Apesar das aparências, os imigrantes ilegais não estão sozinhos

Por Gazeta Admininstrator

Como diz a sábia letra de Lulu santos em “Assim caminha a humanidade”, o processo que fatalmente levará à ampla legalização da maioria dos imigrantes indocumentados que vivem nos Estados Unidos, caminha para frente, ainda que “a passo de formiga e sem vontade”.
Parece uma ironia afirmar isso num momento em que a única coisa que se ouve no meio da comunidade brasileira, especialmente aquela que vive no limbo da ilegalidade, é lamentação, desânimo quando não, desespero ou aviso de mudança.
Se os tempos são reconhecidamente difíceis numa economia que não dá sinais de recuperação, e o quadro para os imigrantes indocumentados é dos menos animadores em décadas, há, insistimos, razões para acreditar que a “luz no fim do túnel”, que antes brilhava intensamente e agora parece muito, mas muito diáfana mesmo, se mantém acesa.
Para combater o desânimo e o desesperança (sentimentos que não ajudam em nada e só sedimentam a sensação de derrota), é importante prestar atenção no que acontece paralelamente e em diversos níveis da luta em favor dos ilegais.
A semana começou, por exemplo, com uma pequena mas significativa vitória para os ilegais. Graças a uma liminar obtida na Justiça pela poderosa e altamente representativa American Federation of Labor and Congress of Industrial Organizations (AFL-CIO), que representa 10 milhões de trabalhadores nos EUA, a administração do Social Security não poderá enviar cartas aos empregadores de todo o país, alertando para as punições a quem conscientemente empregue trabalhadores indocumentados.
A moção concedida pela Justiça norte-americana à AFL-CIO tem um duplo significado. Primeiro por estancar, de fato, ainda que provisoriamente, um dos mais poderosos instrumentos de pressão contra os indocumentados. Como já vem acontecendo em larga escala, empregadores que se valiam da mão de obra imigrante (legal ou ilegal) estão deixando de contratar esses trabalhadores, temendo pesadas multas e até mesmo cadeia.
E não apenas os indocumentados são atingidos. Como se espalha a concepção de que está cada vez mais fácil obter documentos falsos, empregadores que não querem se dar ao trabalho de checar os documentos de qualquer imigrante que se apresenta às ofertas de trabalho, acabam negando oportunidade a todo e qualquer imigrante.
O outro significado, mais simbólico, é representado pelo fato da AFL-CIO ser uma espécie de “Central Sindical” agregando centenas de “Unions” de todo o país. Ora, normalmente quando se colocam na mesa as partes conflitantes na questão da imigração, sempre se imagina que os sindicatos laborais norte-americanos seriam os inimigos “número 1” tanto dos ilegais quanto dos empregadores de ilegais.
A lógica que parece tão claramente lógica, mostra que há muito mais mistérios e implicações na questão imigratória norte-americana do que é mostrado nos cada vez mais ferozes e anti-imigrantes programas da TV e discursos de políticos de extrema direita.
Se há, como dizem alguns desses âncoras de TV e políticos, um prejuízo ao trabalhador norte-americano causado pela mão-de-obra realmente mais barata, representada pelos imigrantes indocumentados, porque estariam se rebelando contra a fiscalização do Social security, justamente os sindicatos representados pela poderosa AFL-CIO?
Será que os argumentos de que os imigrantes ilegais estariam tirando empregos dos norte-americanos procedem realmente? Ou tudo não passa de uma eterna jogada de marketing político (dos mais desumanos e rasteiros) tentando vilanizar os imigrantes indocumentados e os imigrantes em geral, “por tabela”.
O importante é se ligar nos fatos positivos e não parar de lutar pela legali-zação dos indocumentados. Perdeu-se algumas batalhas recentes. De fato, batalhas importantes. Mas a guerra está muito longe de ser perdida e a lógica da História e da Economia apontam para uma solução muito mais feliz para os imigrantes do que se poderia sonhar num momento onde, realmente, a frustração e o desânimo se instalam com muito mais força do que a esperança e a fé.