Amamentar, um ato natural - Pais e Filhos

Por Adriana Tanese Nogueira

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Quando confiamos nos produtores das fórmulas infantis mais do que em nossa própria habilidade de nutrir nossos bebês, perdemos a chance de assumir um aspecto de nosso poder como mulheres.

Pensar que uma fórmula infantil seja melhor do que o leite do peito é acreditar que trinta anos de tecnologia são superiores a três milhões de anos de evolução da natureza.

Inúmeras mulheres têm reganhado confiança em seus corpos amamentando seus filhos, mesmo quando no começo elas não tinham certeza de como fazer.

É um ato de poder de fêmea, e eu penso nele como feminismo em sua forma mais pura. Christine Northrup, M.D.

Nas sociedades agrárias do passado, onde havia menos cultura e mais trabalho manual, famílias numerosas e maior contato com a natureza vegetal e animal, amamentar era parte da normalidade da vida. Mulheres de amplos aventais e lenços na cabeça podiam até considerar o aleitamento como mais uma tarefa pesada a ser cumprida em sua longa jornada de trabalho, entretanto, de tarefas diárias sua vida era feita. A única alternativa seria contratar uma ama de leite para garantir a sobrevivência de seu filho, o que as famílias não abastadas não podiam se permitir. Assim, dar o peito era necessário, prático e econômico, algo a ser feito sem pensar muito. Era preciso e pronto.

Com as mudanças socioculturais, a crise das sociedades tradicionais que levou ao fim do modelo de família sobre a qual essas mesmas sociedades estavam fundamentadas, e, mais ainda, com a emancipação da mulher e o advento de novos papéis e questionamentos, eis que a amamentação assumiu conotações mais culturais do que naturais. A mamada, por sua característica intrínseca, situa-se no terreno altamente delicado da autoestima feminina. Assunto complicado que afunda raízes na psicologia da mulher, em sua história pessoal e social, assim como na relação com sua própria mãe, sem contar os desafios da vida moderna. Logo, o que outrora era coisa óbvia se tornou um objetivo a ser conquistado. Assaltada pelo caótico mundo da mídia e das informações múltiplas e nem sempre confiáveis, emocionalmente estressada pelo ritmo do ambiente social no qual vive, confusa entre as demandas do mundo de fora e suas obscuras necessidades interiores, para a mulher da atualidade amamentar pode situar-se longe de um ato natural e dado. A familiaridade com o aleitamento materno é diretamente proporcional à intimidade da mulher com seus próprios processos instintivos e com os processos internos de sua psicologia.

Quando falamos que a autoestima é a base psicológica para o sucesso do aleitamento materno, precisamos ter em mente o quadro geral de onde esta autoestima se origina. Assim como pequenos problemas físicos são rapidamente resolvidos e com pouco trabalho, doenças hereditárias e/ou crônicas necessitam de mais investimento de tempo e de cuidados, mais paciência e uma análise apurada do problema em pauta. O mesmo vale para as questões psicológicas. No que diz respeito à mamada, existem dificuldades facilmente resolvíveis, basta um pouco de bom senso e de apoio. Às vezes, é uma questão de orientar sobre posição e pega ou sobre como tratar um bico rachado e dolorido, o resto a mulher fará por si mesma. Uma vez que o problema técnico for resolvido e a dúvida respondida, ela estará em condições de encontrar seu caminho de nutriz.

Em outras circunstâncias, a amamentação parece uma tarefa árdua, um desafio e um problema. As dificuldades se multiplicam e a mãe se sente tão sobrecarregada e desanimada que tende a abandonar a empreitada. Nesses casos, o profissional precisa ter mais do que conhecimento técnico e científico para oferecer. Torna-se necessário compreender as questões profundas e, ao mesmo tempo, mais amplas, que minam o ato de amamentar.

*Adriana Tanese Nogueira Educadora Perinatal