Amor troglodita ou a loucura do amor

Por Adriana Tanese Nogueira

Há pessoas que só conhecem o amor troglodita. Elas podem ter doutorado e ser executivas, ser muito sociáveis e ter dinheiro no banco, mas isso nada tem a ver com a forma como amam. O amor troglodita é aquele que, entre outras tristezas, promove “brigas preventivas” e preenche os espaços da relação de fantasmas imaginários e argumentos fictícios toda vez que uma potencial ameaça surge no horizonte.

No amor saudável se espera um relacionamento feito de afeto e carinho, com algumas brigas de vez em quando. Estas brigas variam de, digamos, civilizadas a irracionais, motivadas por ciúmes, insegurança, controle do outro, enfim, uma série de fatores. Mas, há mais.

O amor troglodita fomenta brigas por razões imaginárias. A pessoa, homem ou mulher, fantasia e ataca o outro. Quando este tenta explicar que aquilo é fantasia, a pessoa então muda a acusação. Ou seja, você desmascara um argumento, a pessoa arranja outro, outra fantasia. Mudando o foco da briga, começa uma nova sequência de ataques. Quando a pessoa se vê sem saída, altera sua atitude, faz-se de ofendida, magoada, “desrespeitada”. Ou seja, quer te faz sentir em culpa. Enlouquecedor, não é? E totalmente real.

O amor troglodita é tão vítima de si mesmo quanto é carrasco. A pessoa em questão é extremamente hábil em manipular todas as suas relações. Ela tem raciocínio rápido e resposta pronta, os erros são dificilmente reconhecidos. É praticamente impossível discutir com uma pessoa dessas de forma lógica e racional.

O que fazer?

Primeiro, compreender. Tecnicamente, as características expostas acima refletem como acontece uma relação amorosa com um dependente químico, ou seja, alguém viciado em álcool ou drogas. Mas, quem cresceu em meio a pais alcoólicos, acaba do mesmo jeito. O vício é emocional.

A pessoa do amor troglodita é tomada por “algo” que a domina e busca pretextos externos para explodir. Quando um não funciona, passa para outro, não importando o conteúdo específico do problema levantado ou da situação apontada. O “manobrista” desse teatro está no inconsciente e a pessoa, convenientemente, evita tomar consciência. Toda desculpa é boa para desviar a atenção de si e colocá-la no outro. O dedo está sempre apontado para o outro, para atacá-lo ou para acusá-lo de estar atacando.

Há um marasmo de elementos que atuam e se perpetuam graças à manutenção da inconsciência. Este “manobrista” interior busca as brechas todas as vezes que acumula uma tensão interna que precisa descarregar. Projetando para fora de si os próprios fantasmas, os “gruda” no outro e, assim, mantém-se cego de si mesmo. Estas válvulas de escape são periodicamente necessárias.

Segundo, agir. Quando a conversa democrática e racional não funciona, é preciso mudar de tática. A única possibilidade que se tem é de alguma forma tomar o touro pelos cornos ou, melhor seria dizer, pelos testículos. Desta forma, imobiliza-no. Isto, na prática, significa agir de forma a solapar as bases da discussão assumindo atitudes concretas que coloquem a pessoa contra a parede. Com esse golpe, visa-se espremer alguma verdade. Assim fazendo, estamos nós também encarando a nossa verdade.

Uma mudança é indispensável. Se a pessoa não está disposta a mudar, a procurar ajuda e terapia, se sua única forma de amor é a troglodita, então nos cabe perguntarmos se queremos permanecer no tempo das cavernas ou passar a um estágio mais avançado da evolução humana. E este passo é somente nosso - mesmo amando a outra pessoa e pelo seu bem.

O amor troglodita vive e prospera graças à conivência e cumplicidade de quem aceita baixa sua cabeça. Se essa não é a solução para você, então é você que precisa de ajuda.