As consequências de uma lei como a do Arizona - Editorial

Por Marisa Arruda Barbosa

thumb

Uma importante decisão da Suprema Corte pode estar “mudando a maré” em favor dos imigrantes, como opinaram alguns, depois do anúncio sobre a lei SB1070, no dia 25, cujos detalhes podem ser vistos na página 28 desta edição.

Enquanto advogados e autoridades ligadas a imigrantes estão confusos sobre o significado dessa lei, muitos especulam que outros estados, em vez de aceitar que quem manda é o governo federal quando se trata de imigração, poderão usar uma brecha dessa decisão da Suprema Corte, e também passar uma lei similar, que permite que policiais locais peçam para ver a situação imigratória em uma parada de trânsito. A sessão 2B da lei é a única que não foi bloqueada pela decisão.

No entanto, o que muitos especulam, é que isso é inviável. Pois ao tentar solucionar um problema – de imigração ilegal -, estados estarão criando um ainda maior, que é fazer com que a população perca a confiança, que já é frágil, nas autoridades locais, além das consequências econômicas e à reputação dos que apoiam isso.

Legisladores e outras autoridades em todo o país têm observado os custos que medidas de imigração radicais tem trazido ao Arizona, Alabama e Geórgia. Um estudo realizado pela Universidade do Alabama estima que cerca de 80 mil imigrantes não autorizados deixaram o estado, eliminando um adicional de 60 mil postos de trabalho, trazendo um prejuízo de $260 milhões de dólares em receitas fiscais. Mais da metade dos agricultores e metade dos donos de restaurantes na Geórgia relataram ter escassez de mão de obra este ano. Produtores de todo o sudeste estão plantando menos acres e evitando colheitas que demandem muitos trabalhadores.

Um estudo do Public Policy Institute of California sugere que o Arizona perdeu 17% de sua força de trabalho não autorizada desde 2010. Outra estimativa sugere que mais de um terço desses trabalhadores deixaram o estado desde essa época, segundo o “Los Angeles Times”.

Um dos maiores problemas que investigadores enfrentam nas comunidades imigrantes é conquistar a confiança de vítimas que sejam imigrantes indocumentados para solucionar crimes, como poderão ver em matéria sobre a aula do Brazilian Citizens Academy, na página 23 desta edição. De acordo com o sargento Ramon Perez, imigrantes indocumentados preferem se calar como vítimas a serem colocados em risco de deportação. No entanto, segundo ele, investigadores não tem nenhum interesse na situação imigratória da vítima, e sim em solucionar crimes. Para proteger imigrantes indocumentados vítimas de crimes, o governo dispõe de um visto especial, para casos especiais, chamado U-Visa.

Ou seja, caso estados decidam passar uma lei similar a essa, colocariam a perder esforços como o do Broward Sheriff’s Office com o Brazilian Citizens Academy, e de autoridades locais de todo o país, que desejam diminuir a criminalidade mediante parcerias com a população.

Além disso, em estados como a Flórida, que tentam se reerguer economicamente através do turismo, com esforços federais para aumentar o número de vistos concedidos a turistas, principalmente brasileiros, a implementação de tal medida acabaria com esses esforços, pois turistas teriam medo de acabar acidentalmente presos durante suas férias.

Que essa decisão da Suprema Corte, juntamente com a medida aprovada pelo presidente Barack Obama - de parar a deportação de jovens imigrantes -, sejam um marco em questão de imigração, não há dúvidas. Só basta esperar se a maré será realmente a favor ou contra os indocumentados, à espera de uma reforma imigratória.