As lágrimas de Diego

Por Gazeta Admininstrator

O ginasta Diego Hypólito não foi o primeiro nem será o último atleta a chorar copiosamente após uma frustração olímpica. Em Pequim, mais do que nunca, estamos sentindo que a pressão pela vitória sobre os atletas é tamanha que faz com que uma participação bri-lhante, comprometida por um erro, uma infelicidade ou simplesmente uma nota baixa dos juízes, detone um vendaval de emoções. Pequim 2008 tem sido um festival de lágrimas dos que não conseguem as medalhas.
As lágrimas de nosso Diego, entretanto, foram mais do que especiais para o povo brasileiro porque, ao contrário de outros atletas de nossa delegação, foram lágrimas de quem sentiu escapar pelas mãos, no último segundo, a inédita e sonhada medalha de ouro na ginástica.
Se a decepção de Hypólito nos parece compreensível e suas lágrimas mais do que naturais em circunstância de tamanho estresse, nos leva inequívocamente a mais uma vez questionar os valores de um evento esportivo que exibe claramente a gana desenfreada pelo primeiro lugar.
Quem tem conhecimento ou ainda se lembra do famoso ditado do Barão de Coubertin, criador dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, que dizia “o importante é competir”?
Essa frase nunca pareceu ser tão mentirosa ou inadequada para os tempos atuais. O tal do “espírito olímpico”, que existiu, por algumas décadas, foi totalmente substituído por uma esquizofrênica busca de supremacia nacional, étnica e cultural, de algumas nações sobre outras.
Assistindo à cobertura pela TV norte-americna, dá para identificar fácilmente o desencanto dos locutores e repórteres norte-americanos com a inevitável derrota para a China no quadro de medalhas. A ponto de terem transformado o gigantesco feito do nadador Michael Phelps no assunto “quase-único” de uma cobertura que, como sempre, é marcada por “patrio-
tadas”, algumas até ridículas.
A “politização” das Olimpíadas é um fato extremamente negativo. A China, que dá um espetáculo magnífico de organização em todos os aspectos, o faz não por amor ao esporte ou à união dos povos, mas claramente para mandar uma mensagem ao mundo: “atenção, senhores, sai de cena os Estados Unidos e entra em cena a China como maior potência do mundo”. Só não enxergou isso quem realmente não quer ou não sabe o que está se passando na geopolítica do planeta.
Essa “politização” compromete tudo. O próprio incentivo para que atletas de nações menos poderosas sejam valorizados e tenham seus feitos adequadamente celebrados. Há muito mais especulação sobre que “atletas-revelação” serão seduzidos pelos dólares e mordomias das grandes nações, do que propriamente sobre os feitos espetaculares de atletas que enfrentam condições muito adversas de preparação.
O Brasil já está no time das grandes nações do mundo. Mas ainda está bem longe de pertencer à elite olímpica. E as razões são diversas, passando pela inexorável corrupção em todos os níveis de nossa sociedade e chegando ao fato de que os atletas dos demais esportes – fora o futebol e automobilismo – não são efetivamente promovidos como deveriam por nossa mídia.
Só quem não tem culpa alguma desse atraso de nosso perfil olímpico são os atletas.
Como Diego, Marta e tantos outros, sobra nos atletas brasileiros – com raras exceções – uma força de vontade e empenho fora do comum. Uma gana de dar ao país a estatura olímpica que todos nós sabemos, temos totais condições de ter.
As lágrimas geradas pela frustração devem ser vistas como um grande sinal de patriotismo e garra. Com certeza vamos chegar lá. Demorando – como sempre – mais do que deveríamos, e também pagando um preço mais alto do que seria necessário, se no meio do caminho entre verbas e atletas não houvessem tantos “intermediários” para minar a nossa estrutura olímpica.
Valeu, Diego. O ouro na ginástica (ainda) não é nosso. Mas sua emoção fica pra gente como uma marca memorável de empenho e garra em nome do nosso Brasil!