APEGO: Por que nos apegamos a relações que não prestam? - Viver Bem

Por Gazeta News

Apego é algo que todos conhecemos. Há quem está apegado ao futebol e o outro à namorada. Há quem está pendurado na garrafa e o outro no corpo perfeito. Apegar-se define uma parte importante de nossa personalidade e de nossos valores. Diz respeito a nossa visão de mundo e a como nos sentimos nele. Com frequência, fala também das distorções da personalidade, do medo, dos traumas, das inseguranças que criamos nesta ou em outras vidas. Vejamos algumas dessas situações. Você está apegada a um(a) namorado(a) que já a/o fez sofrer muito e que demonstrou que não quer ou não tem condições de mudar. Você está consciente e, entretanto, não consegue se desvencilhar dele(a). O que é isso? Pode haver muitos elementos aí, vou fazer uma lista para ficar mais claro: 1. O relacionamento é patológico, ou seja, machuca no lugar de fazer bem, e a “patologia” é nutrida por vocês dois. Você é tão problemático(a) quanto ele(a). Se cuide. 2. O relacionamento não é bom, mas você se acha superior e continua nele. Este é bem comum entre homens. Ela é a manipuladora e se acha muito racional, você é esperta, mas não sabe enxergar o jogo sutil do feminino perverso, que te faz de bobo. Nesse caso, quem é ludibriado continua na relação porque está apegado a sua própria problemática psicológica, não ao outro. 3. O relacionamento é ruim, porém você sente dó do outro. Ele(a) te prejudica, mas você “sabe que no fundo” ele(a) sofre, está com problemas e etc. Novamente, você está com um grande assunto pessoal para tratar: seu maternalismo/paternalismo, sob o qual se esconde provavelmente alguma outra coisa, como medo, baixa autoestima, necessidade de sentir-se um herói/heroína, etc. 4. O relacionamento parece ser a única opção de relação: a pessoa prejudicada tem medo de ficar sozinha, não consegue enxergar-se num futuro diferente. Novamente, o que está por trás disso é baixa autoestima: a pessoa não confia em si e na vida. Fica com o ruim por medo do pior. É uma visão bem negativa da vida e do próprio potencial para criar algo de bom para si mesma. 5. Você está num relacionamento que faz mal e continua nele: pode ser que simplesmente ame a pessoa! Como pode haver um amor que nos prejudique dessa forma? Porque se peca de onipotência. Seu/sua namorado(a) está se comportando pessimamente e você não consegue se afastar. Você o/a ama, mas... está pagando um preço caro demais. Sua vida está passando sob seus olhos, seu trabalho está sendo prejudicado, você está sempre mais sendo sugado pela relação... Que amor é esse? Amor de mão única não funciona: é preciso aceitar essa simples e triste verdade. Você pode até sentir em algum nível que a pessoa lhe ame, mas seu comportamento trai essa verdade. Ela não age como quem ama e você persiste por que? Por todas as razões acima e mais uma: o sentimento de onipotência que diz que você pode mudá-la! Você acha que vai ser a/o salvador/salvadora da pátria. Bobagens: a gente não salva ninguém; sequer pode ajudar quem não quer ser ajudado. 6. Enfim, uma última possibilidade. Se o amor persiste, apesar de nossos melhores esforços para erradicá-lo, se fizemos nosso dever de casa (a análise honesta e aprofundada acima) e continuamos vinculados, então pode estar ocorrendo algo mais: essa é uma relação de outra vida. Pode ter havido uma (ou mais) outra vida onde vocês tenham sido felizes e vivido muito tempo junto, o que gerou uma recordação a nível de amor que gera o apego. Acontece, porém, que dessa vez seu/sua namorado(a) está em péssimas condições psicológicas. Enquanto sua alma está apegada a uma memória, seu eu diz: ‘que porcaria de relação é essa? Eu não a quero’. Porém, até que não se compreender em qual nível de si mesmos ocorre o apego, o nó não pode ser desatado.

Apegos falam da gente. Assim como nos apegamos ao bolo da mamãe porque eles nos traz recordações da infância, de aconchego, paz e segurança, da mesma forma acabamos descobrindo apegos em nós que têm uma origem, só não sabemos qual é. Entender os apegos do passado nos ajuda a suavizar e até soltar os presentes.

É minha convicção que o amor é eterno. Entretanto, amar não significa necessariamente viver junto, se misturar um com o outro. Amar também não quer dizer que seu amor vai ser suficiente para libertar o outro das maluquices nas quais se enfiou nessa vida, sejam elas drogas, estupidez, confusão, mente e coração fechados. A você, que está consciente de um apego que restringe seus movimentos e sua vida, resta a obrigação de compreender o que significa isso tudo e trabalhar sua própria evolução pessoal.

Uma vez que cada um lida honestamente com suas próprias questões internas, o amor que sobra é verdadeiro. Mesmo assim, não implica que poderá ser vivenciado porque é preciso ser dois para fazer uma relação. Não só de nossas ações, pensamentos e sentimentos temos que assumir as consequências, mas também das ações, pensamentos e sentimentos do outro. Gostemos ou não.

*Adriana Tanese Nogueira www.ATNHumanize.com