha. Mas se trata de um jovem que agora está inválido. Qualquer outro receberia uma nova operação. No caso dele, ninguém acha que é um problema ele passar o resto da vida de muletas. Histórias como essa não são exceções", conta o médico.

Problemas com a lei

Os refugiados também encararam outro problema. O parágrafo 92 da legislação que regulamenta a situação dos estrangeiros na Alemanha penaliza com multa aquele que oferece auxílio a imigrantes ilegais. Os médicos se sentem acuados pela possibilidade de serem penalizados, porém se protegem com a jurisdição que diz que nenhuma ação humanitária pode ser penalizada.

O receio maior fica por conta dos imigrantes ilegais, que temem mais a deportação do que a própria agonia física. Em função disso, quase ninguém busca as agências de assistência social, que são obrigadas a oferecer tratamento médico mesmo aos que não dispõem de visto válido de permanência no país.

A lei que garante cuidados médicos aos exilados é vista com desconfiança. Isso porque para iniciar um tratamento é preciso levantar dados sobre o paciente.

Os imigrantes ilegais preferem não correr o risco de ser descobertos e denunciados. Os consultórios especializados preenchem esta lacuna, mas Burkhard Bartholomae diz não acreditar que a solução seja ideal.

"Nossa exigência é e sempre foi que os imigrantes ilegais sejam incorporados ao sistema normal de saúde, que as pessoas recebam tratamento médico e possam freqüentar um consultório como qualquer cidadão alemão faz."