Amamentação sob livre demanda e maternidade

Por Adriana Tanese Nogueira

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Julia é uma bebê de um ano e sete meses. Mamou no peito sob livre demanda, conforme a convicção da mãe a respeito da importância da amamentação e do vínculo que esta proporciona. De fato, a Organização Mundial de Saúde recomenda o aleitamento materno exclusivo até os 6 meses e o aleitamento continuado até os dois anos e meio.

A amamentação é muito mais do que alimentar o bebê. É relação, e como todas as relações, contém muito mais do visível. O bebê busca o peito toda vez que se sente desconfortável, que tem medo, que está cansado, assustado, etc. Mamar é sua forma imediata de aplacar qualquer mal estar. E é importante que o bebê tenha esse recurso. É indispensável até. Mas, até quando?

Enquanto a amamentação ocorre, a mãe também sente coisas: sente o bebê, o que está lhe acontecendo, suas mudanças... e sabe também quando o bebê está “brincando” com seu bico do peito, quando está “chupetando” e não mamando. Às vezes, está bem assim para oportunizar aquele momento de intimidade. Mas, a mãe percebe também seu próprio cansaço e quando surge a sensação de que seria melhor dar menos peito... O que fazer?

É preciso olhar de perto a situação. Vejamos o caso de Julia. Julia é uma bebê muito bem cuidada. Mamou sempre que quis, gosta de mamar e tem forte vínculo com a mãe, apesar de ser capaz de se relacionar com adultos e crianças em lugares públicos e de se afastar da mãe para explorar as redondezas. Muito atenta e observadora, analisa objetos e pessoa. Mas sua mãe precisa estar a sua disposição.

E vejamos a mãe de Julia. A mãe de Julia é uma mulher tão dócil e receptiva às demandas alheias quanto Julia é decidida e consegue o que quer. Natural, não? É mãe-e-filha: uma díade que forma uma unidade, a filha combinando com o aspecto da mãe que esta não expressa. Leia-se Laura Gutman. A mãe de Julia assumiu a maternidade em todo, corajosamente e com todas as demandas e sacrifícios necessários. Ela acredita na importância desse engajamento. E, nesse momento, está sentindo uma tendência interna a diminuir um pouco a amamentação, mas Julia parece não concordar.

Neste caso, a mãe de Julia precisa dar mais um passo em sua caminhada na maternidade ativa e assumir um pouco daquilo que a filha tem: determinação na liderança. O que significa, assumir o controle, com doçura e firmeza, de alguns momentos em que a filha quer mamar para encaminhá-la para outras formas de resolver suas necessidades que não seja através do peito. Este movimento não tem simplesmente a função de “evitar” uma mamada ou de “ir parando com as mamadas”. É algo muito mais profundo e importante do que isso. Se uma mãe antenada com a maternidade, que está engajada na amamentação e no desenvolvimento da filha, sente que está na hora de diminuir o número de mamadas, então esta mãe está “canalizando”, por assim dizer, uma necessidade evolutiva da própria filha.

Uma bebê com personalidade forte, acostumada a ter o peito e quase tudo sob demanda, terá um apego mais determinado, pois tem um ego embrional mais determinado que vai gerar mais apego. Se uma mãe receptiva e honestamente engajada sente o que sente, é porque corresponde não ao seu ego ou a uma regra exterior, mas à própria necessidade do desenvolvimento da filha. É como se uma voz interior dissesse: “Está na hora.”

Cabe, então, à mãe, tomar as rédeas e, ao reconhecer por que a filha quer mamar naquele momento, oferecer-lhe outras soluções para sua necessidade.