Amor entre doença e crescimento

Por Adriana Tanese Nogueira

amor
Geovana é uma mulher bonita, que investe muito na sua aparência, mas que também se considera inteligente. Ela gosta de festa, de solidão e de homens. Não é difícil para ela esbarrar num novo relacionamento, que tão alegremente começa como repentinamente termina. Geovana ama e deixa. Se apaixona para em seguida se entediar, ou se amedrontar. Convence-se, então, que não ama mais e sempre tem argumentos convincentes para terminar relações. Geovana tem medo da dependência. Amor, de fato, causa dependência. Mas será a mesma dependência causada pelas drogas? Até pode. Amor é duas coisas: 1. Gratificação imediata do desejo. Encontramos alguém que se encaixa conosco, isto é, com nossas necessidades e carências do momento, portanto nos satisfaz. Estar com essa pessoa é como encontrar alivio e serenidade após prolongada dor. 2. Gratificação imediata do desejo e... crescimento e evolução. Toda relação começa como gratificação imediata de algo, consciente ou inconsciente. Toda relação amorosa provoca bem-estar e ânimo, alivio e esperança. Duas pessoas se encaixam, suas personalidades se sintonizam. Mas toda relação esconde o desejo de ir além. Amor é uma força de transformação. Amor não é só quentinho, aconchegante, seguro como o berço infantil. Amor é também trovoadas e relâmpagos, é chicote e susto. É busca, perda, anseio, labuta. Amor existe para nos fazer crescer, dar saltos, superar nossas (auto)sabotagens, limites e covardia. Amor não é para fracos. Amor seduz. E o faz para nos engajar numa aventura que nos faz superar a nós mesmos. Amor não é para gente egoísta. Amor não é para os medrosos. Amor nos suborna a ir contra os nossos interesses, sendo “nossos” os interesses do ego. E aqui está uma diferença importante. O amor saudável é o da pessoa que se fortalece pelo amor e que se supera. O “amor das mulheres que amam demais” é o amor daquelas mulheres (e homens) que precisam aprender a se amar. Logo o amor pelo outro é para eles o desafio que encontram em seu processo de desenvolvimento para que aprendam a amar a si antes. Agora, há o amor daquelas mulheres (e homens) que, ao amar o outro, amam na verdade os próprios interesses egóicos (limitados, auto-gratificantes). O outro é um meio para eles realizarem seus fins. Esse amor é tão doente quanto o amor de quem se perde na relação. O que dizer da dependência? O amor é uma desfeita do ego. Ego é um complexo psíquico (leia-se Jung) cuja principal função é a se manter íntegro e no controle. Se perder o controle a pessoa está perdida. Mas se ela controlar demais, se fecha em si mesma, numa vida atravancada que não evolui. O ego não ama, só aceita o que lhe convém. O amor nos liga a outra pessoa. Ao fazer isso, o amor desafia os limites e os interesses do ego. Toda mãe sabe disso, e não é muito diferente nas relações amorosas. Uma relação é saudável quando esse desafio é acatado e nos faz crescer como pessoas junto à outra pessoa. E, sim, vamos depender da outra pessoa. Não tem como amarmos alguém e não estarmos nem aí com ela, não sentirmos falta dessa pessoa. Mas não é só “ter” essa pessoa: é tê-la na abertura de ambas ao amor que ambas sentem. Amar nos abre ao outro. Nos abre como uma ferida, que às vezes sangra, outras nos preenche de alegria. Depende de nós, da coragem de nos jogarmos nos braços do Amor. E seja o que o Amor quiser. Ame, Geovana.