O amor é cego?

Por Adriana Tanese Nogueira

Se a união começa por um sentimento de amor, este é só o começo da jornada. O amor precisa encontrar formas de se manifestar no dia a dia, diante dos desafios que cada um traz dentro de si e que a vida apresenta. Assim, amar uma pessoa não é suficiente para estar e se manter com ela.

Se diz que ‘o amor é cego’. Na verdade, ele é claríssimo para o que lhe interessa, mas certamente não pode ver todos os aspectos da pessoa que amamos. Ou seja, pode ser cego, mas nem por isso é “burro”. O amor é sempre um sentimento profundo que rompe nossas defesas e nos vincula ao outro.

Esta ligação não significa, necessariamente, que seja para sempre ou que não encontraremos dificuldades. Aqui está uma fantasia da qual é preciso se libertar: relações não são sempre cor de rosa para nossa gratificação. Relações dão trabalho. Assim como um filho, quanto mais bem cuidado e acompanhado for, mais orgulho e satisfação nos dará. Da mesma forma, relacionamentos exigem nossa dedicação e empenho.

A paixão nasce porque vemos no outro algo que nos completa: ele é importante para o nosso desenvolvimento. É mais profundo do que parece. Não nos apaixonamos pelo professor de história ou matemática porque ensina bem, nos apaixonamos por quem constitui um profundo “upgrade” em nossa vida. Estamos falando de algo que não é racional, mas é tão importante que se faz indispensável. Porém, a vida nos traz inúmeros desafios diante dos quais cada um tem suas respostas que surgem da história pessoal, familiar e cultural na qual cresceu. E vêm os conflitos.

Para resolvê-los de forma construtiva, é preciso não só de paciência e tolerância, mas sobretudo e em primeiro lugar, autoconhecimento. Relações nos questionam. Não se trata de alguém “ter razão”, se trata de criar uma nova verdade, feita do eu + tu.

Portanto, em primeiro lugar, é preciso desenvolver uma atitude de autoconhecimento para entender o que está acontecendo conosco. Saber o que sentimos significa ser capazes de elaborar, explicar, falar sobre o assunto. Não basta apontar um fato. Como este se repercute em você? O que você faz das emoções que provoca?

Em segundo lugar, é preciso saber se comunicar, falar de si, traduzir-se para o outro nos compreender melhor e mais profundamente. Amamos mais o que compreendemos do que o que não compreendemos. Você sabe comunicar o que sente? O outro pode nos amar muito, mas isso não lhe confere poderes telepáticos ou mágicos.

Em terceiro lugar, é preciso aprender a ser honestos – consigo próprio, para começar. Muitos casais negam seus sentimentos reais para colocar uma máscara de fingida harmonia. Nela, podem se enrolar tanto ao ponto de nem perceberem mais que estão mentindo. Felizmente, a psique humana não sustenta fachadas e mais cedo ou mais tarde algo irá acontecer que revelará a verdade.

Qual é a verdade? É simples: ou tem amor ou tem mentira. Pode haver amor e mesmo assim a relação ser difícil e conflituosa. Mas com o engajamento de ambos, uma nova harmonia pode ser criada.

E por que um casal manteria a mentira permanecendo casados? Por vários motivos: porque a religião deles fala que casamento é para sempre; porque não querem dividir o patrimônio; porque têm medo de enfrentar a vida sozinhos e coisas do tipo. Mas, como disse um homem num momento de lucidez de seu casamento em crise: “Pode-se fingir o amor, mas não o tesão...”. Neste caso, é bom lembrar que abraçar a mentira pode levar à perda do verdadeiro amor, além de estar certamente bloqueando o próprio desenvolvimento.