Ansiedade causada pela gestação pode ser amenizada

Por Ivani Manzo

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A gestação é um período especial, com certeza, mas não para todas as gestantes. Trabalho com gestação e exercícios desde 1998 e tenho acompanhado muitas mamães que não compartilham dessa “maravilha” propagada pela sociedade. Muitas mulheres sofrem muito, seja pelos processos de transformação do corpo, da mente e do comportamento, seja pela pressão que a sociedade impõe.

É esperado que a futura mamãe esteja feliz, aceitando tudo com muita naturalidade, afinal, a mulher nasceu para ser mãe! Será? Todas as mulheres são iguais com relação à maternidade? Claro que não. Existem muitos fatores que podem influenciar o bem-estar materno, e consequentemente, fetal. Antigamente, a estrutura familiar era muito diferente. Isso não é uma crítica, e sim uma constatação. Antes, as mulheres conviviam entre elas e acompanhavam as mais velhas que tinham filhos. Então, as meninas mesmo antes da idade de ter filhos sabiam o que era ter um bebê. Sabiam o número de horas que uma mãe passa nos cuidados com o filho, o número de fraldas que devem ser trocadas, o que é amamentar e, claro, sabiam também o que acontecia com a mulher durante a gestação. Todas as alterações eram compartilhadas. O resultado dessa convivência era conhecimento. Sim, a mulher já sabia o que significava ser mãe.

Hoje, a maioria de nós não tem mais essa convivência e não escutamos mais palavras aconchegantes e que diminuem o medo e a ansiedade. Simplesmente, ouvir de sua mãe, avó ou tia que está tudo bem e que é assim mesmo, trazia esse aconchego.

A maioria das mulheres que engravidam hoje tem apenas o médico obstetra como conselheiro, e nem sempre há uma afinidade ou mesmo tempo para isso. A necessidade de entender, conversar e trocar experiências tem levado ao aparecimento ou reaparecimento das doulas, profissionais que acompanham a gestante desde o início da gestação até o período pós-parto, incluindo o parto, muitas vezes. As doulas trazem à gestante o apoio e informações necessárias para que a ansiedade e os medos possam ser diminuídos.

Um artigo de revisão publicado na Cochrane Library 1 analisou os efeitos de terapias cognitivas sobre a ansiedade materna. Os autores concluem que há uma evidência, mas não uma forte correlação entre as terapias cognitivas e a diminuição da ansiedade durante a gestação. Eles ainda alegam que essa conclusão não pode ser mais evidente por falta de dados a serem analisados. Mas, o mais incrível é que foram analisados artigos publicados desde 1950 até 2010. Ou seja, 60 anos! Em 60 anos a comunidade científica não colheu dados suficientes para uma forte conclusão de como amenizar a ansiedade da mulher gestante. Ops! Falha nossa! Todos os seres humanos são fruto de uma gestação, isso quer dizer que todos sofremos as consequências desse período, boas ou más. Isso já não seria motivo suficiente para levarmos mais à sério esses estudos? Ou será que toda mulher é igual e nasceu para ser mãe?

1 Cochrane Library database of Systematic Reviews. Mind-body interventions during pregnancy for preventing or treating women’s anxiety. sabelle Marc, Narimane Toureche, Edzard Ernst, Ellen D Hodnett, Claudine Blanchet, Sylvie Dodin, Merlin M Njoya.