As dores do crescimento

Por Gazeta Admininstrator

A comunidade brasileira nos Estados Unidos está vivendo, desde o início do novo milênio, em 2001, uma fase de contínuo crescimento populacional e a afirmação de que já somos cerca de 1,5 milhão vivendo nos Estados Unidos é um número oficialmente estimado por entidades do mais alto respeito e credibilidade como o Itamaraty (Ministério das Relações Exteriores do Brasil) e a Secretaria de Estado dos Estados Unidos.

Esse crescimento é tão palpável, óbvio, que os olhos e atenções de prefeitos, vereadores (Comissioners), Managers de condados e até senadores estaduais já procuram formas de capitalizar (política e econômicamente) em cima de uma comunidade que está começando a deixar de ser “periférica e residual”, como algumas vezes já fomos identificados, até pejorativamente.

Crescimento é uma via de mão dupla. Tem seus “ups” e certamente seus “downs”. Durante quase duas décadas os imigrantes brasileiros foram, a contra-gosto, “ajeitados” pela sociedade norte-americana na mesma prateleira dos latinos em geral e – erro ainda maior – dos Hispânicos.

Eu mesmo, em meados dos anos 90, como editor de jornais e revistas, confesso ter me deixado iludir pela idéia de que, por não sermos grandes ou fortes o suficiente, seria lógico e natural que “aceitássemos” os rótulos “latino” ou “hispânico”, na esperança de que, ajudando a “engrossar as fileiras” da crescente população latino-hispânica nos Estados Unidos, receberíamos de volta algum quinhão de poder e representatividade.

Ledo e ivo engano, amigos.
Hoje percebemos que aquela visão estava radicalmente errada. Era acanhada, subestimava a nossa própria capacidade de gerar o nosso próprio espaço, nosso reconhecimento e nossa representatividade.
Não que tenhamos absolutamente nada contra os irmãos latino-hispânicos, mas porque a realidade dos fatos, da nossa identidade, das nossas particularidades culturais, do nosso jeito de ser e viver, impõem uma diferenciação que deve ser exibida com orgulho e inteligência por cada um de nós, brasileiros, que vivemos nos Estados Unidos. Diga-se de passagem legais ou ilegais, todos devemos exibir sem medo e sem “acanhamento” nosso orgulho de sermos brasileiros.

Falava do crescimento. Da via dupla e das “dores” que esse mesmo crescimento impõe.
Uma das coisas que nós, brasileiros – a grande maioria que tem moral e sempre sonhou com um país que respeite as leis e tenha regras claras de convivência social – estávamos fartos no Brasil, era a “picaretagem nossa de cada dia”.

Aquela turminha de brasileiros filhos legítimos da “Lei do Gérson” que aporta aqui disposta a ser dar bem de qualquer maneira e que por não ter nenhuma condição de competir e vencer “by the book”, pelos caminhos da honestidade e do trabalho incansável, parte para lesar a própria comunidade.

Oportunistas, picaretas, ladrões, existem em todas as ração, culturas, países enfim. Mas os “armadores e 171” da comunidade brasileira estão cada vez mais com seus dias contados. Episódios recentes tem apenas demonstrado que a consciência coletiva de nossa comunidade, em Boston e Broward, em Newark e Atlanta, em New York e Los Angeles, está cada vez mais forte, cada vez mais na briga por afastar as “aves de rapina” que tão logo perpetram seus golpes, saem correndo para o “refúgio Brasil”.

É uma ironia. Nos anos 40 e 50, os filmes de gangster de Hollywood mostravam o Brasil como o “esconderijo predileto” dos ladrões, (maus) aventureiros e picaretas de toda ordem. Nos anos 80 e 90, a imprensa brasileira adorava “pintar” Miami como o “esconderijo predileto” dos sonegadores de impostos e criminosos de colarinho branco brasileiros. Agora já na metade da primeira década do terceiro milênio, a gente assiste com certa ironia, que o Brasil volta a ser o “esconderijo predileto” de quem lesa, rouba e usa a comunidade brasileira.

A comunidade está se unindo, denunciando, alertando e mostrando maturidade.
A imprensa responsável denuncia, de norte a sul do país, o comportamento lesivo de qualquer brasileiro que cometa crimes de qualquer espécie e, ainda mais revoltante, crimes contra sua própria comunidade.

Por outro lado, na via de “acesso” à representatividade e união, tantos e tão importantes frutos estão sendo colhidos. Estou em fase de conclusão de uma longa reunião com representantes da mídia brasileira em 12 estados norte-americanos. Uma daquelas turnês que meus amigos colegas identificam como “coisa de louco”.
Minha emoção é muito grande em ver que as comunidades de comunicação em South Florida, Orlando-Tampa, Atlanta, Philadelphia, Newark, Long Branch, New York, Danbury, Boston, Los Angeles, San Diego, San Francisco, Seattle, Las Vegas e Houston estão dando passos significativos em direção a união.

União em torno dos objetivos importantes para a nossa comunidade. União em torno de, lado a lado com a competição natural que é da natureza do capitalismo, buscar representar mais e melhor esse 1,5 milhão de brasileiros que deposita nos nossos meios de comunicação, a confiança de que seja o principal interlocutor de nossas reivindicações e sonhos, como comunidade.

No “balance” da via positiva em contraposição com a via negativa, a comunidade brasileira está claramente ganhado a guerra. Estamos derrubando o muro de segregação que sempre separou os brasileiros legalizados e de boa situação social e financeira, dos imigrantes menos “letrados” e “indocumentados”, mas nem por isso menos brasileiros e menos merecedores dos direitos e defesa.
Estamos chamando a atenção dos poderes norte-americanos para nossa natureza pacífica, trabalhadora e feliz. Para nossa exuberante criatividade e nosso amor ao Brasil.

Esse patriotismo que aqui fora emerge intenso em cada um de nós e que nos faz chorar ao ouvir o Hino Nacional.
Essa certeza de que viemos para marcar nossa presença nessa louquíssima e fantástica “sociedade mundial multi-étnica e cultural” que são os Estados Unidos. E que queremos aqui, contribuir para colocar sabor, inteligência e dignidade brasileira na “salada cultural” norte-americana.