Amamentação em público: uma prática cada vez mais aceita nos EUA

Por Marisa Arruda Barbosa

Nathércia amamentou Nathalia, mesmo diante de olhares reprovadores.

Marisa Arruda Barbosa Com colaboração

Já é quase unânime a opinião sobre os benefícios da amamentação tanto para a mãe quanto para o bebê, embora por motivos pessoais muitas mães ainda optem por não amamentar. Cientes disso e tentando mudar ainda mais este quadro, autoridades tentam tornar a prática cada vez mais aceitável em locais públicos. Diversos estudos comprovam que amamentar é um ato extremamente saudável para a mãe e para o bebê. O leite materno contém anticorpos que protegem a criança, que terá menos infecções e problemas respiratórios e, por isso, dão menos gastos aos pais e ao governo. Além disso, amamentar ajuda a fazer com que a mãe retorne mais rapidamente ao peso normal.

De acordo com os Centers for Disease Control and Prevention (CDC) aproximadamente 75% das mães começam a amamentar imediatamente depois de darem à luz, mas menos de 15% estão amamentando exclusivamente depois de seis meses.

Como parte do programa nacional Healthy People Initiative, a intenção é de aumentar para 81.9% o número de mães amamentando seus filhos no período logo após o parto até 2020.

Mesmo assim, há muito que mudar para que esse seja um ato inteiramente aceitável. Enquanto os CDC exigem que os hospitais do país melhorem o apoio às mães para dar de mamar a seus filhos, as que amamentam em público não recebem apoio e, inclusive, são alvos de olhares reprovadores.

“Apesar de uma melhora nos hospitais em relação às práticas para ajudar as mulheres em seu início de lactação, é preciso melhorar muito neste sentido”, advertiu Thomas Frieden, diretor dos CDC.

A brasileira Nathércia Rocha, de 30 anos, mãe de Nathalia, com quase dois anos, conta que optou por amamentar sua filha, apesar de se sentir constrangida muitas vezes. “Amamentar é um ato natural, mas parecia que eu estava fazendo algo anormal”, conta. “O simples fato de ter escolhido amamentar no peito já atrai muitos olhares, seja de admiração ou de repulsa. Quando estava na rua, eu tinha sempre que procurar um vestiário de uma loja para amamentar minha filha. Quando não tinha opção, cobria meu ombro, peito e a bebê com um pano para que não chamasse ainda mais atenção das pessoas. Me lembro de ter ido para meu carro amamentar, porque não me sentia à vontade de ficar em público. Claro que o fato de expor o peito em público já é um fato em si constrangedor, mas sentia que atraia muito mais atenção do que a situação merece”, conta a brasileira que vive em Miami.

O que se deveria ser tratado como algo natural, segundo seus defensores, se torna polêmico em certos estados e setores sociais americanos, que lançaram projetos de lei para limitar os locais de amamentação e penas para as mães que não respeitarem.

É o caso de Forest Park, uma localidade do estado da Geórgia, onde o governo local tentou aprovar a proibição de amamentação em público a crianças maiores de dois anos. Dezenas de mães lactantes se reuniram contra a prefeitura para dar de mamar a seus filhos em grupo, em protesto pela proibição e, no fim, conseguiram que a medida caísse.

Mas enquanto persistem as críticas entre alguns setores, em outros se trata de encorajar às mulheres a que alimentem a seus bebês da maneira mais natural possível. Inclusive o Congresso dos Estados Unidos, perante o aumento da presença de mulheres legisladoras, abriu nos últimos anos quatro salas especificamente destinadas à lactação materna nas instalações do Capitólio.

O apoio à amamentação pode até tomar posturas extremas, como no caso de Nova York. O prefeito da cidade, Michael Bloomberg, mandou os hospitais pararem de distribuir gratuitamente as chamadas Infant Formulas para as mulheres que acabaram de dar a luz, segundo informações do site “The Atlantic”. A decisão do prefeito levou ativistas ao questionamento sobre até que ponto uma decisão pessoal pode ser tema de um mandato público e não somente pessoal. Nathércia diz que sua filha parou de se satisfazer com a amamentação aos cinco meses, motivo pelo qual parou.

Leis por estado Muitos estados americanos têm leis específicas afirmando o direito das mulheres de amamentar em lugares públicos, sem medo de que alguém venha acusá-las de “exposição indecente”, pois isso não é contra a lei. Quarenta e cinco estados, incluindo a Flórida, o Distrito de Columbia e Ilhas Virgens, têm leis que permitem que as mulheres amamentem em qualquer local público ou privado, de acordo com o site “Ncsl.org”. Cinco estados e Porto Rico implementaram ou têm incentivado o desenvolvimento de uma campanha de educação sobre amamentação, incluindo a Califórnia, Illinois, Minnesota, Missouri e Vermont.

Estados com leis específicas A Virginia permite que as mulheres amamentem em qualquer terreno ou imóvel de propriedade do Estado. Porto Rico exige que shopping centers, aeroportos, centros governamentais de serviços públicos e outros locais selecionados tenham áreas acessíveis projetadas para amamentação e troca de fraldas, que não sejam banheiros. Nova York criou o Breastfeeding Mothers Bill of Rights, que tem que estar exposto em instalações relacionadas à saúde materna.

Etiqueta da amamentação Para que haja mais conforto, várias situações sociais pedem discrição para que a mãe amamente o filho quando estiver fora de casa. Por isso, os mais experientes ensinam algumas estratégias para fazer do ato algo o mais natural possível, como usar roupas confortáveis o suficiente e que cubram o seio para não ficar muito exposto. Para ficar mais discreta, a mãe deve escolher um lugar fora do caminho das pessoas. Em um restaurante, pedir por um lugar no canto. Em uma loja, usar o provador. Uma dica é amamentar antes que o bebê comece a chorar, para que menos pessoas prestem atenção no que está fazendo.