Por que nos apegamos a relações que não prestam? - Viver Bem

Por Adriana Tanese Nogueira

apegado

Apego é algo que todos conhecemos. Há quem está apegado ao futebol e outro à namorada. Há quem está pendurado na garrafa e o outro no corpo perfeito. Apegar-se define uma parte importante de nossa personalidade e de nossos valores. Diz respeito a nossa visão de mundo e a como nos sentimos nele. Com frequência, fala também das distorções da personalidade, do medo, dos traumas, das inseguranças que criamos nesta ou em outras vidas. Vejamos algumas dessas situações.

Você está apegada(o) a um(a) namorado(a) que já a(o) fez sofrer muito e que demonstrou que não quer ou não tem condições de mudar. Você está consciente e, entretanto, não consegue se desvencilhar dele(a). O que é isso? Pode haver muitos elementos aí, vou listá-los a seguir:

1. O relacionamento é patológico, ou seja, machuca no lugar de fazer bem, e a “patologia” é nutrida por vocês dois. Você é tão problemática(o) quanto ele(a). Se cuide.

2. O relacionamento não é bom, mas você se acha superior e continua nele. Este é bem comum entre homens. Ela é a manipuladora e ele se acha muito racional e esperto, mas não enxerga o jogo sutil do feminino negativo, que o faz de bobo. Nesse caso, quem é ludibriado continua na relação porque está apegado a sua própria problemática psicológica, não ao outro.

3. O relacionamento é ruim, porém você sente dó do outro. Ele(a) te prejudica, mas você “sabe que no fundo” ele(a) sofre, está com problemas e blábláblá. Novamente, você está com um grande assunto pessoal para tratar: seu maternalismo/paternalismo, sob o qual se esconde provavelmente alguma outra coisa, como medo, baixa autoestima, necessidade de sentir-se um(a) herói/heroína, etc.

4. O relacionamento parece ser a única opção: a pessoa prejudicada tem medo de ficar sozinha, não consegue enxergar-se tendo uma vida diferente. Novamente, o que está por trás disso é baixa autoestima: a pessoa não confia em si. Fica com o ruim por medo do pior. É uma visão bem negativa da vida e do próprio potencial, é dar-se por derrotado antes mesmo de tentar.

5. Você está num relacionamento que faz mal e continua nele: pode ser que simplesmente ame a pessoa! Mas como pode haver um amor que nos prejudique dessa forma? Porque se peca de onipotência. Seu/sua namorado(a) está se comportando pessimamente e você não consegue se afastar. Você o(a) ama, mas... está pagando um preço caro demais. Sua vida está passando sob seus olhos, sua situação emocional está interferindo no trabalho, você está sempre mais sendo sugado pela relação... Que amor é esse? Amor de mão única não funciona: é preciso aceitar essa simples e triste verdade. Você pode até sentir em algum nível que a pessoa lhe ama, mas seu comportamento trai essa percepção. Ela não age como quem ama e você persiste porque...? Por todas as razões acima mais uma: o sentimento de onipotência que diz que você pode mudá-lo! Você acha que vai ser o(a) salvador da pátria. Bobagens: a gente não salva ninguém. Muito menos pode ajudar quem não quer ser ajudado. 6. Enfim, uma última possibilidade. Se o amor persiste apesar de nossos melhores esforços para erradicá-lo da gente, se fizemos nosso dever de casa (a análise honesta e aprofundada acima) e continuamos vinculados, então pode estar ocorrendo algo mais: essa é uma relação de outra vida. Pode ter havido uma (ou mais) outra vida onde vocês tenham sido felizes e vivido muito tempo junto (ou foram carrasco e vítima e estão ainda amarrados na problemática), o que gerou uma recordação que gera o apego. Acontece, porém, que dessa vez seu/sua namorado(a) está em péssimas condições psicoespirituais. Enquanto sua alma está apegada a uma memória, seu eu diz: ‘que porcaria de relação é essa? Eu não a quero’. Porém, até que não se compreenda em qual nível de si mesmo ocorre o apego, o nó não será desatado.

Apegos falam da gente. Assim como nos apegamos ao bolo da mamãe porque ele nos traz recordações boas da infância, assim descobrimos apegos dos quais desconhecemos sua origem. Entender os apegos do passado nos ajuda a suavizar e até soltar as amarras do presente.

É minha convicção que o amor é eterno. Entretanto, amar não significa necessariamente viver junto, se misturar e mergulhar na problemática do outro. Amar também não quer dizer que seu amor vai ser suficiente para libertar o outro das maluquices nas quais ele enfiou nessa vida. A você que está consciente de um apego que restringe seus movimentos e sua vida resta a obrigação de compreender o que está acontecendo e trabalhar sua própria evolução pessoal.

Uma vez que cada um lida honestamente com suas próprias questões internas, o amor que sobra é verdadeiro. Mesmo assim, pode não funcionar porque é preciso de dois para fazer uma relação. Não só de nossas ações, pensamentos e sentimentos temos que assumir as consequências, mas também das ações, pensamentos e sentimentos do outro. Gostemos ou não.

*Adriana Tanese Nogueira é psicanalista e life coach www.ATNHumanize.com