Amor e comportamento

Por Adriana Tanese Nogueira

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Que muitos sintam amor profundo e verdadeiro, não duvido. Mas é também verdade que muitos não sabem expressá-lo e o amor que sentem é como o tesouro depositado num cofre do qual se perdeu a chave. Uma vez que não está disponível para o proveito humano, ele “não existe”.

O exercício de encarnar o amor em cada momento, em cada escolha, em cada comportamento - e se não em cada um deles -, na maioria, é indispensável para a evolução da espécie humana. De nada adianta amar um filho se não lhe mostrarmos com os fatos o que é amor. Amor é uma experiência viva antes de ser um conceito: primeiro se vive o amor, depois identificamos o sentimento como “amor”.

Vejo pais se queixarem pela falta de amor dos filhos: mas será que estes não estão devolvendo o que receberam? A famosa frase “Mas eu trabalhei tanto para que você tivesse o que você tem” não significa muito aos ouvidos da criança. Nem o fato de a família parecer ter sido tão unida e amorosa: as crianças absorvem sempre a sujeira que foi jogada por baixo do tapete.

Uma criança não sabe entender a razão de seus pais passarem a maior parte do tempo longe deles, deixando-as em escolinhas, parentes e amigos. Ela só sabe que não seus pais não estavam com ela. Na cabeça de uma criança não existem conceitos relativos a pagar contas, trânsito, preocupações. Muito menos ela pode compreender que seus pais gostariam de brincar com ela, de ser amáveis e disponíveis, mas não conseguem, têm suas próprias travas oriundas de sua infância sofrida ou de seus problemas atuais. Uma criança só sabe que seu pai ou sua mãe não estavam emocionalmente disponíveis quando ela precisava deles. Esta é uma memória que se crava na alma e que se manifesta anos depois na vida.

Amor só existe quando é visível, concreto e palpável. Amor tem sabor, cheiro, textura. Amor é um bilhete, uma ligação, uma lembrança, é tempo e espaço, é um doce, um sorriso, uma festa. Uma escolha difícil para um bem maior. Amor é proteção, atenção, cuidado, educação. Amor precisa de humildade, disponibilidade, dedicação. Fora estas condições, sejamos honestos: não há amor. Pode haver uma intenção de amor, um desejo por aquele amor, um sonho guardado no fundo da alma. Mas, fica para outra vida. Nesta e agora, não há amor. Há sim, outros interesses, conflitos e vantagens que têm a preferência, que são mais fortes e importantes na vida da pessoa do que amar. E cortemos por aqui as conversas patéticas sobre “eu te amo...” quando nada comprova esta afirmação.

Amar é empenho, esforço, investimento. Amor custa caro e requer o mesmo trabalho, seja quando se ama um filho como outra pessoa, ou até mesmo um cachorro. Amor exige nossa saída da zona de conforto, sair do ego e suas vantagens. Pode haver simpatia, sonho vago e dourado, mas sem o comportamento apropriado, nada de amor.

A diferença entre o amor entre adultos e aquele de adulto para criança é que no primeiro caso a relação só funciona quando for recíproca, no segundo ela deve partir do adulto. É ele quem estabelece o exemplo, “mostra como se faz”. É assombrosa a quantidade de pais (e também de mães) que não atinam para o fato que filhos precisam ter tido experiência daquele amor que depois eles querem para si. Gerar, parir e sustentar não basta. Precisamos entender o significado da palavra “amor” e, aí sim, saberemos amar na prática.