As oportunidades da crise

Por Gazeta Admininstrator

Por Letícia Kfuri

A queda no nível de emprego em agosto, anunciada pelo Departamento de Trabalho dos EUA é o indício mais claro, até agora, de que a recessão iniciada há 18 meses no setor imobiliário e as turbulências dos mercados financeiros estão tendo impacto mais amplo na economia real.

Em agosto, foram fechados 4 mil postos de trabalho em todo o País. Apesar disso, ainda parecem existir algumas oportunidades de negócio, mesmo diante do que alguns especialistas já qualificam como uma crise econômica.
Uma crise - afirma o consultor de gestão empresarial, Ernesto Artur Berg, sociólogo e pós-graduado em Administração Pública – quando tratada a tempo, reforça os ‘anticorpos’ da empresa e das pessoas, tornado-as mais atentas e ágeis.

Os momentos de crise também representam oportunidades para refletir sobre as escolhas feitas e reorientar, se necessário, a estratégia de sua empresa, ou a sua estratégia de finanças pessoais.

Quem pretende esperar a crise acabar para agir, muito possivelmente, irá se decepcionar. Ela poderá terminar no ano que vem, ou não. Não depende só de nós. Mas depende de cada um aceitar o desafio de adaptar-se às circunstâncias e dar a volta por cima.

Portanto, a pergunta a fazer neste momento é: “Quais são as oportunidades que esta crise nos traz?”.

No segmento de automóveis, por exemplo, a necessidade de movimentar o mercado tem feito com que alguns bancos se mostrem “mais dispostos a financiar”, afirma Oton Castro, gerente de Vendas da Minascar. “Os requisitos são os mesmos de sempre, mas como os bancos estão precisando fazer negócios, fazem uma certa vista grossa com relação a certas exigências, como por exemplo a renda a ser comprovada e o tempo de moradia”, exemplifica Castro.

Ele observa que, atualmente, algumas pessoas que não teriam possibilidades de financiar um carro, agora encontram mais facilidades. Além disso, explica, há alguns modelos específicos de carros que estão com preços bem abaixo do mercado. “Muitos carros que são, tipicamente, utilizados na construção civil, como caminhonetes e cargo-vans estão muito mais baratos. O preço de uma cargo-van, por exemplo, caiu de 30% a 40%, em comparação aos preços praticados há um ano e meio”, conta.

Castro alerta, no entanto, que existem algumas “ofertas imperdíveis” que podem se transformar em uma dor de cabeça. “Se você compra o carro de uma pessoa que está embarcando para o Brasil no dia seguinte, se tiver algum problema, não tem para quem reclamar. Se for assumir um financiamento de um carro, tem que verificar se pode transferir o financiamento para o seu nome, senão paga e na hora de receber o título do carro, não tem direito. Ou pior, se não transferir e o antigo proprietário tiver algum problema na justiça, será dor de cabeça na certa”, alerta Castro.

Imóveis
Apontado como grande alavanca da crise, o mercado imobiliário tem se mostrado, segundo profissionais do setor, uma excelente oportunidade para quem pretende investir a médio e a longo prazos. “É uma oportunidade porque tem muita gente desesperada que precisa vender para não perder o imóvel, e está praticamente dando as propriedades”, afirma o corretor brasileiro Eraldo da Silva, da Ocean View International Realtor, em Sunny Island, que atua nos mercados de Miami e Broward.

Ele avalia que a tendência é de que os preços caiam ainda mais. “Este ano e o ano que vem são aqueles nos quais está vencendo o prazo de três anos para pagamento apenas dos juros de financiamentos. As prestações agora começam a aumentar muito por causa disso, e esses imóveis são colocados à venda por preços muito baixos. Recentemente vendi um imóvel de um quarto em determinado prédio em North Miami por $190 mil. Agora há apartamentos semelhantes, no mesmo prédio, sendo vendidos por $130 mil”, exemplifica Silva.

Joe Souza, proprietário da MSG Mortgage explica que, para quem busca um imóvel para morar, e não para especular ou investir, uma boa solução é o short sale (venda curta), que consiste na venda de um imóvel financiado por preço abaixo do mercado. Uma vez que o imóvel está alienado ao banco que financiou, é necessário que o financiador autorize a venda abaixo do preço de mercado. “Para quem compra, é importante verificar se, realmente, o preço de short sale está abaixo do mercado. Não compre sem pesquisar, porque senão comprará pelo preço regular de mercado”, alerta Souza. Uma das desvantagens deste tipo de transação é que, em condições normais, não é possível ver o imóvel por dentro, antes de fechar o negócio. “Na verdade, pela porta da frente, não é possível ver o imóvel, a não ser que ele não tenha sido desocupado ainda”, explica.

Segundo Souza, para que um short sale seja um bom negócio para quem compra, é necessário que o imóvel saia entre 20% e 30% abaixo do preço de mercado. “A media mais comum é entre 10% e 30% abaixo do mercado. Se chegar a 40% é um excelente negócio”, conclui Souza.

Volta para Casa
Para o cearense Clóvis Moraes Costa Filho, de 54 anos, o Sivuca, a oportunidade surge em um caminho de volta. Corretor de imóveis durante 30 anos no Brasil, a maior parte do tempo no Rio de Janeiro, ele viveu de 2000 a 2002 aqui na Flórida. Voltou para o Brasil e retornou para os Estados Unidos em 2005. Trabalhou no cable (como instalador de tv a cabo) em Los Angeles e New Orleans, e veio para a Flórida.

- Vim para cá para juntar um capital durante um tempo, e também tinha o sonho de conhecer a América, desenvolver mais os meus conhecimentos. E agora chegou a hora de voltar, e chegou a crise. Nessa crise também quem está saindo está tendo oportunidades. Estou voltando ao Rio de Janeiro e estou com três empreendimentos em lançamento. Estou levando contatos de brasileiros que estão aqui e querem comprar imóveis no Brasil, principalmente os recém-chegados. A finalidade do imigrante, que a gente observa, é vir para cá, juntar um dinheiro e fazer o seu investimento em imóvel no Brasil. E esse aprendizado de como as coisas funcionam por aqui, vai me ajudar muito lá – avalia Sivuca.

Depois de cinco anos nos EUA, Darlan Astorga também decidiu voltar para casa. Ele volta levando fluência nos idiomas inglês e espanhol. “Isso acaba sendo um patrimônio importante para mim. Um dos motivos principais de eu estar indo embora é que a área que gosto de trabalhar, que é programação, está em alta no Brasil”, explica Astorga.

Antes de ir para casa, Astorga terá que vender dois carros. “Ainda não sei como vender, mas o tempo fala mais alto. Sei que vai chegar uma hora em que vou acei-tar um lance e vou ter que vender e, naturalmente, alguém verá nessa compra uma boa oportunidade”, avalia.

Quando decidiu voltar para o Brasil, Sivuca também colocou à venda uma Scooter 2007, com pouco mais de 100 milhas rodadas. No mercado, a moto vale em torno de $2 mil. “Vendi por $1.270. Isso acabou sendo uma oportunidade de negócio para alguém. São uns chegando e outros saindo, e a vida continua”, analisa Sivuca.